terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Como alcançar as promessas de Deus

Objetivo: Mostrar que a confiança no Deus que promete e cumpre é requisito fundamental para alcançarmos o que Ele nos revelou em Sua Palavra.
INTRODUÇÃOÉ possível alcançar as promessas de Deus? A resposta da Palavra de Deus, a esse respeito, é afirmativa. Então, o que devemos fazer? Na lição de hoje, veremos que o cumprimento das promessas divinas tem sua fonte nAquele que promete e cumpre com o que diz (Nm. 23.19). Ao final, mostraremos como algumas personagens bíblicas responderam às promessas de Deus e que lições poderemos tirar para a vida cristã diária.
1. O DEUS QUE PROMETE E CUMPRENão há uma palavra, no Antigo Testamento, para “promessa”, mas isso não quer dizer que essa idéia não exista na Antiga Aliança. As palavras hebraicas “amar” e “dabar” significam, respectivamente, “dizer” e “falar”. No Novo Testamento, o termo grego “angelia”, que se refere a um “anúncio” ou “mensagem”, está inter-relacionado aos termos hebraicos. Esses termos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, mostram que a base da promessa é a revelação de Deus. Ele, conforme nos diz o autor aos Hebreus (Hb. 1.1,2), é um Pai que fala, isto é, que se revela, e, mais especificamente, que nos tem prometido, em Seu Filho, riquezas celestiais (Ef. 2.7). Fora dEle, corremos o risco de ter nossas expectativas, algumas vezes egoístas, frustradas. Sendo assim, tenhamos o devido cuidado de compreender a natureza das promessas divinas e as condições que o próprio Deus estabeleceu em Sua palavra.
2. AS CONDIÇÕES DIVINAS PARA O CUMPRIMENTOConforme estudamos em lições anteriores, algumas promessas de Deus são incondicionais e outras condicionais. Em relação a essas últimas, encontra-se a promessa da vida, que não pode ser desprezada, caso contrário, o final será a morte eterna (Gn. 2.16-17). Mas essa não é a única, já no Antigo Testamento, é possível destacar algumas promessas condicionais: 1) prosperidade se o povo obedecesse a Lei (Js. 1.7-90; e 2) vitória nas batalhas, caso obedecessem aos mandamentos do Senhor (Jz. 7.1-25). No Novo Testamento, que tem mais a ver com a igreja: 1) Deus nos abençoará se seguirmos o caminho da pobreza de espírito, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza e perseguição por causa do amor a Deus (Mt. 5.1-12). 2) se buscarmos os valores atemporais, Deus cuidará das necessidades temporais (Mt. 6.25-34); 3) se nos submetermos a Deus e resistir ao Diabo, teremos vitória sobre o Mal (Tg. 4.7); 4) se valorizarmos as virtudes espirituais, seremos participantes da glória divina (II Pe. 1.3,4); 5) se confessarmos nossos pecados, Ele nos perdoará (I Jo. 1.9) e 6) se pedirmos alguma coisa de acordo com a Sua vontade, Ele nos dará (I Jo. 5.14,15). Por fim, é válido ressaltar ainda que as promessas de Deus se cumprem no tempo devido, de acordo com a Sua soberana vontade (Ec. 3.1,11,17). Em Hebreus 11, está registrada a história de homens e mulheres que somente receberam o que o Senhor lhes havia prometido na eternidade (Hb. 11.35-40).
3. EXEMPLOS DE REAÇÕES ÀS PROMESSAS DIVINASPortanto, diante das promessas de Deus, sejamos cautelosos. Atentemos para alguns exemplos bíblicos que nos servem de instrução. Como Abraão, tenhamos o cuidado para não duvidar quando as circunstâncias se tornarem desfavoráveis (Gn. 16). Que não venhamos a nos queixar durante a jornada como fizeram os hebreus ao longo da peregrinação pelo deserto (Nm. 14). Do mesmo modo que Jó, que não sejamos precipitados em julgar os decretos divinos e Sua soberana vontade (Jo. 42). Como os discípulos, não devemos estar inquietos a respeito do tempo que Deus determinou para o cumprimento de Suas promessas (At. 1.6-8). Aprendamos, pois, a nos encorajarmos, pela Palavra, diante das adversidades da vida, principalmente, das perseguições (I Co. 15; II Co. 4). Que não venhamos a desfalecer por causa da incredulidade daqueles que nada aguardam a respeito das promessas de Deus para o futuro (II Pe. 3.8-9). Não podemos esquecer que o antídoto contra a incredulidade é a busca pela justiça, bondade, fé , amor e paciência, lutando a boa luta da fé (I Tm. 6.11-12), e, em tempo propício, Cristo se manifestará (v. 15).
CONCLUSÃOPara permanecermos, como diz o hino 107 da Harpa, firmes nas promessas do Senhor, precisamos avaliar sua aplicabilidade em nossas vidas. Para tanto, conforme estudamos ao longo deste trimestre, é preciso considerar o contexto imediato, e, mais especificamente, o contexto geral da Escritura. Confirmada a promessa bíblica, devamos confiar no Senhor. Sejamos cuidadosos para não nos deixar levar pelo espírito de incredulidade que predomina o cenário moderno. Lembremos sempre, como bem disse D. L. Moody, que “Deus nunca fez uma promessa que fosse boa de mais para ser verdade”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A promessa de nossa entrada no céu

INTRODUÇÃO
- No encerramento do estudo das principais promessas de Deus para as nossas vidas, falaremos hoje da promessa de nossa entrada no céu, que é o alvo de todo cristão que, ressuscitado com Cristo, busca e pensa nas coisas que são de cima (Cl.3:1,2).
- Se a nossa esperança é a volta de Cristo, como vimos na lição anterior, tal esperança se completa com a perspectiva de habitarmos eternamente na dimensão espiritual, assim como o Senhor, dimensão esta que as Escrituras denominam de “céu”, pois seremos semelhantes a Ele e assim como é O veremos (I Jo.3:2).
I - AS CARACTERÍSTICAS DA PROMESSA DE NOSSA ENTRADA NO CÉU
Colaboração/Gráfico: Enomir Santos
- Um irmão conhecido nosso, que já tem 95 anos de idade e 70 anos de fé, sempre nos encoraja ao nos dizer que aceitou a Jesus para morar no céu e que permanece com o mesmo desejo até o presente. Que exemplo de vida espiritual a ser seguido. Como afirma o poeta e missionário Samuel Nystrom, o cântico de todo cristão deve ser “Aleluia, para o céu vou caminhando, nada me desanimará. Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará” (coro do hino 332 da Harpa Cristã).
- Esta convicção que encontramos tão vívida no ancião de 95 anos ou no missionário de saudosa memória, era também a esperança do apóstolo Paulo que, mesmo preso, consolava e concitava os irmãos de Filipos a se regozijar no Senhor e dizia que as dificuldades pelas quais estava passando, por causa do Evangelho, não lhe retiravam a alegria, porque seu alvo era atingir o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, a nossa cidade, que, dizia ele, estava nos céus (Fp.3:14,20), esperança esta repetida pelo escritor aos hebreus, para o qual os heróis da fé, já no passado, buscavam uma pátria melhor, a pátria celestial, uma cidade por eles preparada pelo próprio Deus e destinada não só a eles, mas também a nós (Hb.11:14-16,40).
- Tal convicção apresentada pelos nossos irmãos é resultado da fé que possuem na Palavra de Deus. Com efeito, não temos como deixar de considerar que a promessa de que nos espera o céu é uma das mais lindas promessas feitas pelo próprio Senhor Jesus aos Seus discípulos. Quando das Suas últimas instruções, como nos narra o evangelista João, o Senhor foi taxativo, claro e objetivo, ao afirmar que nos levaria para o céu.
- Em Jo.14:1-3, Jesus prometeu nos levar para o céu. Após ter, mais uma vez, dito que seria preso e morto e lhes ter dado o novo mandamento, o mandamento do amor (Jo.13:34) e, ante a notícia, percebido o entristecimento dos discípulos, o Senhor anunciou a promessa de nossa entrada no céu.
- Jesus afirmou que na casa do Seu Pai havia muitas moradas e temos, então, uma das mais precisas definições a respeito do que é o céu. O céu é a habitação de Deus, o lugar onde Deus habita, onde Deus mora (Dt.26:15; I Rs.8:30,39,49; II Cr.6:21,30,33,39; Is.63:15). Evidentemente, que Deus é onipresente e que, portanto, Ele está em todo o lugar, ao mesmo tempo, não havendo um local específico onde esteja (daí porque ter o sábio Salomão ter dito que nem os céus nem mesmo os céus dos céus podem conter o Senhor - II Cr.2:6), mas há uma dimensão, há um lugar onde Deus habita, onde está o assento de Sua habitação, isto é, um lugar onde a presença do Senhor é toda especial, onde o Senhor Se apresenta como um íntimo companheiro, um Ser extremamente próximo, onde se percebe toda a Sua glória, onde há uma intimidade, onde é possível desfrutar da Sua privacidade, da Sua comunhão. Este lugar é o céu, onde Deus habita e onde habitará com o Seu povo (Ap.21:3).
- O céu é a morada de Deus, ou seja, o local onde o Senhor está presente na plenitude de Sua glória, um local “fixado”, “estabelecido” (sendo este o significado da palavra hebraica “makown”- מכוז, que é traduzida por “assento”) para que Ele Se revele tal como Ele é e não apenas pela expressão da Suas obras, como o que ocorre com o Universo (Rm.1:20); não apenas pela expressão de Seu caráter, seja por intermédio da consciência no homem, seja através da lei (Rm.2:2:14,15,17,18); não apenas pelo Filho, a expressa imagem da Sua pessoa (Hb.1:1-3), que habitou entre nós, fazendo-Se carne (Jo.1:14).
- Jesus afirmou que o céu, a casa do Seu Pai, era um lugar de muitas moradas, ali existentes desde antes da fundação do mundo, moradas estas, porém, que não poderiam ser ocupadas pelos homens, em virtude do pecado. Feito para habitar com o seu Criador, o homem foi posto no Éden, que se situava na terra, mas pecou, não podendo mais conviver com o Senhor. Entretanto, Deus, na Sua misericórdia e bondade, prometeu a este homem fracassado que seria restabelecida a amizade com Deus, que haveria a salvação e esta salvação traria, por paradoxal que possa parecer (pois Deus escolheu as coisas que não são para aniquilar as que são - I Co.1:28), um aperfeiçoamento, pois, em vez de morar na terra que foi amaldiçoada por causa do pecado (Gn.3:17), o ser humano receberia algo melhor, a possibilidade de morar no céu, na cidade celestial (Fp.3:20,21; Hb.11:40).
- Apesar de no céu haver moradas, não havia lugar para o homem. A existência das moradas não significava a existência de lugar para o homem. Quantas casas há, por exemplo, no Brasil, um dos países onde há um dos maiores déficits habitacionais do mundo, e, mesmo assim, são aos milhões os “sem-teto”? Isto ocorre porque, embora haja moradas, casas desocupadas, as pessoas “sem-teto” não podem entrar nestas habitações, porque não pagaram o preço de sua aquisição, porque não têm condições para adquirir as propriedades. Há, pois, moradas, mas não há lugar para estas pessoas.
- Assim era a situação do homem antes que Jesus providenciasse lugar para nós no céu: havia, na casa do Pai, morada, mas não havia lugar. O homem, dominado pelo pecado, não tinha como conviver com seu Criador, não tinha como adquirir o direito de habitar com Deus, mas condenado estava a viver eternamente separado dEle. Apesar das muitas moradas existentes no céu, para o homem não havia lugar.
- Entretanto, Jesus prometeu que nos iria preparar lugar (Jo.14:2). Prometeu e cumpriu. Aleluia! Ao morrer por nós na cruz do Calvário, ao pagar o preço da redenção de nossas almas, o Senhor Jesus conquistou lugar para nós na casa de Seu Pai. Mediante o Seu sangue vertido por nós, pelos nossos pecados, podemos, agora, entrar na cidade santa, na habitação de Deus, no céu. Por isso, só os que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro têm o direito de entrar na cidade pelas portas (Ap.22:14).
- A promessa de Jesus foi clara: se Ele nos preparasse lugar, voltaria para nos buscar e nos levaria para Ele mesmo para que onde Ele estivesse, nós estivéssemos também. Ora, Jesus morreu e ressuscitou e subiu ao céu, assentando-Se à direita do Pai (Mc.16:19; At.1:9; 7:56), de modo que não temos porque duvidar que Ele voltará a fim de nos levar para onde Ele já está, ou seja, no céu, à direita do Pai, como, aliás, reafirmou quando Se apresentou vitorioso ao apóstolo João na ilha de Patmos (Ap.3:21).
- A promessa de entrada no céu é uma promessa dirigida ao povo de Deus. Somente entrarão no céu aqueles que creram em Jesus como o Salvador do mundo. Isto fica evidente pelo fato de Jesus ter feito a promessa apenas para os Seus discípulos, bem como pelo fato de que somente os salvos, aqueles que tiverem suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro, poderem entrar na cidade santa pelas portas. É uma promessa para os salvos, salvos estes que não abrangem apenas a Igreja, mas também, como é claro o escritor aos hebreus (Hb.11:39,40), a todos quantos creram no Messias, mesmo antes de Sua vinda terrena, assim como também os que forem salvos após o arrebatamento da Igreja, seja na Grande Tribulação, seja no Milênio.
- A promessa de entrada no céu é uma promessa condicional, ou seja, somente serão levados para o céu aqueles que tiverem suas vestiduras lavadas no sangue do Cordeiro. O apóstolo Paulo é claro ao dizer que a “nossa cidade está nos céus de onde esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp.3:20), ou seja, para que alguém entre no céu é preciso que tenha sido salvo por Jesus e a salvação, como já tivemos oportunidade de estudar neste trimestre, somente se alcança mediante a fé em Jesus (Rm.5:1; Ef.2:8). A propósito, logo após ter prometido levar os Seus discípulos para o céu, Jesus mostrou que Ele é o caminho através do qual se chega até o Pai (Jo.14:6).
- O propósito da promessa de entrada no céu é a de estabelecer a comunhão plena entre Deus e o homem, uma comunhão superior até a que havia no Éden, pois uma comunhão espiritual, feita numa dimensão espiritual, onde o homem será semelhante ao Senhor Jesus, onde não haverá carne nem sangue, onde o corpo abatido será substituído por um corpo glorioso (Fp.3:21), onde o homem passará a desfrutar da vida eterna (Ap.2:7,11), haverá uma intimidade perfeita com o Senhor (Ap.2:17), desfrutar-se-á do poder de Deus (Ap.2:26,27), da impecabilidade (Ap.3:5), da convivência com Deus (Ap.3:12) e da comunhão existente entre as Pessoas divinas (Ap.3:21). Em suma: o ser humano entrará no céu para que obtenha a glorificação, passe a desfrutar de parcela da glória divina.
II - O QUE É O CÉU
Colaboração/Gráfico: Jair César
- A palavra “céu”, na Bíblia, apresenta duas concepções bem diversas. A primeira é a do “céu físico”, também chamado de “firmamento”, a expansão criada por Deus, quando foi feita a separação entre “as águas de cima” e as “águas de baixo”, como se descreve em Gn.1:7,8, no segundo dia da criação. Como afirma Russel Norman Champlin, “…os antigos pensavam que esse firmamento seria uma espécie de abóbada, que formaria um semicírculo por cima da terra, feito de material sólido, que se apoiaria sobre as montanhas existentes nas extremidades da terra.(…) Os grandes luzeiros, como o sol, a lua e as estrelas seriam relativamente pequenos, fixados à concavidade inferior do firmamento. Não havia conceito de distâncias e dimensões. Também havia o céu simples, a expansão do espaço que era chamado firmamento ou céu atmosférico. Nesse céu estariam as nuvens, a chuva e as condições atmosféricas em geral (Sl.146:8; Zc.2:6; 6:5; Is. 55:9-11)…” (Céu. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.707).
- Não é este, evidentemente, o significado com que estamos a lidar, embora alguns crentes, principalmente os que não se dedicam ao estudo da Palavra de Deus, façam, muitas vezes, associações com o que a Bíblia diz em relação ao céu com este céu físico, com o “firmamento”, este “céu azul” que vemos todas as manhãs, firmamento este que anuncia, sem dúvida, a glória de Deus (Sl.19:1), mas que não é o céu prometido aos salvos.
- A segunda acepção da palavra “céu” é a que nos interessa, qual seja, a que dá nome ao “lugar da habitação de Deus”, ou, na feliz expressão de L.L. Morris, “…a habitação presente de Deus e de Seus anjos e o destino final de Seus santos que estão na terra….” (Céu. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia. Trad. João Bentes., t.I, p.284). Trata-se, portanto, de um lugar espiritual, visto que Deus é Espírito (Jo.4:24), assim como os anjos (Hb.1:14), um lugar onde não podem ingressar a carne e o sangue (I Co.15:50) e que, portanto, é algo que está além da nossa imaginação (I Co.2:9).
- É importante considerarmos que o céu é este lugar espiritual, que está além da nossa imaginação, a fim de que não venhamos a nos embaraçar com conceitos ou afirmações que levam em conta a literalidade do texto bíblico com relação ao céu. Como Deus nos quis revelar o que está preparado para os Seus servos, ante a pequenez de nosso entendimento e de nossa compreensão, utilizou figuras e símbolos a fim de que pudéssemos pelo menos ter uma vaga idéia do que o Senhor nos tem reservado, daquilo que Pedro denominou de “herança incorruptível” (I Pe.1:4).
- Desta maneira, jamais poderemos interpretar literalmente as figuras apresentadas nas Escrituras a respeito do céu, visto que são apenas imagens para a nossa compreensão, sem o que, de modo algum, poderíamos alcançar o que nos está reservado. Lembremos que o céu é a habitação de Deus, é um lugar espiritual, onde a beleza e formosura do Senhor, a Sua glória são plenas e, portanto, tudo quanto nos está revelado por figura será muito mais precioso e maravilhoso do que a própria descrição. Não foi sem razão que o apóstolo Paulo, ao dizer que havia estado no terceiro céu, afirmou que o que viu e ouviu era simplesmente inefável, ou seja, incapaz de ser traduzido em palavras (I Co.12:4).
- A dificuldade de saber o que é o céu se inicia na própria expressão. A Bíblia fala tanto em “céu” quanto em “céus”, havendo, pois, entre os estudiosos das Escrituras uma discussão sem fim a respeito de haver um ou mais de um céu. Há os que defendem que a expressão “céu” ou “céus” são equivalentes, não havendo diferença no singular ou no plural, até porque a palavra hebraica seria utilizada preferentemente no plural (”shamayim” - שמים), como é o caso de L.L. Morris. Outros, no entanto, como Russel Norman Champlin, entendem que há mais de um céu, que a diferença entre singular e plural demonstra a existência de níveis diferenciados de céu, tanto que Paulo menciona o “terceiro céu” e Salomão fala, entre outros, do “céus dos céus”. A tradição rabínica, aliás, defende a existência de “sete céus”, que seriam “níveis de glorificação” crescentes dos seres espirituais.
- Não queremos aqui adentrar nesta discussão, até porque não é o objeto de nosso estudo, mas apenas a ela nos referimos para mostrar quão complexo é o tema e como não podemos, de forma alguma, querer discernir as coisas espirituais que nos estão reservadas além daquilo que nos foi revelado. O importante é saber que Jesus nos preparou lugar, que este lugar as Escrituras chamam de “céu” e que é um lugar espiritual, além de nossa imaginação, um lugar onde as palavras humanas são absolutamente insuficientes para descrever as suas maravilhas e que só ali entrarão aqueles que tiverem suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro.
- O céu é um lugar onde habitaremos com o Senhor em glória, visto que, para ali entrarmos, necessariamente teremos de ser transformados, deixando este corpo de carne e sangue, este corpo abatido e recebendo um corpo glorioso, similar ao que Cristo teve quando ressurgiu dentre os mortos (Fp.3:21; I Co.15:42,49-54). Se a vida com Cristo, já nesta vida, é uma vida de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:15), que não será a vida no lugar da habitação de Deus, sem pecado, sem imperfeição, sem qualquer possibilidade de prejuízo na nossa comunhão com o Senhor. Como diz a poetisa sacra Eufrosine Kastberg: “Já os filhos de Deus bem alegres estão, porém no céu prazer maior terão. Os gozos do cristão apenas gotas são do mar de bênçãos em Sião” (refrão do hino 351 da Harpa Cristã).
- Embora não possamos sequer imaginar o que é o céu, além das figuras que a Bíblia nos apresenta, devemos ter a certeza de que, no céu, teremos plena consciência de quem somos e de que lá estamos. Há muitas pessoas que, inadvertidamente, acham que, no céu, seremos verdadeiros “zumbis”, ou seja, pessoas que não saberão quem são, pessoas que, por terem “esquecido as coisas que para trás ficaram”, serão seres que não terão a mínima noção do que foram na terra e que viverão em um ambiente sobrenatural, de um total vazio, de uma contemplação da glória de Deus que mais parece o estado “zen” de meditação de filosofias e credos orientais tão em voga na atualidade. Não, não e não!
- Quando a Bíblia nos fala que não nos lembraremos das coisas desta vida, está nos dizendo que, ante a glória que viveremos, ante o prazer que desfrutaremos, de modo algum teremos saudade ou desejo do que passou na vida debaixo do sol. A própria Palavra de Deus diz que, no Estado Eterno, não mais haverá a terra e o céu que nos deram guarida em nossa existência terrena (Ap.21:1), o que nos impedirá até de ter elementos físicos que nos façam lembrar o que passou. Este “esquecimento”, contudo, não é uma falta de memória, não é uma ausência de reconhecimento de nossa identidade, não é um “apagão” em nossa consciência, como muitos chegam a afirmar.
- O “esquecimento” mencionado nas Escrituras Sagradas nada mais é que a máxima intensificação do mesmo esquecimento de que já falava o apóstolo Paulo em Fp.3:13, “esquecimento” este já vivenciado dia-a-dia pelos salvos. Embora saibamos perfeitamente o que éramos antes de aceitar a Cristo e o que praticávamos, bem como tudo o que nos tem ocorrido na nossa vida diária, não vivemos do passado, não somos saudosistas, mas “esquecemos o que para trás fica e avançamos para as coisas que estão diante de nós”. Não esquecemos quem somos, não nos tornamos uns desmemoriados, seres que não têm consciência, que não têm identidade, mas, bem ao contrário, embora saibamos quem somos e quem fomos, temos o discernimento de que o que passou não nos leva até o céu, que temos de nos renovar diariamente na nossa caminhada para o céu.
- Ora, quando chegarmos ao céu, também saberemos quem somos e quem fomos. Como admitir que, no lugar da habitação de Deus, junto ao Onisciente, desfrutando da plenitude de Sua glória, tenhamos menos consciência, menos memória do que quando estávamos em um corpo corruptível? Como admitir que, na comunhão plena com o Senhor, saibamos menos do que quando sujeitos à tentação e à imperfeição? Seria a glorificação um estado menor do que a corruptibilidade? Evidentemente que não!
- Ao chegarmos ao céu, não perderemos a nossa identidade. Aliás, em corpo glorioso, ganharemos um novo nome, nome este que somente nós saberemos, pois teremos mantida a nossa individualidade em nosso relacionamento com o Senhor (Ap.2:17), sem deixar de ser povo de Deus (Ap.21:3). Isto mostra que não deixaremos de ser um indivíduo, um ser específico diante de Deus. Ao contrário do que defendem algumas religiões e seitas falsas, a glorificação não é uma absorção pela divindade, não é um sumir dentro de Deus, mas, sim, o manter uma consciência de quem se é. Por isso, não perderemos nossa identidade, não seremos um “zumbi”, mas, sim, um ser consciente de quem se é, mas que esquece as coisas passadas, pois o eterno presente da glória de Deus é algo tão sublime que não permitirá que em nenhum instante se pense, se deseje ou se volte para o que ficou para trás.
- Por isso, também, não devemos esperar no céu uma vida de “sombra e água fresca”, como, aliás, crêem os muçulmanos, cujo paraíso é um grande oásis, um lugar de muita água, mulheres e fartura, sem dúvida algo bem atraente e convidativo para um povo que vive o dia-a-dia da carência do deserto, como é o caso do povo árabe, onde surgiu o Islamismo. Neste particular, aliás, não só os muçulmanos, como também os judeus e muitos cristãos, envolvidos com a literalidade da descrição dos textos sagrados, acabaram construindo uma imagem do céu como um lugar de satisfação dos prazeres carnais, o que deve ser rechaçado pelos verdadeiros e instruídos servos do Senhor.
OBS: “…Todas as religiões, não só a judaica, sentiram a necessidade de acreditar num mundo posterior que fosse tangível, embora invisível, e cuja realidade podia ser incutida nos mais simplórios. Como a maior parte da Humanidade sempre teve dificuldade em compreender idéias abstratas, as recompensas e os castigos prometidos para o Mundo-do-Além precisavam ser traduzidos em termos compreensíveis e concretos através de símbolos acessíveis aos conhecimentos e à experiência de todos. Assim, o Gan Éden [o paraíso, observação nossa] e o Guehinom [o inferno, observação nossa] eram descritos, convenientemente, em termos físicos: eram lugares bem organizados, institucionalizados como os vários departamentos em que se vivia, na Terra. Eram descritos, sob o aspecto geográfico e administrativo, com muitos detalhes e com a precisão de um plano arquitetônico.(…). Talvez os próprios Sábios esclarecidos fossem responsáveis, em parte, pelas idéias primitivas sobre o Guehinom e o Gan Éden que eram aceitas pelo povo Como todos os mestres de religião, também eles apreciavam o simbolismo.(…). Isto conduzia, às vezes, a confusões e mal-entendidos da parte dos mais simplórios. Para citar um exemplo: os Pais da Mishnah [a lei oral judaica, observação nossa] haviam ensinado que ‘este mundo é somente um vestíbulo que leva ao salão de banquetes do Céu’. Os crédulos devem ter perguntado: ‘Que se faz num salão de banquetes?’ Come-se e bebe-se, naturalmente! E, como Deus era um anfitrião muito generoso e tinha de tudo, o povo imaginava que a recompensa para os virtuosos era um banquete contínuo e farto no ‘salão de banquetes do Céu’, brilhantemente iluminado, reclinados como reis em divãs luxuosos… As pièces de résistance [os pratos principais, observação nossa] do cardápio seriam ‘Leviathan’ em salmoura, e ‘boi selvagem’ (shor ha-bar) acompanhados de goles generosos do ‘vinho conservado na uva desde os seis dias da Criação’…” (AUSUBEL, Nathan. Mundo-do-Além. In: JUDAICA, v.6, p.587-8).
- Nossa entrada no céu não tem outro propósito senão o de nos glorificar, ou seja, de nos dar condições de podermos desfrutar da glória divina, de participarmos da “herança incorruptível”. Habitar com Deus, ser parte do povo de Deus, nada mais é que cumprirmos o objetivo inicial da criação do homem, que era o de ser uma criatura com livre acesso ao Criador, a fim de adorá-lO e de servi-lO, desfrutando do Seu amor e de Sua convivência.
- Jesus, em Sua oração sacerdotal, disse que o objetivo de Seu ministério era fazer com que fôssemos um com o Pai, assim como Ele o era (Jo.17:21,22). A perfeição da unidade exige a glorificação, a glória que o Pai deu ao Filho e, pelo qual, o Filho Se sujeita ao Pai, tendo vencido a tudo e a todos (I Co.15:28). Assim, somos glorificados, para entrar no céu, com o propósito de nos sujeitarmos a Deus, ou seja, para o fim de O adorarmos para todo o sempre. Por isso, Jesus disse que seremos como os anjos no céu (Mt.22:30; Mc.12:25), prova de que, no céu, serviremos ao Senhor, prestaremos a Ele louvor e desempenharemos as tarefas que nos forem destinadas.
- No céu, glorificados, seremos semelhantes ao Senhor Jesus (I Jo.3:2) e, por isso, assim como no princípio, antes do pecado, recebermos da parte de Deus tarefas, um trabalho (Gn.2:15), pois Deus é um ser que trabalha, tanto o Pai quanto o Filho (Is.64:4; Jo.5:17). Não se pense, pois, que o céu é um lugar de ociosidade, de satisfação de prazeres carnais, mas um lugar onde estaremos a serviço do Senhor, um serviço prazeroso em glória.
OBS: Recentemente, ouvimos de uma irmã que determinado servo de Deus teve uma visão de que os salvos estavam todos à margem do rio da vida, com os pés na água, brincando de mexer com os pés, como fazem as crianças e que isto seria a vida no céu. Nada mais antibíblico. Deus não nos levará para o céu para ficarmos com brincadeiras infantis de mexer com os pés à margem do rio da vida. Deus nos levará para o céu para desfrutarmos com Ele de uma íntima comunhão, tendo o prazer de servi-lO e adorá-lO em glória na beleza da Sua santidade!
III - O QUE É A NOVA JERUSALÉM
- A Nova Jerusalém é a cidade celestial que foi feita para ser o local onde Deus habitará juntamente com os homens que Lhe foram fiéis e aceitaram a Sua oferta de submissão e obediência à Sua Palavra. A Nova Jerusalém é o local que substituirá o Éden como morada de Deus com os homens. Ela é explicitamente mencionada e revelada no capítulo 21 do livro do Apocalipse, mas, antes da visão do apóstolo João, já havia referências a ela nas Escrituras. O próprio Jesus já havia mencionado existir um lugar que seria por Ele preparado para que os Seus servos nele habitassem para sempre com o Senhor (Jo.14:3).
- A Nova Jerusalém apresenta-se, portanto, como o ambiente, o lugar onde Deus morará com os homens. É a restauração da convivência completa e perfeita entre Deus e os homens que havia antes que o pecado causasse o atual estado de divisão que existe entre Deus e a humanidade. Somente na Nova Jerusalém, esta comunhão será restabelecida por completo, ocorrendo aquilo que é dito pelo apóstolo, de vermos Deus como ele é (I Jo.3:2).
- As Escrituras afirmam que nenhum homem nascido e criado nesta nossa dimensão viu a Deus (Jo.1:18; I Jo.4:12), porque, no atual estado em que nos encontramos, isto não é mesmo possível, pois é preciso que sejamos glorificados para que possamos contemplar o Senhor na Sua plenitude, ou seja, de forma completa, dentro das nossas imperfeições, naturalmente, pois sabemos que Deus é infinito e jamais poderemos contemplá-lo em Sua imensidão.
- O objetivo de Deus é fazer com que tenhamos, novamente, um lugar onde possamos habitar com Deus e a Nova Jerusalém é este local. Mas, se bem analisarmos, veremos que o Senhor é tão maravilhoso que, ao invés de tão somente substituir o Éden, proporcionou um lugar melhor do que o Éden. Senão vejamos:
a) no Éden, havia, a princípio, apenas minerais (Ez.28:13) e só depois Deus plantou nele um jardim para ali colocar o homem (Gn.2:8,9). Na nova Jerusalém, entretanto, há, desde o início, tanto minerais quanto vegetais (Ap.21:12-21, 22:1,2).
b) no Éden, Deus comparecia na viração do dia para falar com o homem (Gn.3:8), enquanto que, na nova Jerusalém, a convivência será eterna, contínua, pois lá não haverá, inclusive, noite (Ap.21:3). Deus visitava o Éden, mas morará na nova Jerusalém.
c) no Éden, o homem, apesar de viver em delícias, tinha dores, pois Deus disse que à mulher que multiplicaria grandemente as suas dores (Gn.3:16) e só pode haver multiplicação de algo que já exista. Na nova Jerusalém, porém, é dito que Deus removerá todo pranto, toda dor, toda lágrima, todo clamor (Ap.21:4).
d) no Éden, havia uma restrição ao homem, que era a de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17). Na nova Jerusalém, porém, não há notícia de qualquer restrição ao homem nem de que esta árvore continue a existir ali, mas se faz menção tão somente da árvore da vida (Ap.22:2).
e) no Éden, o homem era meramente um mordomo, com poder apenas sobre a criação. Na Nova Jerusalém, entretanto, o homem, embora continue sendo servo de Deus, participa do governo divino, não é mais simplesmente servo, mas amigo de Deus (Jo.15:15), tanto que lhe será permitido participar do reino divino (Ap.21:5).
f) no Éden, houve espaço para a maldição divina (Gn.3:14-17), mas, na nova Jerusalém, ninguém ou nada jamais poderão ser amaldiçoados (Ap.22:3).
g) no Éden, o governo e a administração eram humanos, sob supervisão divina (Gn.1:26-28; 2:16), mas, na nova Jerusalém, o governo e a administração serão divinos, com participação humana (Ap.22:3,5).
- Por isso, ao vermos que a Nova Jerusalém é superior ao Éden, temos que concluir que os bem-aventurados que nela puderem entrar (cfr. Ap.22:14) reconhecer-se-ão uns aos outros, serão pessoas conscientes de onde estão, de quem são e porque ali estão. Muitos se indagam se, no céu, nós iremos ter noção de quem somos, de onde estamos e que o que estaremos a fazer. Muitos acham que, como a Bíblia afirma que não nos lembraremos mais de nossas dores e tristezas deste mundo, seremos pessoas sem noção do que fomos aqui na Terra e não teremos condição de nos reconhecermos uns aos outros nos céus. Não entendemos assim, entretanto. Por que Deus salvaria milhões e milhões de homens, para com eles habitar, se estes homens não tivessem sequer a noção de quem são, de quem é Deus e de onde estão? Como homens que venceram o pecado, que combateram o bom combate, que foram fiéis até o fim, passariam a eternidade sem a mínima noção de quem são? Como poderiam homens glorificados terem menos consciência do que quando viviam ainda numa natureza sujeita ao pecado?
- Certamente que homens e mulheres remidos, vivos para todo o sempre, não terão motivo algum para se lembrarem ou se amargurarem com sofrimentos, pesares, reminiscências do tempo em que viveram nos antigos céus e terra. Hoje em dia, num mundo de pecado e de miséria, ninguém se martiriza com lembranças desagradáveis do passado não tão remoto assim e se o fazem, são tidos como portadores de alguma doença mental, geradora de traumas, síndromes ou paranóias. Então, se no ambiente imperfeito que vivemos, o normal é se esquecer do passado sombrio, por que haveria de ser diferente na dimensão sublime da comunhão plena com o Senhor ? Agora, o fato de não nos lembrarmos, de não ficarmos presos a fatos passados, em absoluto significa que seremos verdadeiros “zumbis” no céu, sem saber sequer quem somos. Deus, pelo Seu caráter, jamais iria realizar um plano para a salvação do homem que quis conhecer o bem e o mal, para ter adoradores inconscientes e sem noção sequer de quem são. Como poderá o homem, na eternidade, louvar e bendizer ao Senhor, para todo o sempre, sem sequer saber quem é e que existem outras pessoas ali juntamente com ele ? Definitivamente, não é esta idéia concordante com o que as Escrituras afirmam ser o nosso Deus.
- É importante verificarmos que a nova Jerusalém já está vindo para ocupar o seu devido lugar no novo universo que será formado. Jesus afirmou que a nova Jerusalém já existia ao tempo de Seu ministério terreno. Sua assertiva é bem clara: “na casa do meu Pai, há muitas moradas, se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”. A cidade santa já existia e já tinha muitas moradas. Embora ela existisse, porém, o homem não poderia habitá-la, ou seja, o homem não estava preparado para poder ingressar nesta cidade, precisamente porque tinha suas vestes manchadas pelo pecado.
- Sabemos todos que há grandes restrições para que alguém entre nos Estados Unidos da América. É preciso que a pessoa obtenha visto do governo norte-americano para li ingressar e são várias as modalidades de visto. Os Estados Unidos existem, têm milhares de cidades, cadas, edifícios, mas não há lugar algum preparado para aquele estrangeiro que não tiver visto para ali entrar. No dia em que lhe for providenciado um visto, ele ali poderá entrar, ele ali terá lugar, enquanto não, não. Pois é exatamente o que ocorre com a Nova Jerusalém. Jesus afirmou que a cidade já existia, que tinha muitas moradas, mas o lugar ainda não estava preparado, porque não havia como o ser humano conseguir ali entrar. Era preciso que alguém morresse e pagasse o preço da desobediência e, assim, retirasse a espada que impedia o acesso do homem à árvore da vida (Gn.3:24). Esta espada foi retirada por Jesus, quando morreu por nós na cruz do Calvário (Lc.2:35) e, assim, nos abriu um novo e vivo caminho que nos introduz à Jerusalém celestial (Hb.10:19-23).
- O primeiro a ingressar na nova Jerusalém foi o próprio Jesus, como nos relata o Sl.24. O salmista indaga quem poderia subir ao monte do Senhor, ao lugar santo, e aqui se refere a este lugar onde Deus conviverá com o homem, figurado pelos altares, tendas e templos que foram construídos ao longo da história da humanidade (observemos, aliás, que este salmo é anterior à construção do próprio templo de Salomão). O salmista afirma que somente poderia ali entrar quem fosse limpo de mãos e puro de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade, nem jurasse enganosamente(Sl.24:3,4). Ora, como diz o próprio salmista, em outro salmo, olhando do céu, o Senhor não viu sequer um justo que pudesse preencher estes requisitos (Sl.14:2,3; 53:1). Por isso, o próprio Deus, na pessoa do Seu Filho, desceu ao mundo, para poder executar este indispensável trabalho, pois só assim o Filho poderia receber a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação e criar uma geração de homens que buscassem a face do Senhor(Sl.24:6). Aí, sim, tendo feito o Seu trabalho e satisfeito a justiça divina (Is.53:10-12), ressuscitou e foi o primeiro a entrar na cidade santa (Sl.24:7,8), de onde voltará (Jo.14:3), para lá levar a Sua Igreja (Sl.24:9,10).
- Os segundos a ingressarem na nova Jerusalém serão os arrebatados pelo Senhor no momento imediatamente anterior ao início da Grande Tribulação. Como afirmam alguns estudiosos das Escrituras, entre os quais os pastores Aldery Nelson Rocha e Ailton Muniz de Carvalho, a nova Jerusalém há muito está descendo do céu. Engana-se quem pense que a nova Jerusalém descerá do céu depois do juízo final, pois ela tem descido desde que teve seus lugares preparados para os homens. A partir de então, a nova Jerusalém vem continuadamente vindo em direção à Terra. Chegará à área das regiões celestiais hoje habitadas pelas hostes espirituais da maldade no instante do arrebatamento da Igreja. Depois, já com a Igreja arrebatada em seu interior, continuará a descer e atingirá a atmosfera terrestre exatos sete anos depois, quando, então, ocorrerá a batalha do Armagedom. Após esta batalha, receberá, em seu interior, os que completarem a primeira ressurreição (as duas testemunhas, os 144.000 e os mártires da Grande Tribulação). Em seguida, nos ares de nossa atmosfera, pairará durante todo o Milênio, sendo, segundo estes estudiosos, a sua presença uma das principais responsáveis pelas modificações climáticas e físicas que a natureza terá neste período. Por fim, ao término do Milênio, ocupará o seu devido lugar, nos novos céus e nova terra, que substituirão os antigos céus e terra. A Nova Jerusalém seria, assim, como uma super e gigantesca estação espacial a caminho da Terra.
- A descrição da Nova Jerusalém é sublime e nos enche de gozo e nos faz pensar, como o poeta sacro, que, se é glorioso pensar nas grandezas dali, que não será desfrutá-los e é por isso que o apóstolo Paulo nos conclama a jamais desanimarmos nem desistirmos, por maiores que sejam as provas e as lutas, pois “…as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Rm.8:18). No entanto, não devemos nos esquecer que a nova Jerusalém é de outra dimensão, da dimensão celestial e que, portanto, muito de sua descrição é figurativa, é alegórica, não pode ser compreendida literalmente, pois se trata de uma descrição feita por Deus aos homens para que pudéssemos compreender, na limitação da nossa mente, o que nos está reservado, pois é algo que está muito além de nossa parca imaginação (I Co.2:9).
- Em primeiro lugar, devemos observar que a nova Jerusalém tem a glória de Deus (Ap.21:11). A glória de Deus é uma característica típica dos lugares santos e, por isso, a nova Jerusalém é o lugar santo por excelência e nela não haverá necessidade de templo, pois o seu templo será o próprio Deus. A nova Jerusalém é a morada de Deus com os homens, um lugar onde Deus Se manifestará na Sua glória. Teremos um privilégio que um dia foi do querubim ungido, qual seja, o de contemplar a glória de Deus para todo o sempre.
- Em segundo lugar, vemos que a cidade tem doze portas, com os nomes das doze tribos de Israel e o muro da cidade, doze fundamentos, com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Isto, naturalmente, é uma linguagem figurada para nos mostrar que o fundamento, a razão de ser da convivência eterna com Deus é a salvação na pessoa bendita de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A salvação vem dos judeus e através da fé em Cristo Jesus. Daí porque a cidade ostentar tanto os nomes das tribos de Israel, ou seja, os filhos de Jacó que formaram o povo de onde veio a salvação do mundo, como também os nomes dos doze apóstolos, aqueles que foram os “filhos na fé” de Jesus, que foram escolhidos para iniciar a obra da Igreja, o novo povo de Deus. Não há outro caminho para a comunhão com Deus senão Jesus, o Messias de Israel, a cabeça da Igreja: “só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” (I Tm.2:5).
- Em terceiro lugar, vemos que a cidade é um cubo, com 2.200 km de comprimento(Ap.22:16 NVI), o que dá um volume de 10.648.000.000 km³, ou, em notação científica, 1,0648 .10¹² km³, o que é quase o volume do próprio planeta Terra, que é de 1,081.10¹² km³, ou seja, a cidade celeste tem praticamente o mesmo volume do planeta, ou seja, há lugar suficiente para quem quiser aceitar a Cristo como Salvador (observando que o planeta não pode ser ocupado pelo homem senão em parte ínfima, já que 2/3 é de água e a crosta terrestre tem uma dimensão extremamente diminuta em relação ao volume do planeta, ou seja, há muito mais lugar na cidade santa do que na própria Terra para o homem).
- Em quarto lugar, a cidade tem um muro, ou seja, é protegida, é organizada. A presença do muro nas cidades antigas era, a um só tempo, demonstração de segurança, de soberania e de organização. Uma cidade que tinha muros era uma cidade que tinha governo, que tinha alguém zelando pela segurança dos cidadãos, que impunha autoridade e respeito. Era uma cidade que tinha ordem, que tinha organização. Era uma cidade que protegia os seus cidadãos contra os inimigos. Enquanto no Éden não há notícia de que houvesse muros, tanto que o inimigo ali adentrou, na nova Jerusalém isto não é possível. Não significa afirmar que haverá um muro literal, físico, até porque, como as Escrituras afirmam, o céu e a terra como conhecemos já não mais existirão a este tempo (Ap.21:1) e a nova Jerusalém é uma cidade que vem do céu, do chamado “Universo absoluto”, não é algo que faça parte da criação relativa que será substituída, que terá desaparecido, como nos descreve o apóstolo Pedro (II Pe.3:10,11) e nos afirma o próprio Jesus (Mt.24:35). Mas é uma forma clara de o Senhor nos revelar que a nova Jerusalém é um local de ordem, de organização, de proteção divina e onde o Senhor estabelecerá o Seu domínio para todo o sempre.
- Em quinto lugar, a cidade é descrita como contendo pedras preciosas e ouro, ou seja, aquilo que é mais venerado e procurado pelos homens que não têm a perspectiva da eternidade, aqueles que servem às riquezas e, por isso, não podem servir a Deus (Mt.6:24; Lc.16:13), é tão somente adorno, enfeite e material para aspectos secundários e supérfluos na cidade santa. Os muros são feitos e ornados de pedras preciosas, as ruas, de ouro. Os remidos pisarão em ruas de ouro, ou seja, os valores materiais, aquilo que os homens tanto veneram e respeitam em nossa vida secular, nada representam na vida celestial. O ouro que é tão procurado, que é alvo de tantas disputas, que faz com que o mundo rode, na conhecida expressão inglesa (”money makes the world go around”, ou seja, o dinheiro faz o mundo rodar), na santa cidade, não passa de chão, de algo que é pisado, nem sequer observado, algo sem qualquer valor. Os valores celestiais, espirituais são muitíssimo superiores aos materiais e é isto que esta alegoria nos revela. Por isso, enquanto é tempo, desprendamo-nos das coisas materiais, não assumamos nem sejamos coniventes com doutrinas e ensinos ditos cristãos que privilegiam a posse de bens materiais, a prosperidade material, porque, se assim fizermos, não seremos achados dignos de morar na nova Jerusalém, onde nada disso tem valor.
- Em sexto lugar, vemos que, mesmo nesta santa cidade, a Palavra de Deus continuará a ter valor. Os céus e a terra passaram, mas a Palavra de Deus nunca passará, permanecerá para sempre, mesmo na santa cidade. A cidade não necessitará de sol nem de luz, porque será iluminada pela glória divina e, mais, terá o Cordeiro como sua lâmpada (Ap.21:23). Ora, o Cordeiro, quando descer desta santa cidade, com a Igreja, para libertar a Israel, mostrará que lâmpada é esta: “…e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus.” (Ap.19:13b), “…lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para o meu caminho” (Sl.119:105). Jesus é o Verbo de Deus, a Palavra de Deus e, assim como João viu a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade, ainda que encarnado, nós contemplaremos esta glória eternamente, pois “…a palavra do Senhor permanece para sempre” (I Pe.1:25a) e no céu (Sl.119:89). Compreendamos, portanto, quão poderosa é a Palavra de Deus, que permanecerá válida e soberana até mesmo na Nova Jerusalém, o que não é de se admirar, já que o Senhor pôs a Sua Palavra acima de Si mesmo (Sl.138:2). Será à luz desta Palavra que as nações seguirão na eternidade com Deus e O adorarão (Ap.21:24). Pela presença da Palavra é que a cidade se manterá santa e sem coisa alguma que a contamine (Ap.21:27), pois é a Palavra quem santifica (Jo.17:17).
- Em sétimo e último lugar, a cidade apresenta o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procede do trono de Deus e do Cordeiro e, no meio da praça, a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, cujas folhas são para a saúde das nações (Ap.22:1,2). Esta linguagem, igualmente figurada, fala-nos da eternidade de que desfrutarão os habitantes desta santa cidade. No Éden, como vimos, o homem possuía uma eternidade condicional, fora feito mortal, mas, enquanto obedecesse ao Senhor, jamais morreria. Aqui, porém, a situação é bem diferente. O homem tem a vida eterna, esta dádiva que é recebida por todos aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo.3:16; 17:3; I Jo.5:11,12). O texto fala-nos, assim, da vida eterna.
- Fala-nos da vida, porque o rio puro da água da vida que procede do trono de Deus e do Cordeiro é símbolo da comunhão entre Deus e o homem através de Jesus Cristo, resultado da crença em Jesus. “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva manarão do seu ventre” (Jo.7:38) e “…aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo.4:14). Somente pode morar na Nova Jerusalém quem tem a vida eterna, quem recebeu a água viva oferecida por Jesus e que, recebida em nosso espírito, é distribuída aos homens, levando-nos para a glória celeste. Quem não tem comunhão com Deus através de Jesus Cristo jamais poderá alcançar a salvação, sendo esta uma das passagens que bem demonstraram que só Jesus é o caminho para o aperfeiçoamento espiritual do homem, para que ele atinja o objetivo de viver eternamente com o seu Criador.
- Mas o texto também nos fala de eternidade, porque nos diz que, no meio da praça, há a árvore da vida que, de mês em mês, dá seu fruto e que seu fruto é restaurador, sarador, é para a saúde das nações. A vida na nova Jerusalém é eterna, pois Deus Se encarregará de regenerar constantemente o homem, de impedir que o tempo tenha qualquer efeito sobre ele. É o Estado Eterno, ou seja, o tempo não mais existirá. Os séculos terão se consumado (Mt.28:20), mas o Senhor continuará conosco, providenciando e garantindo a perpetuidade da nossa existência ao Seu lado. A árvore da vida é o próprio Cristo, o Pão da Vida, “…o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra”(Jo.6:50), “…o pão vivo que desceu do céu [que] se alguém comer (…) viverá para sempre.” (Jo.6:51a). A comunhão que nos dá a vida eterna, simbolizada na ceia do Senhor, será, então, uma realidade contínua e completa para todo o sempre. A periodicidade mencionada no texto de Ap.22:2 é figurativa, apenas retrata a constância com que se dará esta comunhão, pois, na nova Jerusalém, não haverá mais tempo, assim como também é figurativa a afirmação concernente à saúde das nações, pois, na nova Jerusalém, não haverá qualquer possibilidade de doença. O que o texto está a afirmar é que a restauração espiritual operada nos homens que perseveraram até o fim será eternamente sustentada e garantida pelo Senhor, a nossa árvore da vida.
OBS: Por isso, até, muitas denominações, inclusive as Assembléias de Deus, estabeleceram a periodicidade mensal da ceia do Senhor, por entender que ela é uma figura da comunhão eterna da nova Jerusalém, comunhão esta descrita em Ap.22:2.
“…Os simbolismos requerem muitos cuidados nas suas interpretações, eles podem ser revestidos de figuras de linguagem, como podem estar revelando grandes verdades. No assunto em pauta [o rio e a árvore da vida, observação nossa], preferimos admitir que estejam sendo reveladas grandes verdades, porém de maneira espiritual e não literal. O próprio Cristo é a árvore da vida que dá vida a todos os homens. Ele é a própria Palavra, o Verbo encarnado. A Palavra de Deus é a fonte de vida para todos que nela crer.(…). Suas folhas dão saúde, assim como Sua Palavra salva e limpa todos os males espirituais da humanidade. As folhas de uma árvore revelam sua condição: quando elas estão amarelas, dizem que a árvore poderá estar doente; quando secas, pode estar morta; quando estão verdes e brilhosas, entendemos que está com vida boa. Assim é o justo que confia no Senhor, quando é nutrido pela Palavra….” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.195).