terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Como alcançar as promessas de Deus

Objetivo: Mostrar que a confiança no Deus que promete e cumpre é requisito fundamental para alcançarmos o que Ele nos revelou em Sua Palavra.
INTRODUÇÃOÉ possível alcançar as promessas de Deus? A resposta da Palavra de Deus, a esse respeito, é afirmativa. Então, o que devemos fazer? Na lição de hoje, veremos que o cumprimento das promessas divinas tem sua fonte nAquele que promete e cumpre com o que diz (Nm. 23.19). Ao final, mostraremos como algumas personagens bíblicas responderam às promessas de Deus e que lições poderemos tirar para a vida cristã diária.
1. O DEUS QUE PROMETE E CUMPRENão há uma palavra, no Antigo Testamento, para “promessa”, mas isso não quer dizer que essa idéia não exista na Antiga Aliança. As palavras hebraicas “amar” e “dabar” significam, respectivamente, “dizer” e “falar”. No Novo Testamento, o termo grego “angelia”, que se refere a um “anúncio” ou “mensagem”, está inter-relacionado aos termos hebraicos. Esses termos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, mostram que a base da promessa é a revelação de Deus. Ele, conforme nos diz o autor aos Hebreus (Hb. 1.1,2), é um Pai que fala, isto é, que se revela, e, mais especificamente, que nos tem prometido, em Seu Filho, riquezas celestiais (Ef. 2.7). Fora dEle, corremos o risco de ter nossas expectativas, algumas vezes egoístas, frustradas. Sendo assim, tenhamos o devido cuidado de compreender a natureza das promessas divinas e as condições que o próprio Deus estabeleceu em Sua palavra.
2. AS CONDIÇÕES DIVINAS PARA O CUMPRIMENTOConforme estudamos em lições anteriores, algumas promessas de Deus são incondicionais e outras condicionais. Em relação a essas últimas, encontra-se a promessa da vida, que não pode ser desprezada, caso contrário, o final será a morte eterna (Gn. 2.16-17). Mas essa não é a única, já no Antigo Testamento, é possível destacar algumas promessas condicionais: 1) prosperidade se o povo obedecesse a Lei (Js. 1.7-90; e 2) vitória nas batalhas, caso obedecessem aos mandamentos do Senhor (Jz. 7.1-25). No Novo Testamento, que tem mais a ver com a igreja: 1) Deus nos abençoará se seguirmos o caminho da pobreza de espírito, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza e perseguição por causa do amor a Deus (Mt. 5.1-12). 2) se buscarmos os valores atemporais, Deus cuidará das necessidades temporais (Mt. 6.25-34); 3) se nos submetermos a Deus e resistir ao Diabo, teremos vitória sobre o Mal (Tg. 4.7); 4) se valorizarmos as virtudes espirituais, seremos participantes da glória divina (II Pe. 1.3,4); 5) se confessarmos nossos pecados, Ele nos perdoará (I Jo. 1.9) e 6) se pedirmos alguma coisa de acordo com a Sua vontade, Ele nos dará (I Jo. 5.14,15). Por fim, é válido ressaltar ainda que as promessas de Deus se cumprem no tempo devido, de acordo com a Sua soberana vontade (Ec. 3.1,11,17). Em Hebreus 11, está registrada a história de homens e mulheres que somente receberam o que o Senhor lhes havia prometido na eternidade (Hb. 11.35-40).
3. EXEMPLOS DE REAÇÕES ÀS PROMESSAS DIVINASPortanto, diante das promessas de Deus, sejamos cautelosos. Atentemos para alguns exemplos bíblicos que nos servem de instrução. Como Abraão, tenhamos o cuidado para não duvidar quando as circunstâncias se tornarem desfavoráveis (Gn. 16). Que não venhamos a nos queixar durante a jornada como fizeram os hebreus ao longo da peregrinação pelo deserto (Nm. 14). Do mesmo modo que Jó, que não sejamos precipitados em julgar os decretos divinos e Sua soberana vontade (Jo. 42). Como os discípulos, não devemos estar inquietos a respeito do tempo que Deus determinou para o cumprimento de Suas promessas (At. 1.6-8). Aprendamos, pois, a nos encorajarmos, pela Palavra, diante das adversidades da vida, principalmente, das perseguições (I Co. 15; II Co. 4). Que não venhamos a desfalecer por causa da incredulidade daqueles que nada aguardam a respeito das promessas de Deus para o futuro (II Pe. 3.8-9). Não podemos esquecer que o antídoto contra a incredulidade é a busca pela justiça, bondade, fé , amor e paciência, lutando a boa luta da fé (I Tm. 6.11-12), e, em tempo propício, Cristo se manifestará (v. 15).
CONCLUSÃOPara permanecermos, como diz o hino 107 da Harpa, firmes nas promessas do Senhor, precisamos avaliar sua aplicabilidade em nossas vidas. Para tanto, conforme estudamos ao longo deste trimestre, é preciso considerar o contexto imediato, e, mais especificamente, o contexto geral da Escritura. Confirmada a promessa bíblica, devamos confiar no Senhor. Sejamos cuidadosos para não nos deixar levar pelo espírito de incredulidade que predomina o cenário moderno. Lembremos sempre, como bem disse D. L. Moody, que “Deus nunca fez uma promessa que fosse boa de mais para ser verdade”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A promessa de nossa entrada no céu

INTRODUÇÃO
- No encerramento do estudo das principais promessas de Deus para as nossas vidas, falaremos hoje da promessa de nossa entrada no céu, que é o alvo de todo cristão que, ressuscitado com Cristo, busca e pensa nas coisas que são de cima (Cl.3:1,2).
- Se a nossa esperança é a volta de Cristo, como vimos na lição anterior, tal esperança se completa com a perspectiva de habitarmos eternamente na dimensão espiritual, assim como o Senhor, dimensão esta que as Escrituras denominam de “céu”, pois seremos semelhantes a Ele e assim como é O veremos (I Jo.3:2).
I - AS CARACTERÍSTICAS DA PROMESSA DE NOSSA ENTRADA NO CÉU
Colaboração/Gráfico: Enomir Santos
- Um irmão conhecido nosso, que já tem 95 anos de idade e 70 anos de fé, sempre nos encoraja ao nos dizer que aceitou a Jesus para morar no céu e que permanece com o mesmo desejo até o presente. Que exemplo de vida espiritual a ser seguido. Como afirma o poeta e missionário Samuel Nystrom, o cântico de todo cristão deve ser “Aleluia, para o céu vou caminhando, nada me desanimará. Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará” (coro do hino 332 da Harpa Cristã).
- Esta convicção que encontramos tão vívida no ancião de 95 anos ou no missionário de saudosa memória, era também a esperança do apóstolo Paulo que, mesmo preso, consolava e concitava os irmãos de Filipos a se regozijar no Senhor e dizia que as dificuldades pelas quais estava passando, por causa do Evangelho, não lhe retiravam a alegria, porque seu alvo era atingir o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, a nossa cidade, que, dizia ele, estava nos céus (Fp.3:14,20), esperança esta repetida pelo escritor aos hebreus, para o qual os heróis da fé, já no passado, buscavam uma pátria melhor, a pátria celestial, uma cidade por eles preparada pelo próprio Deus e destinada não só a eles, mas também a nós (Hb.11:14-16,40).
- Tal convicção apresentada pelos nossos irmãos é resultado da fé que possuem na Palavra de Deus. Com efeito, não temos como deixar de considerar que a promessa de que nos espera o céu é uma das mais lindas promessas feitas pelo próprio Senhor Jesus aos Seus discípulos. Quando das Suas últimas instruções, como nos narra o evangelista João, o Senhor foi taxativo, claro e objetivo, ao afirmar que nos levaria para o céu.
- Em Jo.14:1-3, Jesus prometeu nos levar para o céu. Após ter, mais uma vez, dito que seria preso e morto e lhes ter dado o novo mandamento, o mandamento do amor (Jo.13:34) e, ante a notícia, percebido o entristecimento dos discípulos, o Senhor anunciou a promessa de nossa entrada no céu.
- Jesus afirmou que na casa do Seu Pai havia muitas moradas e temos, então, uma das mais precisas definições a respeito do que é o céu. O céu é a habitação de Deus, o lugar onde Deus habita, onde Deus mora (Dt.26:15; I Rs.8:30,39,49; II Cr.6:21,30,33,39; Is.63:15). Evidentemente, que Deus é onipresente e que, portanto, Ele está em todo o lugar, ao mesmo tempo, não havendo um local específico onde esteja (daí porque ter o sábio Salomão ter dito que nem os céus nem mesmo os céus dos céus podem conter o Senhor - II Cr.2:6), mas há uma dimensão, há um lugar onde Deus habita, onde está o assento de Sua habitação, isto é, um lugar onde a presença do Senhor é toda especial, onde o Senhor Se apresenta como um íntimo companheiro, um Ser extremamente próximo, onde se percebe toda a Sua glória, onde há uma intimidade, onde é possível desfrutar da Sua privacidade, da Sua comunhão. Este lugar é o céu, onde Deus habita e onde habitará com o Seu povo (Ap.21:3).
- O céu é a morada de Deus, ou seja, o local onde o Senhor está presente na plenitude de Sua glória, um local “fixado”, “estabelecido” (sendo este o significado da palavra hebraica “makown”- מכוז, que é traduzida por “assento”) para que Ele Se revele tal como Ele é e não apenas pela expressão da Suas obras, como o que ocorre com o Universo (Rm.1:20); não apenas pela expressão de Seu caráter, seja por intermédio da consciência no homem, seja através da lei (Rm.2:2:14,15,17,18); não apenas pelo Filho, a expressa imagem da Sua pessoa (Hb.1:1-3), que habitou entre nós, fazendo-Se carne (Jo.1:14).
- Jesus afirmou que o céu, a casa do Seu Pai, era um lugar de muitas moradas, ali existentes desde antes da fundação do mundo, moradas estas, porém, que não poderiam ser ocupadas pelos homens, em virtude do pecado. Feito para habitar com o seu Criador, o homem foi posto no Éden, que se situava na terra, mas pecou, não podendo mais conviver com o Senhor. Entretanto, Deus, na Sua misericórdia e bondade, prometeu a este homem fracassado que seria restabelecida a amizade com Deus, que haveria a salvação e esta salvação traria, por paradoxal que possa parecer (pois Deus escolheu as coisas que não são para aniquilar as que são - I Co.1:28), um aperfeiçoamento, pois, em vez de morar na terra que foi amaldiçoada por causa do pecado (Gn.3:17), o ser humano receberia algo melhor, a possibilidade de morar no céu, na cidade celestial (Fp.3:20,21; Hb.11:40).
- Apesar de no céu haver moradas, não havia lugar para o homem. A existência das moradas não significava a existência de lugar para o homem. Quantas casas há, por exemplo, no Brasil, um dos países onde há um dos maiores déficits habitacionais do mundo, e, mesmo assim, são aos milhões os “sem-teto”? Isto ocorre porque, embora haja moradas, casas desocupadas, as pessoas “sem-teto” não podem entrar nestas habitações, porque não pagaram o preço de sua aquisição, porque não têm condições para adquirir as propriedades. Há, pois, moradas, mas não há lugar para estas pessoas.
- Assim era a situação do homem antes que Jesus providenciasse lugar para nós no céu: havia, na casa do Pai, morada, mas não havia lugar. O homem, dominado pelo pecado, não tinha como conviver com seu Criador, não tinha como adquirir o direito de habitar com Deus, mas condenado estava a viver eternamente separado dEle. Apesar das muitas moradas existentes no céu, para o homem não havia lugar.
- Entretanto, Jesus prometeu que nos iria preparar lugar (Jo.14:2). Prometeu e cumpriu. Aleluia! Ao morrer por nós na cruz do Calvário, ao pagar o preço da redenção de nossas almas, o Senhor Jesus conquistou lugar para nós na casa de Seu Pai. Mediante o Seu sangue vertido por nós, pelos nossos pecados, podemos, agora, entrar na cidade santa, na habitação de Deus, no céu. Por isso, só os que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro têm o direito de entrar na cidade pelas portas (Ap.22:14).
- A promessa de Jesus foi clara: se Ele nos preparasse lugar, voltaria para nos buscar e nos levaria para Ele mesmo para que onde Ele estivesse, nós estivéssemos também. Ora, Jesus morreu e ressuscitou e subiu ao céu, assentando-Se à direita do Pai (Mc.16:19; At.1:9; 7:56), de modo que não temos porque duvidar que Ele voltará a fim de nos levar para onde Ele já está, ou seja, no céu, à direita do Pai, como, aliás, reafirmou quando Se apresentou vitorioso ao apóstolo João na ilha de Patmos (Ap.3:21).
- A promessa de entrada no céu é uma promessa dirigida ao povo de Deus. Somente entrarão no céu aqueles que creram em Jesus como o Salvador do mundo. Isto fica evidente pelo fato de Jesus ter feito a promessa apenas para os Seus discípulos, bem como pelo fato de que somente os salvos, aqueles que tiverem suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro, poderem entrar na cidade santa pelas portas. É uma promessa para os salvos, salvos estes que não abrangem apenas a Igreja, mas também, como é claro o escritor aos hebreus (Hb.11:39,40), a todos quantos creram no Messias, mesmo antes de Sua vinda terrena, assim como também os que forem salvos após o arrebatamento da Igreja, seja na Grande Tribulação, seja no Milênio.
- A promessa de entrada no céu é uma promessa condicional, ou seja, somente serão levados para o céu aqueles que tiverem suas vestiduras lavadas no sangue do Cordeiro. O apóstolo Paulo é claro ao dizer que a “nossa cidade está nos céus de onde esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp.3:20), ou seja, para que alguém entre no céu é preciso que tenha sido salvo por Jesus e a salvação, como já tivemos oportunidade de estudar neste trimestre, somente se alcança mediante a fé em Jesus (Rm.5:1; Ef.2:8). A propósito, logo após ter prometido levar os Seus discípulos para o céu, Jesus mostrou que Ele é o caminho através do qual se chega até o Pai (Jo.14:6).
- O propósito da promessa de entrada no céu é a de estabelecer a comunhão plena entre Deus e o homem, uma comunhão superior até a que havia no Éden, pois uma comunhão espiritual, feita numa dimensão espiritual, onde o homem será semelhante ao Senhor Jesus, onde não haverá carne nem sangue, onde o corpo abatido será substituído por um corpo glorioso (Fp.3:21), onde o homem passará a desfrutar da vida eterna (Ap.2:7,11), haverá uma intimidade perfeita com o Senhor (Ap.2:17), desfrutar-se-á do poder de Deus (Ap.2:26,27), da impecabilidade (Ap.3:5), da convivência com Deus (Ap.3:12) e da comunhão existente entre as Pessoas divinas (Ap.3:21). Em suma: o ser humano entrará no céu para que obtenha a glorificação, passe a desfrutar de parcela da glória divina.
II - O QUE É O CÉU
Colaboração/Gráfico: Jair César
- A palavra “céu”, na Bíblia, apresenta duas concepções bem diversas. A primeira é a do “céu físico”, também chamado de “firmamento”, a expansão criada por Deus, quando foi feita a separação entre “as águas de cima” e as “águas de baixo”, como se descreve em Gn.1:7,8, no segundo dia da criação. Como afirma Russel Norman Champlin, “…os antigos pensavam que esse firmamento seria uma espécie de abóbada, que formaria um semicírculo por cima da terra, feito de material sólido, que se apoiaria sobre as montanhas existentes nas extremidades da terra.(…) Os grandes luzeiros, como o sol, a lua e as estrelas seriam relativamente pequenos, fixados à concavidade inferior do firmamento. Não havia conceito de distâncias e dimensões. Também havia o céu simples, a expansão do espaço que era chamado firmamento ou céu atmosférico. Nesse céu estariam as nuvens, a chuva e as condições atmosféricas em geral (Sl.146:8; Zc.2:6; 6:5; Is. 55:9-11)…” (Céu. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.707).
- Não é este, evidentemente, o significado com que estamos a lidar, embora alguns crentes, principalmente os que não se dedicam ao estudo da Palavra de Deus, façam, muitas vezes, associações com o que a Bíblia diz em relação ao céu com este céu físico, com o “firmamento”, este “céu azul” que vemos todas as manhãs, firmamento este que anuncia, sem dúvida, a glória de Deus (Sl.19:1), mas que não é o céu prometido aos salvos.
- A segunda acepção da palavra “céu” é a que nos interessa, qual seja, a que dá nome ao “lugar da habitação de Deus”, ou, na feliz expressão de L.L. Morris, “…a habitação presente de Deus e de Seus anjos e o destino final de Seus santos que estão na terra….” (Céu. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia. Trad. João Bentes., t.I, p.284). Trata-se, portanto, de um lugar espiritual, visto que Deus é Espírito (Jo.4:24), assim como os anjos (Hb.1:14), um lugar onde não podem ingressar a carne e o sangue (I Co.15:50) e que, portanto, é algo que está além da nossa imaginação (I Co.2:9).
- É importante considerarmos que o céu é este lugar espiritual, que está além da nossa imaginação, a fim de que não venhamos a nos embaraçar com conceitos ou afirmações que levam em conta a literalidade do texto bíblico com relação ao céu. Como Deus nos quis revelar o que está preparado para os Seus servos, ante a pequenez de nosso entendimento e de nossa compreensão, utilizou figuras e símbolos a fim de que pudéssemos pelo menos ter uma vaga idéia do que o Senhor nos tem reservado, daquilo que Pedro denominou de “herança incorruptível” (I Pe.1:4).
- Desta maneira, jamais poderemos interpretar literalmente as figuras apresentadas nas Escrituras a respeito do céu, visto que são apenas imagens para a nossa compreensão, sem o que, de modo algum, poderíamos alcançar o que nos está reservado. Lembremos que o céu é a habitação de Deus, é um lugar espiritual, onde a beleza e formosura do Senhor, a Sua glória são plenas e, portanto, tudo quanto nos está revelado por figura será muito mais precioso e maravilhoso do que a própria descrição. Não foi sem razão que o apóstolo Paulo, ao dizer que havia estado no terceiro céu, afirmou que o que viu e ouviu era simplesmente inefável, ou seja, incapaz de ser traduzido em palavras (I Co.12:4).
- A dificuldade de saber o que é o céu se inicia na própria expressão. A Bíblia fala tanto em “céu” quanto em “céus”, havendo, pois, entre os estudiosos das Escrituras uma discussão sem fim a respeito de haver um ou mais de um céu. Há os que defendem que a expressão “céu” ou “céus” são equivalentes, não havendo diferença no singular ou no plural, até porque a palavra hebraica seria utilizada preferentemente no plural (”shamayim” - שמים), como é o caso de L.L. Morris. Outros, no entanto, como Russel Norman Champlin, entendem que há mais de um céu, que a diferença entre singular e plural demonstra a existência de níveis diferenciados de céu, tanto que Paulo menciona o “terceiro céu” e Salomão fala, entre outros, do “céus dos céus”. A tradição rabínica, aliás, defende a existência de “sete céus”, que seriam “níveis de glorificação” crescentes dos seres espirituais.
- Não queremos aqui adentrar nesta discussão, até porque não é o objeto de nosso estudo, mas apenas a ela nos referimos para mostrar quão complexo é o tema e como não podemos, de forma alguma, querer discernir as coisas espirituais que nos estão reservadas além daquilo que nos foi revelado. O importante é saber que Jesus nos preparou lugar, que este lugar as Escrituras chamam de “céu” e que é um lugar espiritual, além de nossa imaginação, um lugar onde as palavras humanas são absolutamente insuficientes para descrever as suas maravilhas e que só ali entrarão aqueles que tiverem suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro.
- O céu é um lugar onde habitaremos com o Senhor em glória, visto que, para ali entrarmos, necessariamente teremos de ser transformados, deixando este corpo de carne e sangue, este corpo abatido e recebendo um corpo glorioso, similar ao que Cristo teve quando ressurgiu dentre os mortos (Fp.3:21; I Co.15:42,49-54). Se a vida com Cristo, já nesta vida, é uma vida de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:15), que não será a vida no lugar da habitação de Deus, sem pecado, sem imperfeição, sem qualquer possibilidade de prejuízo na nossa comunhão com o Senhor. Como diz a poetisa sacra Eufrosine Kastberg: “Já os filhos de Deus bem alegres estão, porém no céu prazer maior terão. Os gozos do cristão apenas gotas são do mar de bênçãos em Sião” (refrão do hino 351 da Harpa Cristã).
- Embora não possamos sequer imaginar o que é o céu, além das figuras que a Bíblia nos apresenta, devemos ter a certeza de que, no céu, teremos plena consciência de quem somos e de que lá estamos. Há muitas pessoas que, inadvertidamente, acham que, no céu, seremos verdadeiros “zumbis”, ou seja, pessoas que não saberão quem são, pessoas que, por terem “esquecido as coisas que para trás ficaram”, serão seres que não terão a mínima noção do que foram na terra e que viverão em um ambiente sobrenatural, de um total vazio, de uma contemplação da glória de Deus que mais parece o estado “zen” de meditação de filosofias e credos orientais tão em voga na atualidade. Não, não e não!
- Quando a Bíblia nos fala que não nos lembraremos das coisas desta vida, está nos dizendo que, ante a glória que viveremos, ante o prazer que desfrutaremos, de modo algum teremos saudade ou desejo do que passou na vida debaixo do sol. A própria Palavra de Deus diz que, no Estado Eterno, não mais haverá a terra e o céu que nos deram guarida em nossa existência terrena (Ap.21:1), o que nos impedirá até de ter elementos físicos que nos façam lembrar o que passou. Este “esquecimento”, contudo, não é uma falta de memória, não é uma ausência de reconhecimento de nossa identidade, não é um “apagão” em nossa consciência, como muitos chegam a afirmar.
- O “esquecimento” mencionado nas Escrituras Sagradas nada mais é que a máxima intensificação do mesmo esquecimento de que já falava o apóstolo Paulo em Fp.3:13, “esquecimento” este já vivenciado dia-a-dia pelos salvos. Embora saibamos perfeitamente o que éramos antes de aceitar a Cristo e o que praticávamos, bem como tudo o que nos tem ocorrido na nossa vida diária, não vivemos do passado, não somos saudosistas, mas “esquecemos o que para trás fica e avançamos para as coisas que estão diante de nós”. Não esquecemos quem somos, não nos tornamos uns desmemoriados, seres que não têm consciência, que não têm identidade, mas, bem ao contrário, embora saibamos quem somos e quem fomos, temos o discernimento de que o que passou não nos leva até o céu, que temos de nos renovar diariamente na nossa caminhada para o céu.
- Ora, quando chegarmos ao céu, também saberemos quem somos e quem fomos. Como admitir que, no lugar da habitação de Deus, junto ao Onisciente, desfrutando da plenitude de Sua glória, tenhamos menos consciência, menos memória do que quando estávamos em um corpo corruptível? Como admitir que, na comunhão plena com o Senhor, saibamos menos do que quando sujeitos à tentação e à imperfeição? Seria a glorificação um estado menor do que a corruptibilidade? Evidentemente que não!
- Ao chegarmos ao céu, não perderemos a nossa identidade. Aliás, em corpo glorioso, ganharemos um novo nome, nome este que somente nós saberemos, pois teremos mantida a nossa individualidade em nosso relacionamento com o Senhor (Ap.2:17), sem deixar de ser povo de Deus (Ap.21:3). Isto mostra que não deixaremos de ser um indivíduo, um ser específico diante de Deus. Ao contrário do que defendem algumas religiões e seitas falsas, a glorificação não é uma absorção pela divindade, não é um sumir dentro de Deus, mas, sim, o manter uma consciência de quem se é. Por isso, não perderemos nossa identidade, não seremos um “zumbi”, mas, sim, um ser consciente de quem se é, mas que esquece as coisas passadas, pois o eterno presente da glória de Deus é algo tão sublime que não permitirá que em nenhum instante se pense, se deseje ou se volte para o que ficou para trás.
- Por isso, também, não devemos esperar no céu uma vida de “sombra e água fresca”, como, aliás, crêem os muçulmanos, cujo paraíso é um grande oásis, um lugar de muita água, mulheres e fartura, sem dúvida algo bem atraente e convidativo para um povo que vive o dia-a-dia da carência do deserto, como é o caso do povo árabe, onde surgiu o Islamismo. Neste particular, aliás, não só os muçulmanos, como também os judeus e muitos cristãos, envolvidos com a literalidade da descrição dos textos sagrados, acabaram construindo uma imagem do céu como um lugar de satisfação dos prazeres carnais, o que deve ser rechaçado pelos verdadeiros e instruídos servos do Senhor.
OBS: “…Todas as religiões, não só a judaica, sentiram a necessidade de acreditar num mundo posterior que fosse tangível, embora invisível, e cuja realidade podia ser incutida nos mais simplórios. Como a maior parte da Humanidade sempre teve dificuldade em compreender idéias abstratas, as recompensas e os castigos prometidos para o Mundo-do-Além precisavam ser traduzidos em termos compreensíveis e concretos através de símbolos acessíveis aos conhecimentos e à experiência de todos. Assim, o Gan Éden [o paraíso, observação nossa] e o Guehinom [o inferno, observação nossa] eram descritos, convenientemente, em termos físicos: eram lugares bem organizados, institucionalizados como os vários departamentos em que se vivia, na Terra. Eram descritos, sob o aspecto geográfico e administrativo, com muitos detalhes e com a precisão de um plano arquitetônico.(…). Talvez os próprios Sábios esclarecidos fossem responsáveis, em parte, pelas idéias primitivas sobre o Guehinom e o Gan Éden que eram aceitas pelo povo Como todos os mestres de religião, também eles apreciavam o simbolismo.(…). Isto conduzia, às vezes, a confusões e mal-entendidos da parte dos mais simplórios. Para citar um exemplo: os Pais da Mishnah [a lei oral judaica, observação nossa] haviam ensinado que ‘este mundo é somente um vestíbulo que leva ao salão de banquetes do Céu’. Os crédulos devem ter perguntado: ‘Que se faz num salão de banquetes?’ Come-se e bebe-se, naturalmente! E, como Deus era um anfitrião muito generoso e tinha de tudo, o povo imaginava que a recompensa para os virtuosos era um banquete contínuo e farto no ‘salão de banquetes do Céu’, brilhantemente iluminado, reclinados como reis em divãs luxuosos… As pièces de résistance [os pratos principais, observação nossa] do cardápio seriam ‘Leviathan’ em salmoura, e ‘boi selvagem’ (shor ha-bar) acompanhados de goles generosos do ‘vinho conservado na uva desde os seis dias da Criação’…” (AUSUBEL, Nathan. Mundo-do-Além. In: JUDAICA, v.6, p.587-8).
- Nossa entrada no céu não tem outro propósito senão o de nos glorificar, ou seja, de nos dar condições de podermos desfrutar da glória divina, de participarmos da “herança incorruptível”. Habitar com Deus, ser parte do povo de Deus, nada mais é que cumprirmos o objetivo inicial da criação do homem, que era o de ser uma criatura com livre acesso ao Criador, a fim de adorá-lO e de servi-lO, desfrutando do Seu amor e de Sua convivência.
- Jesus, em Sua oração sacerdotal, disse que o objetivo de Seu ministério era fazer com que fôssemos um com o Pai, assim como Ele o era (Jo.17:21,22). A perfeição da unidade exige a glorificação, a glória que o Pai deu ao Filho e, pelo qual, o Filho Se sujeita ao Pai, tendo vencido a tudo e a todos (I Co.15:28). Assim, somos glorificados, para entrar no céu, com o propósito de nos sujeitarmos a Deus, ou seja, para o fim de O adorarmos para todo o sempre. Por isso, Jesus disse que seremos como os anjos no céu (Mt.22:30; Mc.12:25), prova de que, no céu, serviremos ao Senhor, prestaremos a Ele louvor e desempenharemos as tarefas que nos forem destinadas.
- No céu, glorificados, seremos semelhantes ao Senhor Jesus (I Jo.3:2) e, por isso, assim como no princípio, antes do pecado, recebermos da parte de Deus tarefas, um trabalho (Gn.2:15), pois Deus é um ser que trabalha, tanto o Pai quanto o Filho (Is.64:4; Jo.5:17). Não se pense, pois, que o céu é um lugar de ociosidade, de satisfação de prazeres carnais, mas um lugar onde estaremos a serviço do Senhor, um serviço prazeroso em glória.
OBS: Recentemente, ouvimos de uma irmã que determinado servo de Deus teve uma visão de que os salvos estavam todos à margem do rio da vida, com os pés na água, brincando de mexer com os pés, como fazem as crianças e que isto seria a vida no céu. Nada mais antibíblico. Deus não nos levará para o céu para ficarmos com brincadeiras infantis de mexer com os pés à margem do rio da vida. Deus nos levará para o céu para desfrutarmos com Ele de uma íntima comunhão, tendo o prazer de servi-lO e adorá-lO em glória na beleza da Sua santidade!
III - O QUE É A NOVA JERUSALÉM
- A Nova Jerusalém é a cidade celestial que foi feita para ser o local onde Deus habitará juntamente com os homens que Lhe foram fiéis e aceitaram a Sua oferta de submissão e obediência à Sua Palavra. A Nova Jerusalém é o local que substituirá o Éden como morada de Deus com os homens. Ela é explicitamente mencionada e revelada no capítulo 21 do livro do Apocalipse, mas, antes da visão do apóstolo João, já havia referências a ela nas Escrituras. O próprio Jesus já havia mencionado existir um lugar que seria por Ele preparado para que os Seus servos nele habitassem para sempre com o Senhor (Jo.14:3).
- A Nova Jerusalém apresenta-se, portanto, como o ambiente, o lugar onde Deus morará com os homens. É a restauração da convivência completa e perfeita entre Deus e os homens que havia antes que o pecado causasse o atual estado de divisão que existe entre Deus e a humanidade. Somente na Nova Jerusalém, esta comunhão será restabelecida por completo, ocorrendo aquilo que é dito pelo apóstolo, de vermos Deus como ele é (I Jo.3:2).
- As Escrituras afirmam que nenhum homem nascido e criado nesta nossa dimensão viu a Deus (Jo.1:18; I Jo.4:12), porque, no atual estado em que nos encontramos, isto não é mesmo possível, pois é preciso que sejamos glorificados para que possamos contemplar o Senhor na Sua plenitude, ou seja, de forma completa, dentro das nossas imperfeições, naturalmente, pois sabemos que Deus é infinito e jamais poderemos contemplá-lo em Sua imensidão.
- O objetivo de Deus é fazer com que tenhamos, novamente, um lugar onde possamos habitar com Deus e a Nova Jerusalém é este local. Mas, se bem analisarmos, veremos que o Senhor é tão maravilhoso que, ao invés de tão somente substituir o Éden, proporcionou um lugar melhor do que o Éden. Senão vejamos:
a) no Éden, havia, a princípio, apenas minerais (Ez.28:13) e só depois Deus plantou nele um jardim para ali colocar o homem (Gn.2:8,9). Na nova Jerusalém, entretanto, há, desde o início, tanto minerais quanto vegetais (Ap.21:12-21, 22:1,2).
b) no Éden, Deus comparecia na viração do dia para falar com o homem (Gn.3:8), enquanto que, na nova Jerusalém, a convivência será eterna, contínua, pois lá não haverá, inclusive, noite (Ap.21:3). Deus visitava o Éden, mas morará na nova Jerusalém.
c) no Éden, o homem, apesar de viver em delícias, tinha dores, pois Deus disse que à mulher que multiplicaria grandemente as suas dores (Gn.3:16) e só pode haver multiplicação de algo que já exista. Na nova Jerusalém, porém, é dito que Deus removerá todo pranto, toda dor, toda lágrima, todo clamor (Ap.21:4).
d) no Éden, havia uma restrição ao homem, que era a de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17). Na nova Jerusalém, porém, não há notícia de qualquer restrição ao homem nem de que esta árvore continue a existir ali, mas se faz menção tão somente da árvore da vida (Ap.22:2).
e) no Éden, o homem era meramente um mordomo, com poder apenas sobre a criação. Na Nova Jerusalém, entretanto, o homem, embora continue sendo servo de Deus, participa do governo divino, não é mais simplesmente servo, mas amigo de Deus (Jo.15:15), tanto que lhe será permitido participar do reino divino (Ap.21:5).
f) no Éden, houve espaço para a maldição divina (Gn.3:14-17), mas, na nova Jerusalém, ninguém ou nada jamais poderão ser amaldiçoados (Ap.22:3).
g) no Éden, o governo e a administração eram humanos, sob supervisão divina (Gn.1:26-28; 2:16), mas, na nova Jerusalém, o governo e a administração serão divinos, com participação humana (Ap.22:3,5).
- Por isso, ao vermos que a Nova Jerusalém é superior ao Éden, temos que concluir que os bem-aventurados que nela puderem entrar (cfr. Ap.22:14) reconhecer-se-ão uns aos outros, serão pessoas conscientes de onde estão, de quem são e porque ali estão. Muitos se indagam se, no céu, nós iremos ter noção de quem somos, de onde estamos e que o que estaremos a fazer. Muitos acham que, como a Bíblia afirma que não nos lembraremos mais de nossas dores e tristezas deste mundo, seremos pessoas sem noção do que fomos aqui na Terra e não teremos condição de nos reconhecermos uns aos outros nos céus. Não entendemos assim, entretanto. Por que Deus salvaria milhões e milhões de homens, para com eles habitar, se estes homens não tivessem sequer a noção de quem são, de quem é Deus e de onde estão? Como homens que venceram o pecado, que combateram o bom combate, que foram fiéis até o fim, passariam a eternidade sem a mínima noção de quem são? Como poderiam homens glorificados terem menos consciência do que quando viviam ainda numa natureza sujeita ao pecado?
- Certamente que homens e mulheres remidos, vivos para todo o sempre, não terão motivo algum para se lembrarem ou se amargurarem com sofrimentos, pesares, reminiscências do tempo em que viveram nos antigos céus e terra. Hoje em dia, num mundo de pecado e de miséria, ninguém se martiriza com lembranças desagradáveis do passado não tão remoto assim e se o fazem, são tidos como portadores de alguma doença mental, geradora de traumas, síndromes ou paranóias. Então, se no ambiente imperfeito que vivemos, o normal é se esquecer do passado sombrio, por que haveria de ser diferente na dimensão sublime da comunhão plena com o Senhor ? Agora, o fato de não nos lembrarmos, de não ficarmos presos a fatos passados, em absoluto significa que seremos verdadeiros “zumbis” no céu, sem saber sequer quem somos. Deus, pelo Seu caráter, jamais iria realizar um plano para a salvação do homem que quis conhecer o bem e o mal, para ter adoradores inconscientes e sem noção sequer de quem são. Como poderá o homem, na eternidade, louvar e bendizer ao Senhor, para todo o sempre, sem sequer saber quem é e que existem outras pessoas ali juntamente com ele ? Definitivamente, não é esta idéia concordante com o que as Escrituras afirmam ser o nosso Deus.
- É importante verificarmos que a nova Jerusalém já está vindo para ocupar o seu devido lugar no novo universo que será formado. Jesus afirmou que a nova Jerusalém já existia ao tempo de Seu ministério terreno. Sua assertiva é bem clara: “na casa do meu Pai, há muitas moradas, se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”. A cidade santa já existia e já tinha muitas moradas. Embora ela existisse, porém, o homem não poderia habitá-la, ou seja, o homem não estava preparado para poder ingressar nesta cidade, precisamente porque tinha suas vestes manchadas pelo pecado.
- Sabemos todos que há grandes restrições para que alguém entre nos Estados Unidos da América. É preciso que a pessoa obtenha visto do governo norte-americano para li ingressar e são várias as modalidades de visto. Os Estados Unidos existem, têm milhares de cidades, cadas, edifícios, mas não há lugar algum preparado para aquele estrangeiro que não tiver visto para ali entrar. No dia em que lhe for providenciado um visto, ele ali poderá entrar, ele ali terá lugar, enquanto não, não. Pois é exatamente o que ocorre com a Nova Jerusalém. Jesus afirmou que a cidade já existia, que tinha muitas moradas, mas o lugar ainda não estava preparado, porque não havia como o ser humano conseguir ali entrar. Era preciso que alguém morresse e pagasse o preço da desobediência e, assim, retirasse a espada que impedia o acesso do homem à árvore da vida (Gn.3:24). Esta espada foi retirada por Jesus, quando morreu por nós na cruz do Calvário (Lc.2:35) e, assim, nos abriu um novo e vivo caminho que nos introduz à Jerusalém celestial (Hb.10:19-23).
- O primeiro a ingressar na nova Jerusalém foi o próprio Jesus, como nos relata o Sl.24. O salmista indaga quem poderia subir ao monte do Senhor, ao lugar santo, e aqui se refere a este lugar onde Deus conviverá com o homem, figurado pelos altares, tendas e templos que foram construídos ao longo da história da humanidade (observemos, aliás, que este salmo é anterior à construção do próprio templo de Salomão). O salmista afirma que somente poderia ali entrar quem fosse limpo de mãos e puro de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade, nem jurasse enganosamente(Sl.24:3,4). Ora, como diz o próprio salmista, em outro salmo, olhando do céu, o Senhor não viu sequer um justo que pudesse preencher estes requisitos (Sl.14:2,3; 53:1). Por isso, o próprio Deus, na pessoa do Seu Filho, desceu ao mundo, para poder executar este indispensável trabalho, pois só assim o Filho poderia receber a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação e criar uma geração de homens que buscassem a face do Senhor(Sl.24:6). Aí, sim, tendo feito o Seu trabalho e satisfeito a justiça divina (Is.53:10-12), ressuscitou e foi o primeiro a entrar na cidade santa (Sl.24:7,8), de onde voltará (Jo.14:3), para lá levar a Sua Igreja (Sl.24:9,10).
- Os segundos a ingressarem na nova Jerusalém serão os arrebatados pelo Senhor no momento imediatamente anterior ao início da Grande Tribulação. Como afirmam alguns estudiosos das Escrituras, entre os quais os pastores Aldery Nelson Rocha e Ailton Muniz de Carvalho, a nova Jerusalém há muito está descendo do céu. Engana-se quem pense que a nova Jerusalém descerá do céu depois do juízo final, pois ela tem descido desde que teve seus lugares preparados para os homens. A partir de então, a nova Jerusalém vem continuadamente vindo em direção à Terra. Chegará à área das regiões celestiais hoje habitadas pelas hostes espirituais da maldade no instante do arrebatamento da Igreja. Depois, já com a Igreja arrebatada em seu interior, continuará a descer e atingirá a atmosfera terrestre exatos sete anos depois, quando, então, ocorrerá a batalha do Armagedom. Após esta batalha, receberá, em seu interior, os que completarem a primeira ressurreição (as duas testemunhas, os 144.000 e os mártires da Grande Tribulação). Em seguida, nos ares de nossa atmosfera, pairará durante todo o Milênio, sendo, segundo estes estudiosos, a sua presença uma das principais responsáveis pelas modificações climáticas e físicas que a natureza terá neste período. Por fim, ao término do Milênio, ocupará o seu devido lugar, nos novos céus e nova terra, que substituirão os antigos céus e terra. A Nova Jerusalém seria, assim, como uma super e gigantesca estação espacial a caminho da Terra.
- A descrição da Nova Jerusalém é sublime e nos enche de gozo e nos faz pensar, como o poeta sacro, que, se é glorioso pensar nas grandezas dali, que não será desfrutá-los e é por isso que o apóstolo Paulo nos conclama a jamais desanimarmos nem desistirmos, por maiores que sejam as provas e as lutas, pois “…as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Rm.8:18). No entanto, não devemos nos esquecer que a nova Jerusalém é de outra dimensão, da dimensão celestial e que, portanto, muito de sua descrição é figurativa, é alegórica, não pode ser compreendida literalmente, pois se trata de uma descrição feita por Deus aos homens para que pudéssemos compreender, na limitação da nossa mente, o que nos está reservado, pois é algo que está muito além de nossa parca imaginação (I Co.2:9).
- Em primeiro lugar, devemos observar que a nova Jerusalém tem a glória de Deus (Ap.21:11). A glória de Deus é uma característica típica dos lugares santos e, por isso, a nova Jerusalém é o lugar santo por excelência e nela não haverá necessidade de templo, pois o seu templo será o próprio Deus. A nova Jerusalém é a morada de Deus com os homens, um lugar onde Deus Se manifestará na Sua glória. Teremos um privilégio que um dia foi do querubim ungido, qual seja, o de contemplar a glória de Deus para todo o sempre.
- Em segundo lugar, vemos que a cidade tem doze portas, com os nomes das doze tribos de Israel e o muro da cidade, doze fundamentos, com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Isto, naturalmente, é uma linguagem figurada para nos mostrar que o fundamento, a razão de ser da convivência eterna com Deus é a salvação na pessoa bendita de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A salvação vem dos judeus e através da fé em Cristo Jesus. Daí porque a cidade ostentar tanto os nomes das tribos de Israel, ou seja, os filhos de Jacó que formaram o povo de onde veio a salvação do mundo, como também os nomes dos doze apóstolos, aqueles que foram os “filhos na fé” de Jesus, que foram escolhidos para iniciar a obra da Igreja, o novo povo de Deus. Não há outro caminho para a comunhão com Deus senão Jesus, o Messias de Israel, a cabeça da Igreja: “só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” (I Tm.2:5).
- Em terceiro lugar, vemos que a cidade é um cubo, com 2.200 km de comprimento(Ap.22:16 NVI), o que dá um volume de 10.648.000.000 km³, ou, em notação científica, 1,0648 .10¹² km³, o que é quase o volume do próprio planeta Terra, que é de 1,081.10¹² km³, ou seja, a cidade celeste tem praticamente o mesmo volume do planeta, ou seja, há lugar suficiente para quem quiser aceitar a Cristo como Salvador (observando que o planeta não pode ser ocupado pelo homem senão em parte ínfima, já que 2/3 é de água e a crosta terrestre tem uma dimensão extremamente diminuta em relação ao volume do planeta, ou seja, há muito mais lugar na cidade santa do que na própria Terra para o homem).
- Em quarto lugar, a cidade tem um muro, ou seja, é protegida, é organizada. A presença do muro nas cidades antigas era, a um só tempo, demonstração de segurança, de soberania e de organização. Uma cidade que tinha muros era uma cidade que tinha governo, que tinha alguém zelando pela segurança dos cidadãos, que impunha autoridade e respeito. Era uma cidade que tinha ordem, que tinha organização. Era uma cidade que protegia os seus cidadãos contra os inimigos. Enquanto no Éden não há notícia de que houvesse muros, tanto que o inimigo ali adentrou, na nova Jerusalém isto não é possível. Não significa afirmar que haverá um muro literal, físico, até porque, como as Escrituras afirmam, o céu e a terra como conhecemos já não mais existirão a este tempo (Ap.21:1) e a nova Jerusalém é uma cidade que vem do céu, do chamado “Universo absoluto”, não é algo que faça parte da criação relativa que será substituída, que terá desaparecido, como nos descreve o apóstolo Pedro (II Pe.3:10,11) e nos afirma o próprio Jesus (Mt.24:35). Mas é uma forma clara de o Senhor nos revelar que a nova Jerusalém é um local de ordem, de organização, de proteção divina e onde o Senhor estabelecerá o Seu domínio para todo o sempre.
- Em quinto lugar, a cidade é descrita como contendo pedras preciosas e ouro, ou seja, aquilo que é mais venerado e procurado pelos homens que não têm a perspectiva da eternidade, aqueles que servem às riquezas e, por isso, não podem servir a Deus (Mt.6:24; Lc.16:13), é tão somente adorno, enfeite e material para aspectos secundários e supérfluos na cidade santa. Os muros são feitos e ornados de pedras preciosas, as ruas, de ouro. Os remidos pisarão em ruas de ouro, ou seja, os valores materiais, aquilo que os homens tanto veneram e respeitam em nossa vida secular, nada representam na vida celestial. O ouro que é tão procurado, que é alvo de tantas disputas, que faz com que o mundo rode, na conhecida expressão inglesa (”money makes the world go around”, ou seja, o dinheiro faz o mundo rodar), na santa cidade, não passa de chão, de algo que é pisado, nem sequer observado, algo sem qualquer valor. Os valores celestiais, espirituais são muitíssimo superiores aos materiais e é isto que esta alegoria nos revela. Por isso, enquanto é tempo, desprendamo-nos das coisas materiais, não assumamos nem sejamos coniventes com doutrinas e ensinos ditos cristãos que privilegiam a posse de bens materiais, a prosperidade material, porque, se assim fizermos, não seremos achados dignos de morar na nova Jerusalém, onde nada disso tem valor.
- Em sexto lugar, vemos que, mesmo nesta santa cidade, a Palavra de Deus continuará a ter valor. Os céus e a terra passaram, mas a Palavra de Deus nunca passará, permanecerá para sempre, mesmo na santa cidade. A cidade não necessitará de sol nem de luz, porque será iluminada pela glória divina e, mais, terá o Cordeiro como sua lâmpada (Ap.21:23). Ora, o Cordeiro, quando descer desta santa cidade, com a Igreja, para libertar a Israel, mostrará que lâmpada é esta: “…e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus.” (Ap.19:13b), “…lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para o meu caminho” (Sl.119:105). Jesus é o Verbo de Deus, a Palavra de Deus e, assim como João viu a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade, ainda que encarnado, nós contemplaremos esta glória eternamente, pois “…a palavra do Senhor permanece para sempre” (I Pe.1:25a) e no céu (Sl.119:89). Compreendamos, portanto, quão poderosa é a Palavra de Deus, que permanecerá válida e soberana até mesmo na Nova Jerusalém, o que não é de se admirar, já que o Senhor pôs a Sua Palavra acima de Si mesmo (Sl.138:2). Será à luz desta Palavra que as nações seguirão na eternidade com Deus e O adorarão (Ap.21:24). Pela presença da Palavra é que a cidade se manterá santa e sem coisa alguma que a contamine (Ap.21:27), pois é a Palavra quem santifica (Jo.17:17).
- Em sétimo e último lugar, a cidade apresenta o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procede do trono de Deus e do Cordeiro e, no meio da praça, a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, cujas folhas são para a saúde das nações (Ap.22:1,2). Esta linguagem, igualmente figurada, fala-nos da eternidade de que desfrutarão os habitantes desta santa cidade. No Éden, como vimos, o homem possuía uma eternidade condicional, fora feito mortal, mas, enquanto obedecesse ao Senhor, jamais morreria. Aqui, porém, a situação é bem diferente. O homem tem a vida eterna, esta dádiva que é recebida por todos aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo.3:16; 17:3; I Jo.5:11,12). O texto fala-nos, assim, da vida eterna.
- Fala-nos da vida, porque o rio puro da água da vida que procede do trono de Deus e do Cordeiro é símbolo da comunhão entre Deus e o homem através de Jesus Cristo, resultado da crença em Jesus. “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva manarão do seu ventre” (Jo.7:38) e “…aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo.4:14). Somente pode morar na Nova Jerusalém quem tem a vida eterna, quem recebeu a água viva oferecida por Jesus e que, recebida em nosso espírito, é distribuída aos homens, levando-nos para a glória celeste. Quem não tem comunhão com Deus através de Jesus Cristo jamais poderá alcançar a salvação, sendo esta uma das passagens que bem demonstraram que só Jesus é o caminho para o aperfeiçoamento espiritual do homem, para que ele atinja o objetivo de viver eternamente com o seu Criador.
- Mas o texto também nos fala de eternidade, porque nos diz que, no meio da praça, há a árvore da vida que, de mês em mês, dá seu fruto e que seu fruto é restaurador, sarador, é para a saúde das nações. A vida na nova Jerusalém é eterna, pois Deus Se encarregará de regenerar constantemente o homem, de impedir que o tempo tenha qualquer efeito sobre ele. É o Estado Eterno, ou seja, o tempo não mais existirá. Os séculos terão se consumado (Mt.28:20), mas o Senhor continuará conosco, providenciando e garantindo a perpetuidade da nossa existência ao Seu lado. A árvore da vida é o próprio Cristo, o Pão da Vida, “…o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra”(Jo.6:50), “…o pão vivo que desceu do céu [que] se alguém comer (…) viverá para sempre.” (Jo.6:51a). A comunhão que nos dá a vida eterna, simbolizada na ceia do Senhor, será, então, uma realidade contínua e completa para todo o sempre. A periodicidade mencionada no texto de Ap.22:2 é figurativa, apenas retrata a constância com que se dará esta comunhão, pois, na nova Jerusalém, não haverá mais tempo, assim como também é figurativa a afirmação concernente à saúde das nações, pois, na nova Jerusalém, não haverá qualquer possibilidade de doença. O que o texto está a afirmar é que a restauração espiritual operada nos homens que perseveraram até o fim será eternamente sustentada e garantida pelo Senhor, a nossa árvore da vida.
OBS: Por isso, até, muitas denominações, inclusive as Assembléias de Deus, estabeleceram a periodicidade mensal da ceia do Senhor, por entender que ela é uma figura da comunhão eterna da nova Jerusalém, comunhão esta descrita em Ap.22:2.
“…Os simbolismos requerem muitos cuidados nas suas interpretações, eles podem ser revestidos de figuras de linguagem, como podem estar revelando grandes verdades. No assunto em pauta [o rio e a árvore da vida, observação nossa], preferimos admitir que estejam sendo reveladas grandes verdades, porém de maneira espiritual e não literal. O próprio Cristo é a árvore da vida que dá vida a todos os homens. Ele é a própria Palavra, o Verbo encarnado. A Palavra de Deus é a fonte de vida para todos que nela crer.(…). Suas folhas dão saúde, assim como Sua Palavra salva e limpa todos os males espirituais da humanidade. As folhas de uma árvore revelam sua condição: quando elas estão amarelas, dizem que a árvore poderá estar doente; quando secas, pode estar morta; quando estão verdes e brilhosas, entendemos que está com vida boa. Assim é o justo que confia no Senhor, quando é nutrido pela Palavra….” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.195).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A promessa da segunda vinda de Cristo

A promessa da segunda vinda de Cristo é a promessa mais importante dirigida à Igreja depois da salvação.
INTRODUÇÃO
- A promessa da segunda vinda de Cristo é a promessa mais importante registrada em o Novo Testamento, tanto que é a mais repetida em todo o texto sagrado. Promessa voltada para a Igreja, é a esperança de todo cristão, a razão de ser da sua vida espiritual.
- Os dias difíceis em que vivemos são dias em que muitos já não crêem mais nesta promessa, mas devemos nos alimentar desta esperança todos os dias, pois não crer nesta promessa é sinal de apostasia (I Pe.3:3,4).
I - A PROMESSA DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO
Colaboração/Gráfico: Enomir Santos
- A promessa da segunda vinda de Cristo é a promessa mais repetida em o Novo Testamento. Por 318 vezes, esta promessa é lembrada no texto sagrado, o que mostra, claramente, que se trata da promessa mais importante para a Igreja, a razão de ser da sua própria fé. Paulo, na sua última epístola, mostra que era esta a sua esperança, tanto que diz que esperava a coroa que estava reservada não só a ele, mas a todos quantos amassem a vinda do Senhor (II Tm.4:8), a nos indicar, portanto, que o motivo do bom combate, da guarda da fé e da carreira até o fim era o amor à vinda de Jesus.
- Trata-se de uma promessa dirigida à Igreja. Com efeito, todas as vezes que o Senhor Jesus fala a respeito de Sua vinda, mostra que se trata de uma promessa reservada para os Seus discípulos. No famoso sermão escatológico, o Seu maior sermão, vemos claramente que se trata de uma conversa entre Cristo e Seus discípulos (Mt.24:3; Lc.21:7), sendo nítido, em todo o sermão, que o Senhor traz uma mensagem à Igreja.
- Na parábola das dez virgens, também, vemos que Jesus Se identifica com o noivo, a nos mostrar que se trata de uma promessa dirigida única e exclusivamente à noiva, que outra não é senão a Igreja (Ef.5:23; Ap.19:7; 21:9; 22:17). O apóstolo Paulo, mais de uma vez, também nos mostra que a promessa da volta de Cristo é algo reservado para a Igreja, em passagens como I Co.15:23, 52-58; Fp.3:20,21; I Ts.1:10; 5:9, tendo, no mesmo sentido, se manifestado tanto Tiago (Tg.5:7), Pedro (I Pe.1:4; II Pe.1:16; 3:9,10) e João (I Jo.2:18; 3:1-3).
- A promessa da vinda de Cristo, portanto, é uma promessa dirigida para a Igreja, considerando-se como “vinda de Cristo” o arrebatamento, a promessa que Jesus deixou dirigida aos Seus discípulos em meio a Suas últimas instruções, como se vê de Jo.14:1-3. O plano da salvação envolve a convivência eterna com o Senhor e, por isso, tem-se como necessária a vinda de Cristo para não só nos levar para junto dEle, mas também para premiar aqueles que nEle creram e que, por conseguinte, não merecem sofrer a ira divina que há de vir sobre a face da Terra.
- A promessa da vinda de Cristo é uma promessa incondicional. Jesus diz “certamente cedo venho” (Ap.22:20) ou, ainda, “eis que cedo venho” (Ap.22:12), a mostrar que se trata de uma afirmação do Senhor que não depende de qualquer condição para que seja cumprida. Como diz o poeta sacro Justus H. Nelson, no hino 36 da Harpa Cristã, “Sua vinda é certa”, embora não saibamos quando. Jesus virá, estejamos preparados ou não, o que aumenta a nossa responsabilidade. Existem condições para sermos arrebatados, mas a promessa do arrebatamento é incondicional.
- Por fim, vemos que a promessa da vinda de Cristo, como toda promessa divina, tem um propósito espiritual. Além de ser uma promessa nitidamente espiritual, visto que dirigida para o povo santo, para o povo espiritual que é a Igreja (I Pe.2:9,10), tem-se que Jesus virá buscar a Sua Igreja a fim de que se possa derramar sobre a face da Terra a ira de Deus, o que não seria possível ante a presença de um povo justo e santo (Gn.18:23-26), bem como se possa cumprir a promessa das setenta semanas de Daniel com a redenção do povo de Israel (Dn.9:24-27), primeiro passo para o cumprimento das promessas messiânicas que ainda estão por cumprir.
II - A PROMESSA DA VINDA DE JESUS E A IGREJA PRIMITIVA
- Jesus, em Seus ensinamentos, sempre deixou claro aos discípulos que Ele haveria de voltar a esta Terra. O sermão escatológico de Jesus, o Seu maior sermão registrado nas Escrituras, responde a uma indagação dos discípulos a respeito do tempo em que o templo de Jerusalém seria destruído, como também de quando seria a Sua vinda (cfr. Mt.24:1). Isto nos mostra, de forma clara, que.
- A noção de que Jesus voltaria a esta Terra por uma segunda vez, até a revelação proporcionada por Jesus a Seus discípulos, não era algo tão evidente até então. Nas profecias messiânicas do Antigo Testamento, havia a promessa da vinda do Messias, que livraria Israel dos seus inimigos bem como estabeleceria um concerto eterno entre o povo e Deus, com o término dos pecados e de toda a transgressão, mas nunca se havia cogitado, de uma forma clara, que o Messias viria duas vezes. A profecia mais próxima a permitir uma ilação desta natureza é, precisamente, a profecia das setenta semanas, onde se diz que, na sexagésima nona semana, o Messias seria tirado e não seria mais (Dn.9:26), mas uma pequena porção que passou despercebida pelos escribas e rabinos israelitas, o que, aliás, foi explicado pelo apóstolo Paulo, que disse ter havido como que um véu cobrindo e cegando o entendimento de Israel (cfr. II Co.3:14-16), para que se abrisse a presente oportunidade para todos os gentios (cfr. Rm.11:25).
- A pergunta dos discípulos, entretanto, mostra que Jesus lhes revelara, durante o Seu ministério terreno, mais este segredo, ou seja, o de que o Messias viria, mas seria rejeitado por Israel e formaria um novo povo, a Igreja (cfr. Ef.3:4-12), abrindo uma oportunidade a todos os seres humanos para a salvação, num tempo indeterminado em que seria anunciado o Evangelho, tempo que as Escrituras denominam de “hoje” (cfr. Hb.4:6-11), um “hoje”, entretanto, que, como todo dia, findará à meia-noite (cfr. Mt.25:6), quando, então, ocorrer o encontro da Igreja com Jesus, que é, precisamente, o arrebatamento da Igreja.
- O arrebatamento da Igreja é, portanto, o fato que porá fim à dispensação da Igreja, a este tempo que estamos vivendo em que o Espírito Santo atua livremente, através de todos os homens e mulheres que, independentemente de raça, tribo ou nação, aceitam a mensagem do Evangelho, crêem que Jesus é o Salvador e se submetem ao Seu senhorio, passando a viver segundo a Sua vontade. Arrependendo-se de seus pecados e passando a ser novas criaturas, os salvos em Cristo passam a formar a Igreja e a fazer a vontade de Deus, anunciando, através de sua nova vida e de palavras, confirmadas com sinais, que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o céu. Ao mesmo tempo que pregam o evangelho, os membros da Igreja, que é o corpo de Cristo, não cessam de dizer, também, que Jesus breve virá, que há um tempo para aceitarmos o perdão dos pecados oferecido por Deus através de Jesus Cristo, preparando-se e desejando que Jesus venha para nos buscar, pois, então, cessará o “dia aceitável do Senhor”, dando-se início ao “dia da vingança do nosso Deus” (cfr. Is.61:2).
- Pelo que vemos, portanto, Jesus deixou bem claro aos discípulos a respeito da Sua volta, tanto que é esta a mensagem que mais vezes se repete no Novo Testamento. A vinda de Jesus é o fato futuro que é aguardado pela Igreja, tanto que, no seu instante mais solene, que é a celebração da ceia, ao tomar do pão e do vinho, símbolos do corpo e do sangue de Jesus, aponta para a vinda do Senhor (cfr. I Co.11:26).
- Os escritos dos apóstolos mostram, também, com clareza, que a Igreja esperava ansiosamente a volta de Jesus, ainda para os seus dias. Paulo discorre sobre o arrebatamento (como teremos ocasião de ver infra) tanto na sua primeira carta aos coríntios, no capítulo 15, como em sua carta aos tessalonicenses, no capítulo 4. João refere-se à vinda do Senhor em suas epístolas, assim como Tiago, Pedro e Judas. A revelação dada a João na ilha de Patmos, que resultou no Apocalipse, é como que a coroação da esperança da igreja dos tempos apostólicos na vinda do Senhor, esperança esta que não deveria cessar em momento algum da história da Igreja, tanto que a última oração das Escrituras outra não é senão o de pedido de volta do Senhor: “Ora vem, Senhor Jesus” (Ap.22:20 “in fine”).
- Estes escritos dos apóstolos, por sua vez, mostram claramente que os cristãos dos tempos apostólicos tinham uma viva esperança do imediato retorno de Cristo para buscá-los. O fato de os apóstolos terem escrito a este respeito revela que se tratava de um assunto presente na mente e nos corações dos crentes. Já em Jerusalém, o fato de os crentes terem vendido todas as suas propriedades e de passarem a viver numa comunidade sem maiores preocupações com a vida secular (cfr. At.4:32-37) é um fator que revela que esperavam Jesus para aqueles dias e com um ímpeto tal que se descuidaram completamente da vida secular (e da própria evangelização do mundo), o que, sem dúvida, havia sido aguçado pelo fato de a mensagem da volta de Cristo ter sido reforçada pela visão angelical que se seguiu à ascensão do Senhor (At.1:10,11).
- Os crentes de Tessalônica, por sua vez, começaram a se desesperar ao perceber que alguns crentes estavam falecendo antes da volta de Cristo, a indicar, portanto, que também esperavam Jesus para os seus dias, o que levou Paulo, em suas duas cartas àquela igreja, a fazer ponderações, reavivando seus ensinamentos a respeito do tema, para que não houvesse, ali também, exageros que levassem ao descrédito da mensagem escatológica, descrédito este que já foi sentido pelo apóstolo Pedro, como fica claro na sua segunda epístola, e que, assim como naquele tempo, tem sido uma das principais armadilhas do inimigo no meio do povo de Deus.
III - A IDÉIA DA VOLTA DE CRISTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
Colaboração/gráfico Jair César
- Entretanto, até por conta de alguns exageros, a mensagem escatológica, paulatinamente, foi perdendo força no meio da Igreja e, com a assimilação do paganismo, deixou, mesmo, de ser até pregada e ensinada, pois, como já vimos em lições anteriores, passou a ser adotada como doutrina oficial da Igreja Romana, o “amilenismo”, ou seja, a consideração de que não haveria um reino milenial de Cristo, de que o reino de Cristo é o tempo da Igreja, de modo que se passou a dizer que a volta de Cristo somente se daria para o julgamento final, no fim dos tempos, quando viria para julgar os vivos e os mortos.
OBS: Esta idéia foi cristalizada no chamado “Credo dos apóstolos”, que tudo indica tenha sido formulado em Roma por volta do segundo século. Nele é dito: “… E [creio] em Jesus Cristo, Seu Filho Unigênito e nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu ao inferno. Ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos. Subiu ao Céu e assenta-Se à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso. Dali virá para julgar a vivos e mortos….” (grifo nosso)
- Assim, a expressão “volta de Cristo”, também chamada de “advento” ou, ainda, “segundo advento”, passou a representar apenas o retorno de Jesus para julgar os vivos e os mortos, no final da história da humanidade, após o “triunfo” da Igreja, que prevaleceria sobre os incrédulos na face da Terra, evangelizando o mundo todo. Seria, para se usar aqui da expressão de Agostinho, o teólogo e filósofo que sistematizou a doutrina amilenista, a vitória da “cidade de Deus” sobre a “cidade do diabo”.
OBS: Não era esta, porém, a idéia seguida pelos cristãos até a cristalização do Credo. Em sua obra Teologia sistemática, Lewis Chafer faz questão de trazer à baila diversos estudos de historiadores que evidenciam a crença da Igreja na segunda vinda de Cristo antes do milênio, num contraste com a opinião adotada pela Igreja Romana. Entre elas, merece ser transcrito trecho do grande historiador inglês Edward Gibbon, nada simpático ao Cristianismo, em sua obra clássica Declínio e queda do Império Romano: ‘…era universalmente crido que o fim do mundo estava próximo. A abordagem da proximidade desse evento maravilhoso havia sido predita pelos apóstolos. A tradição dela foi preservada pelos seus discípulos mais antigos, e aqueles que entenderam o sentido literal deles nos discursos do próprio Cristo foram obrigados a esperar a segunda vinda gloriosa do Filho do homem antes que aquela geração fosse totalmente extinta….’(op.cit., v.1, p.532 apud Lewis CHAFER. Teologia sistemática, t.II, v.4, p.613).
- Este ponto-de-vista distorcido das Escrituras, porém, apesar de ter sido o prevalecente na história da Igreja até o século XIX, pois até mesmo entre os reformadores protestantes (Lutero, Calvino, entre outros), apesar de já se vislumbrar uma certa preocupação escatológica, não se debruçaram sobre este tema, centrando seus esforços de interpretação e de estudo da Bíblia Sagrada sobre outros assuntos, como a doutrina da salvação, nunca foi unânime, pois o Senhor jamais deixa que a Sua Palavra venha a ser totalmente sufocada, mormente no período em que vivemos, da dispensação da graça. Vez por outra, ao longo da história da Igreja, havia avivamentos e, nestes avivamentos, sempre surgia a verdade bíblica concernente à vinda de Jesus para a Sua Igreja, a esperança e razão de ser da vida cristã.
- No século II, ou seja, no mesmo século em que surgiu o Credo dos Apóstolos (vide supra), que cristalizou a visão amilenista, a Igreja foi sacudida pelo chamado “movimento montanista”, assim denominado porque teve em Montano a sua principal figura. Montano passou a anunciar o retorno iminente de Cristo, reavivando, assim, a esperança da Igreja. Apesar de certos exageros do movimento, o fato é que o movimento voltou a trazer a idéia da vinda de Cristo e de que este seria o evento que desencadearia as últimas coisas. O movimento, que surgiu por volta de 156, e que chegou a ter entre suas fileiras a proeminente figura de Tertuliano, um dos principais “pais da Igreja” dos primeiros séculos, perdurou até o século VI d.C. no Oriente.
- Com a Reforma, voltou-se a crer na segunda vinda de Cristo como um evento distinto do julgamento final, ou seja, como um acontecimento que antecederia o Milênio. Lutero, citado por Chafer, afirmou que “…Eu creio que todos os sinais que devem preceder os últimos dias já têm aparecido. Não pensemos que a vinda de Cristo está longe; olhemos com as cabeças erguidas; esperemos a vinda de nosso Redentor com anelo e mente alegre….” (apud Lewis CHAFER. Teologia sistemática, t.II, v.4, p.615), bem como Calvino, “…a Escritura uniformemente nos ordena a olhar com esperança para o advento de Cristo…”(Institutas da Religião Cristã, cap.25 apud Lewis CHAFER, op.cit., p.615).
- Foi somente a partir do século XIX, porém, que a idéia bíblica da vinda de Cristo como um evento que antecede o reino milenial e que se desenvolverá em duas fases distintas ganhou corpo, cremos que até como mais um sinal da proximidade da volta do Senhor. Lamentavelmente, como afirma Chafer, “…devido ao lugar central que a Soteriologia [doutrina da salvação, observação nossa] tem recebido dos reformadores e dos escritos teológicos subseqüentes, é que não foi dada a devida consideração à verdade profética…(op.cit., p.595). No entanto, até como uma reação ao chamado “movimento crítico bíblico”, que começava a influenciar os meios religiosos europeus, com a sua idéia de que a Bíblia não seria infalível, bem como ao próprio clima de sensação de fim de mundo surgido na Europa com a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas, alguns teólogos e ministros do Evangelho passaram a se interessar pelo estudo das Escrituras e, particularmente, das profecias bíblicas, tendo, então, se sobressaído alguns movimentos e lideranças, entre os quais os chamados “irmãos de Plymouth”, que teve em John Nelson Darby (1800-1882), inglês-irlandês, um de seus maiores expoentes e a quem devemos o início do estudo da volta de Cristo sob a visão das dispensações e, muito especialmente, o chamado “pré-tribulacionismo”, que é a linha de pensamento adotada pelas Assembléias de Deus.
OBS: “…Darby acreditava que era essencial que a Igreja tivesse uma correta esperança. Esta esperança ele entendia que era a segunda vinda de Cristo. Em Sua vinda, sustentava Darby, Cristo levaria os santos para a glória com Ele, para que ela se tornasse a noiva, a esposa do Cordeiro. Darby insiste que ‘ nada é mais proeminente no Novo Testamento do que a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo.’ Ele aponta que é a promessa da volta de Cristo o que foi primeiramente oferecido para consolar os discípulos que testemunharam a ascensão do Senhor como se vêm em At.1:11. Conseqüentemente, diz Darby, ‘ não é de forma alguma estranho que - imediatamente após a conversão ao Deus vivo - que se passe a esperar pelo Seu Filho que virá da glória para nos livrar da ira futura’ ‘…”(Larry CRUTCHFIELD. John Darby:defensor da fé. http://www.according2prophecy.org/darby.html Acesso em 13 set.2004) (tradução nossa).
- Não é por acaso que, ao lado de um estudo mais detido sobre este tema, tenha a Igreja passado a experimentar um novo e vigoroso avivamento, que desencadeou o surgimento do movimento pentecostal. Entretanto, com preocupação, vemos que, nos últimos anos, este mesmo vigor na pregação da vinda de Cristo tem se enfraquecido e cedido seu lugar a outras pregações, em especial a da “teologia da prosperidade”, de forma que precisamos, mais do que nunca, estudarmos e meditarmos nesta mensagem, que é a esperança da Igreja, a razão de ser da nossa vida cristã. “Jesus breve virá” deve ser um tema constante de nossas mentes e corações.
- Assim, quando falamos em “volta de Cristo”, segundo os ensinamentos revigorados há pouco mais de cem anos (mas que já eram ensinados por Cristo e pelos apóstolos, de forma que não há sentido algum naqueles que procuram desacreditar estes ensinos com o argumento de sua “modernidade”), estaremos falando num episódio que tem duas fases bem distintas, a saber:
a) o arrebatamento da Igreja, bem descrito por Paulo em I Co.15 e I Ts.4, que é o momento em que se põe fim à dispensação da graça, quando Jesus vem buscar a Sua Igreja, nos ares, para que ela não passe pela Grande Tribulação.
b) a vinda em glória ou volta triunfal (em grego, a “parousia”), que é mencionada em passagens como Zc.12:9,10; Ap.1:7; 19:11-21, entre outras, que é o momento em que Jesus descerá no monte das Oliveira e impedirá a destruição de Israel, evento que porá fim à Grande Tribulação e ao reinado do Anticristo, na conhecida “batalha do Armagedom”.
IV - O QUE É O ARREBATAMENTO DA IGREJA
- Conforme temos visto, graças à misericórdia do Senhor e à ação do Espírito Santo, foi resgatada a verdade bíblica de que Cristo reinará literalmente sobre a face da Terra por mil anos, cumprindo-se assim as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Entretanto, para que isto ocorra, é preciso que Israel se converta, pois ele rejeitou a Jesus, abrindo, assim, a oportunidade para a salvação dos gentios.
- Deste modo, faz-se preciso que o tempo dos gentios se complete, ou seja, que termine a dispensação da graça, e, com ela, termine o tempo do povo criado por Deus na Terra para esta dispensação, que é a Igreja. Esta Igreja, formada tanto por gentios quanto por judeus (cfr. Ef.2:11-22), tem uma promessa de Jesus, qual seja, a de que seria retirada da Terra para viver com o Senhor para sempre (Jo.14:1-3).
- O trabalho da Igreja, portanto, está limitado no tempo pela vinda do Senhor. Jesus mandou que a Igreja pregasse o evangelho, mas, quando houver a conclusão desta obra, “então virá o fim” (Mt.24:14 “in fine”). Estamos no “dia aceitável do Senhor” (Lc.4:19 “in fine”), que é o tempo da Igreja.
- A doutrina das últimas coisas tem de ser entendida dentro da perspectiva de que, para Deus, a Terra possui três povos, ou seja, os gentios, os judeus e a Igreja (I Co.10:32) e os eventos relativos ao final da história tem de levar em conta esta diversidade de povos.
- A Igreja está esperando Jesus(I Co.1:7; Fp.3:20; Tt.2:13; Tg.5:7; II Pe.3:1-13; I Jo.3:1-3; Jd.21); . Na ceia, anuncia a volta de Cristo; prega o evangelho para que alcance todas as nações e o fim do seu tempo sobre a face da Terra; faz o seu trabalho enquanto não se dá o início da última semana da profecia das setenta semanas de Daniel; aguarda o livramento prometido pelo Senhor da “ira futura” (I Ts.1:10).
- O arrebatamento da Igreja é, precisamente, este acontecimento em que Jesus retirará a Sua Igreja da face da Terra, no exato instante em que se iniciar a septuagésima semana de Daniel, quando Deus, então, tratará com os outros dois povos, Israel e os gentios. Será o “dia da vingança do nosso Deus” (Is.61:2 “in fine”), o “tempo de angústia”, tanto para os judeus (Dn.12:1), quanto para as nações (Lc.21:25), pelo qual a Igreja não passará.
- A palavra “arrebatamento” vem da expressão constante de I Ts.4:17, onde é dito por Paulo aos tessalonicenses que os crentes serão “arrebatados” e se encontrarão com o Senhor nos ares. Paulo estava ali falando a crentes a respeito da vinda do Senhor, ou seja, o seu ensino dizia respeito à vinda de Jesus para a Igreja, de forma que tudo ao que ele ali se referiu está relacionado com a Igreja, este novo povo criado na dispensação da graça.
- “Arrebatamento” significa “retirada repentina, rápida, de improviso”, normalmente com violência. Tem o mesmo significado que “rapto”, que, aliás, é a palavra utilizada para a tradução do termo grego de I Ts.4:17 na Vulgata Latina (a tradução da Bíblia para o latim, a língua dos romanos e que até hoje é a tradução oficial da Igreja Romana).
- O arrebatamento da Igreja, portanto, é a retirada repentina, de improviso, dos membros do corpo de Cristo sobre a face da Terra, antes que se inicie o período mais negro da história da humanidade. Jesus, então, como diz Paulo, descerá até as nuvens e se encontrará com a Igreja, que é a reunião dos salvos de todos os tempos, daqueles que creram na pessoa de Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
OBS: “…O Senhor não teria inaugurado uma Igreja que estava apenas na fundação. Aqueles discípulos que acompanhavam Jesus, e existiam no dia de Pentecostes, não chegavam a mil, eram apenas parte do fundamento da novel Igreja. Muitos outros foram acrescidos depois daquele dia como fundamento da Igreja Cristã, a exemplo entre eles destacou-se o Apóstolo Paulo. A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular. Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo: Hebreus 2.13:’…Eis-me aqui, e aos filhos que Deus me deu.’…” (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110). Este pensamento do pastor Osmar José da Silva, aliás, dá o real significado para a palavra “igreja”, ou seja, “reunidos para fora” (”ekklesia”). Só no dia do arrebatamento, a Igreja será realmente reunida em sua totalidade e estará para sempre fora deste mundo.
V - QUANDO SE DARÁ O ARREBATAMENTO DA IGREJA
- A realidade do arrebatamento da Igreja, como vemos nas Escrituras, tem também um aspecto importantíssimo: não há como se definir a data deste arrebatamento. Jesus foi bem claro ao afirmar que “…porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai.” (Mt.24:36; Mc.13:32).
- Esta afirmação de Jesus sempre intrigou e deixou perplexos os estudiosos da Bíblia ao longo da história da Igreja. Como diz sabiamente R.N. Champlin, “…para alguns comentaristas, essas são algumas das palavras mais difíceis de entender que Cristo proferiu. A dificuldade não está em sua interpretação, pois o sentido é perfeitamente claro; o problema está em sua aceitação…” (O Novo Testamento interpretado, v.1, com. Mt.24:36, p.566). Mas é, precisamente, nestas horas que o estudioso da Bíblia deve demonstrar que, acima da razão, está a sua fé na inerrância das Escrituras. Jesus disse que ninguém saberia o dia da Sua volta e devemos nos conformar com esta assertiva, se é que cremos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida.
- Muitos, na sua resistência a este texto, chegaram, mesmo, a deturpá-lo, tanto que alguns manuscritos eliminaram a expressão “nem o Filho” de Mt.24:26, que, entretanto, é autêntico, até porque são perfeitamente consonantes com o texto de Mc.13:32, onde não há esta omissão. Segundo estes resistentes, o texto estaria negando a onisciência de Jesus, pois haveria algo que Jesus não saberia, ou seja, o dia da Sua volta e, portanto, Jesus não seria Deus. Todavia, não é isto o que o texto diz. O texto afirma que Jesus, enquanto homem, enquanto revelação de Deus à humanidade, não estava autorizado e, por isso, em Sua humanidade, não tinha o conhecimento (pois o conhecimento de Jesus enquanto homem tinha como único objetivo a revelação do Pai aos homens - Jo.15:15), não ouviu do Pai a data do arrebatamento da Igreja e, portanto, não poderia transmiti-lo aos homens. Jesus em tudo foi obediente ao Pai (Fp.2:8), despojando-se dos Seus atributos divinos para fazer a vontade do Pai. Assim, enquanto homem, em obediência ao Pai, privou-se do conhecimento da data da Sua vinda, sem que tenha deixado de, enquanto Deus, ter pleno conhecimento dela. Tanto que, ainda hoje, pois que continua como homem e Deus no céu, também não revela esta data a quem quer que seja.
- Por que Deus não revelou a data do arrebatamento da Igreja ao Seu povo ? Deus não revelou a data do arrebatamento da Igreja para o Seu povo, porque não é Deus de confusão (I Co.14:33). Sendo um Deus que quer que o homem retorne à Sua imagem e semelhança, e, portanto, seja santo e viva em santidade (I Pe.1:15,16; Ap.22:11), bem como um Deus que determina aos crentes que perseverem até o fim para que alcancem a salvação de suas almas (Mt.24:13; I Pe.1:9) e que é este instante final que determinará a sorte eterna do homem (Ez.18), como poderia Deus anunciar a que dia viria o Seu Filho para arrebatar a Sua Igreja, permitindo a salvação de todo e qualquer homem sem que se seguisse a recomendação de santidade e de comunhão com Deus ? Onde estaria a justiça e a veracidade da Palavra de Deus ? Vemos, portanto, que o caráter de Deus impõe esta incerteza da data do arrebatamento da Igreja.
- Não é por outro motivo, pois, que a dispensação da graça é o “tempo que se chama hoje”, pois o crente deve viver na perspectiva de que Jesus pode vir a qualquer momento, a qualquer instante. Assim como Deus é um eterno presente, a vida de pureza, de santidade e de comunhão do cristão com o seu Senhor deve ser um permanente presente, uma realidade atual a todo tempo, pois Jesus pode vir a qualquer instante. A vigilância é fundamental para o cristão, é uma atitude indispensável para que alcancemos o fim de nossa fé, que é a salvação de nossas almas, que somente ocorrerá no instante do arrebatamento da Igreja, quando atingiremos a glorificação, de que Paulo fala no capítulo 15 de I Coríntios.
- Não pode haver, portanto, no coração do cristão, um sentimento diverso desta atualidade permanente, deste preparo incessante para subir com Jesus. Devemos estar preparados, com as nossas lâmpadas cheias de azeite, ou seja, em plena comunhão com Jesus neste momento, agora, para que possamos nos reunir com os santos na hora do arrebatamento. A Bíblia deixa bem claro que não podemos nos iludir com as coisas deste mundo e começar a achar que “Jesus está demorando”. Este pensamento ou sentimento de “demora de Jesus” é um indicador perigosíssimo para o crente. É uma atitude típica daqueles que estão se desviando dos caminhos do Senhor, como deixou claro o apóstolo Pedro, que diz que quem assim pensa são “escarnecedores, que andam segundo suas próprias concupiscências” (I Pe.3:3).
- Pouco importa, para o crente fiel e sincero, que se esteja esperando Jesus desde o ano 30 de nossa era e que, quase dois mil anos depois, Jesus ainda não tenha vindo. Isto é irrelevante, pois o crente, como diz o poeta sacro, tem plena convicção e diz: ‘…É fiel, Sua vinda é certa. Quando…Eu não sei. Mas Ele manda estar alerta, do exílio voltarei.” (parte da terceira estrofe do hino 36 da Harpa Cristã).
- Apesar do texto bíblico clarevidente, não foram poucos os que se aventuraram em marcar a data do arrebatamento da Igreja. Na própria igreja apostólica, vemos que certas atitudes dos crentes foram resultantes de cálculos que foram inadvertidamente feitos pelos crentes quanto à vinda de Jesus. Como Jesus havia dito que não passaria aquela geração sem que o que Ele havia predito no sermão profético acontecesse (Mt.24:34), certamente houve quem achasse que, até o ano 40, ou seja, dez anos depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo, Jesus voltaria, o que explica, plenamente, o comportamento dos crentes em Jerusalém, como dissemos supra. Entretanto, veio o ano 40 e nada aconteceu, o que gerou um certo descrédito no meio do povo de Deus.
- Aliás, um dos grandes problemas destas designações de data da volta de Cristo é, precisamente, a decepção que vem sobre a Igreja quando a data não se concretiza (e jamais se concretizará, pelo que vemos nas Escrituras Sagradas). É uma astuta armadilha do inimigo para fazer arrefecer no meio do povo de Deus a esperança na vinda do Senhor. Pedro, por isso, foi bem incisivo ao alertar os crentes para que não dessem ouvidos àqueles que desacreditassem na promessa da vinda do Senhor, ainda que isto seja decorrência de precipitadas e atrevidas previsões, previsões estas que jamais terão qualquer respaldo bíblico, pois, conforme já visto, a Bíblia é clara ao afirmar que ninguém saberá a data do retorno de Cristo, e isto, frisemos bem, é um efeito do próprio caráter de Deus e, portanto, se é algo relacionado com o caráter de Deus, não tem como ser mudado em hipótese alguma.
- A destruição do templo de Jerusalém, certamente, teve um impacto imenso sobre os crentes, que viram, assim, o cumprimento de parte da profecia de Jesus, mas, mesmo assim, apesar disto, não se viu o cumprimento da vinda de Cristo e isto até colaborou para que a visão amilenista acabasse tomando conta de parcela considerável da Igreja. Com a Reforma, entretanto, o quadro começou a mudar, mas, já no século XIX, em meio ao avivamento experimentado, logo surgiu alguém que se arvorou no direito de marcar a data da volta de Cristo. Surgiu, então, o movimento adventista, liderado por William Miller, que definiu a volta de Jesus, primeiro para 1847 e, depois, para 1848, gerando mais uma decepção de grandes proporções, além de ter, de quebra, dado origem a uma importante seita, atuante até os nossos dias, que é o sabatismo, que foi construído sobre os escombros desta precipitada designação de data da volta de Jesus.
- Por trás de outra estapafúrdia designação de data da volta de Cristo está o surgimento de outra heresia, no século XIX, a saber, as Testemunhas de Jeová, para quem o milênio se iniciou em 1914, ou seja, a época de paz da humanidade prometida nas profecias messiânicas do Antigo Testamento teria começado no ano em que estourou a Primeira Guerra Mundial !
- Em 1992, pudemos ver, também, a designação de mais uma data para a volta de Cristo e, nesta oportunidade, no Oriente, mais precisamente na Coréia do Sul, um dos países de maior crescimento da Igreja nos últimos tempos. Ali, um tal de Bang-Ik-Ká, dizendo que o dia e hora da vinda do Senhor não podiam ser revelados, mas que o mesmo não se daria com relação ao “período”, fixou que Jesus voltaria durante a “festa dos tabernáculos” de 1992. Multidões se reuniram em diversos lugares do mundo e, mais uma vez, nada aconteceu. “Passarão os céus e a terra, mas as Minhas palavras não hão de passar”, disse Jesus e, portanto, fiquemos com a Palavra de Deus, que diz que não temos como saber quando Jesus voltará.
- É certo que sabemos que este dia está muito próximo, pois todos os sinais já se cumpriram ou estão se cumprindo, não havendo, aliás, como sabermos quando o evangelho será pregado a todas as gentes. Ora, precisamente porque não temos de detectar em que instante isto ocorrerá e é este sinal que determina o fim (Mt.24:14 “in fine”), temos mais uma prova de que o tempo da graça é “hoje” e não podemos, por isso, deixar que nossos corações sejam endurecidos, mas que estejamos agora, neste momento, em comunhão com Deus, para que possamos ouvir o clamor da última trombeta.
- Uma outra discussão que surge a respeito do momento do arrebatamento da Igreja diz respeito a se ele se dará antes, no meio ou depois da Grande Tribulação. Conforme se responda a esta questão, teremos as três linhas de pensamento existentes entre os chamados “milenistas”, quais sejam: os pré-tribulacionistas, os midi-tribulacionistas e os pós-tribulacionistas.
- Nosso entendimento, que é o oficialmente adotado pelas Assembléias de Deus, é no sentido de que o arrebatamento da Igreja se dará antes do início da Grande Tribulação. A Bíblia diz-nos que Jesus prometeu livrar a Igreja da ira futura (I Ts.1:10), guardar da hora da tentação que há de vir sobre o mundo (Ap.3:10), bem como que o diabo e seus anjos serão precipitados sobre a face da Terra, quando, então, agirão com grande ira (Ap.12:7-12), o que somente se explica pelo fato de os ares que hoje são por eles ocupados terem de dar lugar ao encontro de Jesus com a Sua Igreja. Também é dito que há um que resiste para que o Anticristo ainda não se manifeste e que não haverá tal manifestação enquanto este não for tirado (II Ts.2:7) e sabemos que não há como o Espírito Santo, dentro das obras que Lhe foram confiadas (Jo.14:16-18; 16:13-15), deixar de atuar livremente sobre este mundo com a Igreja ainda aqui habitando, pois isto contrariaria a promessa solene de Jesus de não deixar a Igreja órfã. Ademais, o clamor pela vinda de Jesus é tanto do Espírito quanto da Igreja (Ap.22:17). Por tudo isto, embora respeitemos os outros pontos-de-vista, não podemos senão considerar que o arrebatamento da Igreja se dará no momento imediatamente anterior ao início da Grande Tribulação.
VI - COMO SE DARÁ O ARREBATAMENTO DA IGREJA
- Como vimos, “arrebatamento” é rapto, retirada de surpresa, retirada rápida, retirada repentina. A Bíblia dá-nos uma característica de que como se dá um rapto no episódio narrado no livro de Juízes, a respeito do rapto de mulheres pelos benjaminitas, a fim de impedir que a descendência de Benjamim se perdesse, depois que haviam sido derrotados pelas demais tribos de Israel (Jz.21:13-25). Diz o texto sagrado que os benjaminitas ficaram nas vinhas, em atitude de emboscada e, quando passaram as mulheres, levaram algumas delas, pegando-as rapidamente, com violência e imediatamente saindo daquele local, levando-as para as suas casas. De igual modo, será o arrebatamento da Igreja.
- Assim como os benjaminitas estavam nas vinhas em atitude de emboscada, ou seja, esperando a chegada do momento para arrebatar as mulheres israelitas, de igual forma, o Senhor Jesus está pronto, aguardando apenas a ordem do Pai para buscar a Sua Igreja.
- Ao ser concedida esta ordem, porém, algo deverá ser feito nas regiões celestiais. Afirmam as Escrituras que o inimigo e as hostes espirituais da maldade habitam os lugares celestiais (Ef.6:12), ou seja, por permissão divina, uma certa dimensão celestial é habitada pelo adversário e por suas miríades angelicais, que vagam sem local e sem destino por este universo, aguardando a execução da sentença de suas condenações (Jó 1:7). Para que se faça o encontro de Jesus com o Seu povo nos ares, ou seja, precisamente nesta região, que se encontra abaixo da glória divina, será preciso que o diabo e seus anjos sejam dali retirados, o que será feito pelo arcanjo Miguel, como se vê de Ap.12:7-9. Esta batalha no céu fará com que o diabo seja precipitado sobre a Terra, ou seja, deixará os ares livres para o encontro de Jesus com a Sua Igreja. Simultaneamente, como se revela no livro do Apocalipse, se iniciará uma época terrível sobre os homens que aqui ficarem, pois o diabo atuará como nunca sobre a face da Terra, irado e sabendo que tem pouco tempo (Ap.12:12).
- Dada a ordem pelo Pai, Jesus descerá do céu com alarido, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, ou seja, Jesus, uma vez mais, ingressará na nossa dimensão e, assim como uma nuvem O ocultou, ou seja, impediu que Ele fosse visível a Seus discípulos (At.1:9), agora voltará a ser visto pela Sua Igreja, igualmente nas nuvens. É interessante observar que a promessa da volta de Cristo para a Sua Igreja, feita logo após a Sua ascensão, é que Jesus “…há de vir assim como para o céu O vistes ir…” (At.1:11 “in fine”). As Escrituras combinam-se em cada detalhe e nada deixará de ser cumprido. No dia da ascensão, Jesus foi visto pelos Seus discípulos (eram mais de quinhentos irmãos, diz-nos Paulo em I Co.15:6) e, num primeiro instante, também só será visto pela Sua Igreja, pois assim como subiu, irá descer,. Aleluia !
- Estes alarido, voz de arcanjo e trombeta de Deus mencionados por Paulo
(I Ts.4:16) estão de acordo com o que Jesus fala na parábola das dez virgens, quando diz que, à meia-noite, ouviu-se um clamor, que dizia: “Aí vem o esposo”. Por isso, alguns estudiosos das Escrituras, entre os quais se inclui o pastor Severino Pedro da Silva (membro da Academia Brasileira Evangélica de Letras e da Casa de Letras Emílio Conde), entendem que, no dia do arrebatamento, os crentes fiéis serão, sim, avisados do evento, pois os textos bíblicos falam a respeito de um clamor, de um aviso, de um chamado no instante do arrebatamento. Jesus, mesmo, afirmou que as Suas ovelhas conhecem a Sua voz (Jo.10:4). A presença do arcanjo, neste instante, como vimos, justifica-se pelo fato de ter ele liderado a batalha contra o diabo e os seus anjos, para a limpeza dos ares, a fim de que se tenha o encontro entre Jesus e a Sua Igreja. Seria, assim, também um brado de vitória do arcanjo.
- De qualquer modo, o texto fala-nos, claramente, que Jesus, como um verdadeiro comandante e líder, estará convocando o Seu povo para uma reunião, sendo este o sentido do alarido, da voz de arcanjo e da trombeta de Deus. Lembremo-nos de que Moisés, para reunir o povo, tocava trombetas especialmente fabricadas para esta finalidade (Nm.10:1-10) e, agora, Jesus, a cabeça da Igreja, irá convocar, reunir todo o Seu povo. Esta descrição do arrebatamento, portanto, permite-nos ver, claramente, que se trata de um evento peculiar à Igreja, pois se trata de chamar ao encontro do líder o povo, uma atração até os ares, quando Jesus se faz acompanhar apenas do arcanjo (provavelmente Miguel, o único na Bíblia a ser assim denominado).
- Muitos intérpretes discutem a respeito de eventual distinção entre o alarido, a voz de arcanjo e a trombeta de Deus. Entendem alguns que tudo é uma figura da idéia da convocação de toda a Igreja, de todos os santos. Outros já acham que o alarido, ou seja, o grito, seria um chamado aos mortos para a sua ressurreição (reportando-se aqui ao episódio da ressurreição de Lázaro, em que Jesus clamou com grande voz - Jo.11:43); a voz de arcanjo se referiria ao chamado dos crentes vivos, aqueles que estiverem vigilantes, aguardando o Senhor com as lâmpadas cheias de azeite; enquanto que a trombeta de Deus representaria a ordem de reunião dos vivos e dos mortos na presença do Senhor nos ares.
- Com relação à trombeta de Deus aqui mencionada, não podemos confundi-la com nenhuma das trombetas mencionadas no livro do Apocalipse. Aqui se está falando da “trombeta de Deus”, que tem a função de convocar a Igreja, para encontrar-se com Jesus nos ares. As sete trombetas que se encontram no livro do Apocalipse fazem parte do sétimo selo (Ap.8:1,2) do livro que fora aberto pelo Cordeiro (Ap.5:5), ou seja, são episódios e acontecimentos que se dão “depois destas coisas” (Ap.4:1), ou seja, depois dos episódios profetizados por Jesus para a Igreja nas cartas das igrejas da Ásia, em especial, a carta dada a igreja em Filadélfia, onde Jesus prometeu “guardar da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap.3:10b). Portanto, as sete trombetas dizem respeito aos juízos de Deus sobre Israel e os gentios na Grande Tribulação, nada tendo que ver com a trombeta de que estamos agora a tratar, que é a última trombeta da dispensação da graça.
- Feita a convocação, ocorrerá a ressurreição dos crentes que morreram no Senhor, daqueles que estão dormindo no Senhor (I Ts.4:13). É importante observar que a Bíblia nunca diz que o crente morre, mas, sim, que dorme no Senhor. Este “dormir no Senhor”, ademais, não tem o significado de que o crente fiel que já morreu esteja inconsciente, não tenha noção do que está se passando, como defendem, entre outros, os adventistas. Jesus deixou claro, no episódio do rico e Lázaro(Lc.16:19-31), que os fiéis, ao morrerem, têm a separação do homem interior (alma e espírito) e do homem exterior (corpo). Entretanto, permanecem conscientes e estão aguardando a ressurreição no seio de Abraão, ou seja, no Paraíso, como Jesus disse ao ladrão da cruz(Lc.23:43).
- Nesta ressurreição, os crentes que estavam mortos, terão a reunião do seu homem interior (alma e espírito) com o seu homem exterior (corpo). Só que este novo corpo não será o mesmo corpo que tinham antes de sua morte física, mas, a exemplo do que ocorreu com o Senhor Jesus na Sua ressurreição, receberão um corpo glorificado, um corpo espiritual, um corpo celestial. Paulo bem explica isto em I Co.15:40-50. Completar-se-á, então, o processo da salvação e os fiéis atingirão a glorificação, que é o estágio final da salvação. Dotados de um corpo glorificado, a exemplo do seu Salvador, poderão, assim como Ele o fez, adentrar às mansões celestiais.
- Todos os que morreram em Cristo, ou seja, aqueles que creram em Jesus como seu Senhor e Salvador e que já estiverem mortos no dia do arrebatamento da Igreja, ao ouvirem o alarido, ressuscitarão e, novamente, serão corpo, alma e espírito, mas, como vimos, terão um corpo glorificado, um corpo que não estará mais submetido às leis físicas, um corpo igual ao de Jesus após a Sua ressurreição. Por isso, poderão encontrar com Jesus nos ares, pois a lei da gravidade não poderá mais ter qualquer efeito sobre seus corpos, como também poderão, doravante, participar da dimensão da eternidade. E, assim como Cristo Se tornou invisível aos homens, os crentes, apesar de serem milhões de milhões, milhares de milhares, não serão vistos nem notados pelos demais seres humanos.
- Discute-se, aqui, se ressuscitarão apenas os que morreram na dispensação da graça ou todos aqueles que creram em Jesus, em todas as épocas, ou seja, aqueles que “todos estes, [que] tendo testemunho pela fé, não alcançaram a promessa; provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hb.11:40). A questão é polêmica, mas o texto que mencionamos, no nosso modesto entendimento, permite-nos observar que todos os fiéis a Deus, de todas as épocas, estão envolvidos no arrebatamento, até porque consideramos que a ida de Jesus ao Hades foi com o objetivo de dar testemunho da salvação a todos os mortos e, assim, fazer os fiéis conscientes de em que haviam crido. Mas é questão polêmica, que comporta várias interpretações, sendo um assunto nitidamente secundário e no qual, como já ensinava Agostinho, deve haver liberdade.
- Completada a ressurreição dos crentes mortos, segue-se a transformação dos crentes que estiverem vivos no dia do arrebatamento da Igreja. Paulo diz que, de modo algum, os crentes vivos precederão aos que já haviam morrido (I Ts.4:15; I Co.15:52). Assim que todos os mortos ressuscitarem, os crentes que estiverem vivos serão transformados, ou seja, os seus corpos físicos, corruptíveis, de carne e osso, serão revestidos da incorruptibilidade, o corpo material será absorvido por um corpo glorioso, um corpo espiritual, um corpo celestial que substituirá o corpo anterior e, assim, os crentes vivos serão, igualmente, glorificados e postos em condição de se encontrarem com Jesus e com os crentes ressuscitados nos ares. Este processo de transformação é descrito por Paulo em I Co.15:51-54. Não é de admirar que isto ocorra. Não bastasse o fato de estar narrado na Bíblia e de nosso Senhor ser onipotente, a própria ciência, desde a teoria da relatividade, tem afirmado que a matéria pode ser transformada em energia, quando estiver na velocidade da luz, tendo havido, também, um exemplo de absorção da matéria pelo corpo glorificado, no episódio do alimento consumido por Jesus quando jantou com os discípulos em Jo.21:13-15.
- Operada a transformação dos crentes vivos, todos os crentes se encontrarão com Jesus nos ares, ou seja, na região celestial que antes fora ocupada pelo adversário e seus anjos, num encontro maravilhoso, onde haverá a reunião da Igreja, onde a Igreja se tornará, efetivamente, o conjunto dos “reunidos para fora do mundo” (”ekklesia”). Esta reunião é o resultado da colheita de almas feita durante a história da humanidade, a ceifa produzida pelo amor de Deus (Jo.4:34-38), o que nos faz lembrar da “festa dos tabernáculos”, a “festa da colheita” (Ex.34:22), realizada no final do ano civil israelita, no sétimo mês (Lv.23:34, outubro/novembro no nosso calendário), onde se comemorava a colheita efetuada e se lembrava a condição de escravos no Egito e o tempo de peregrinação no deserto, razão pela qual habitavam os israelitas em cabanas durante sete dias. Esta reunião da Igreja se dará, igualmente, no término do “ano aceitável do Senhor”, quando a Igreja sentirá que não é do mundo e que apenas peregrinava por aqui, ao mesmo tempo em que, a exemplo do que ocorria com a festa dos tabernáculos, que era seguida pelo inverno, se abaterá sobre a Terra um grande inverno espiritual.
- É oportuno aqui observar que este processo de ressurreição, de transformação e de reunião dos crentes será efetuado pelo Espírito Santo, que levará a Igreja ao encontro do Senhor Jesus nos ares, entregando-Lhe a Noiva, como o pai da noiva ou o padrinho, na falta do pai, costumam fazer nas cerimônias de casamento que estamos acostumados a assistir. É obra do Espírito Santo o mover, o movimentar (Gn.1:2) e o ressuscitar e transformar (Rm.8:11). Após a reunião e a realização tanto do Tribunal de Cristo e das Bodas do Cordeiro, o Filho, então, entregará a Igreja ao Pai (I Co.15:28; Hb.2:13).
- Todos estes eventos ocorrerão em tempo ínfimo, pois a Bíblia diz que isto se dará “num abrir e fechar de olhos” (I Co.15:52a), expressão que, no grego, é “atomo”, ou seja, unidade que não pode ser dividida. Todos estes episódios se darão num intervalo de tempo mínimo, dentro da dimensão humana, de forma repentina, imediata, como convém ocorrer num rapto. Aliás, podemos fazer um paralelo da exigüidade de tempo com os chamados “seqüestros-relâmpago” que tanto têm trazido desassossego e intranqüilidade aos moradores das cidades brasileiras. Se homens perversos, limitados e, no mais das vezes, sob tensão, somem com pessoas repentinamente, para fazer-lhes mal, que podemos dizer do Senhor dos senhores e Rei dos reis, quando tiver o propósito de libertar o Seu povo da fúria do inimigo e da provação divina que se abaterá sobre a Terra ?
- Jesus disse que o Filho do homem virá como o relâmpago (Mt.24:27) e, como hoje sabemos, pela física, a maior velocidade que existe é a velocidade da luz, na qual a própria matéria se transforma em energia. Na velocidade da luz, como demonstrou Einstein, o tempo simplesmente não passa, não existe. Por isso, a Bíblia afirma que o arrebatamento da Igreja se fará “num abrir e fechar de olhos”, num instante que não será sequer notado ou percebido pelos homens. Por isso, não há como fugirmos desta realidade: o arrebatamento será instantâneo e não haverá tempo para reconciliações nem para acertos de contas com Deus. Ou estejamos preparados a todo instante, sem qualquer pestanejar, ou estaremos praticamente condenados a sofrer as agruras da Grande Tribulação ! Ora vem, Senhor Jesus!

A PROMESSA DA SEGURANÇA NUM MUNDO INSEGURO

INTRODUÇÃO
- Na seqüência do estudo das promessas que Deus nos dá, estudaremos a promessa da segurança, que é uma das conseqüências da salvação e da paz interior que desfrutamos quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador.
- Segurança não se confunde, porém, com imunidade a problemas e dificuldades, algo que não foi prometido por Deus. Jesus, aliás, disse que, no mundo, teríamos aflições (Jo.16:33), prova de que segurança não é imunidade ao dia mau, sempre presente na vida do homem (Ec.12:1).
I – O QUE É SEGURANÇA
- “Segurança” é palavra de origem latina, que vem do radical “cur”, que tem o significado de “cuidado, guarda, proteção”. Em latim, “assecuro” significa “dar tranqüilidade, sossego’”, enquanto que “securus” é “aquele que está livre de cuidados ou preocupações, confiante, tranqüilo, sossegado” e “securitas” tem o sentido de “tranqüilidade, sossego, paz”.
- No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “segurança” é apresentada com os seguintes significados: “ação ou efeito de tornar seguro; estabilidade, firmeza, seguração”; ”ação ou efeito de assegurar e garantir alguma coisa; garantia, fiança, caução”; ”estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo mal”; “estado, condição ou caráter daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente”; “situação em que não há nada a temer; a tranqüilidade que dela resulta”; “conjunto de processos, de dispositivos, de medidas de precaução que asseguram o sucesso de um empreendimento, do funcionamento preciso de um objeto, do cumprimento de algum plano etc”; “certeza, infalibilidade; convicção; evidência”; “força ou firmeza nos movimentos; firmeza de ânimo, resolução, afoiteza, autoconfiança”; “protesto, afirmação”; “prenhez das fêmeas dos quadrúpedes”; “atitude de confiança nos próprios recursos, presença de espírito, autodomínio, geralmente aliada à certeza de pertencer a um grupo social valorizado ou de ser respeitado em seu grupo social”; “estado em que a satisfação de necessidades e desejos se encontra garantida”.
- No Antigo Testamento, a palavra “segurança” (Is.32:17; Os.2:18. v.g.), no mais das vezes, é tradução do hebraico “betach”(תשנ), que “… aparece mais de 40 vezes no AT e é mais freqüentemente traduzido por ‘seguro’, ‘em segurança’ ou ‘com confiança’(…). De ‘betach’ provém ‘betachon’, que significa ‘confiança’, ‘convicção’ ou ‘esperança’ “ (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Palavra-chave seguro . Dt.33:12, p.320). Conforme os estudiosos das Escrituras, ‘betach’ denota “…o estado de confiança, proteção e segurança que pertencem àqueles que confiam e contam com o Senhor” (op.cit).
- Em o Novo Testamento, a palavra “segurança” 9Fl.3:1; I Ts.5:3, v.g.) é o grego “asphaleia” (άσφάλεια), cujo significado é “certeza”, “estabilidade”, “estado de liberdade contra a ação dos inimigos e dos perigos”, “ausência de dúvidas”, “verdade inabalável”. Aliás, a palavra, no grego, também tem o sentido de “prender”, “firmar”, “apertar” (At.16:24, v.g.).
- A segurança é, em primeiro lugar, o “ato ou efeito de tornar seguro, estabilidade, firmeza”. Vemos, portanto, que a segurança é uma ação, um ato que faz com que alguém se torne estável, se torne firme. Quando o Senhor formou o homem, pô-lo num jardim que fez especialmente para ele no Éden (Gn.2:8), jardim que tinha toda árvore agradável à vista, e boa para comida, além da árvore da vida no meio e da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:9). Como se não bastasse, vinha o Senhor ao encontro do homem na viração do dia (Gn.3:8).
- Todas estas circunstâncias, mostram, claramente, que um dos objetivos do Senhor ao fazer o homem foi o de que este ser não tivesse qualquer preocupação, tivesse consciência de que tudo que estava à sua volta contribuía para a sua sobrevivência e para a seu bem-estar. Tinha condições psicológicas favoráveis (árvores agradáveis à vista), condições físicas favoráveis (árvores boas para comida), condições espirituais favoráveis, que permitiam a comunhão com o Senhor (a árvore da vida, a comunicação diária com o Senhor e a manutenção da obediência mediante a abstenção do fruto da árvore da ciência do bem e do mal). Isto é a segurança com que Deus criou o homem: um ambiente à sua volta que conferisse ao ser humano condições para um completo bem-estar, para seu crescimento espiritual contínuo e para o exercício do domínio sobre a criação terrena.
- No entanto, ao pecar, o homem perdeu este estado de firmeza, de estabilidade. Ao desobedecer ao Senhor, já não pôde mais manter a comunhão com Deus, tanto que, na viração do dia, tentou esconder-se. Não teve mais acesso à árvore da vida e, também, perdeu as condições favoráveis que a natureza lhe oferecia. Passou a depender de seu esforço contínuo para poder sobreviver, numa terra que passou a produzir espinhos e cardos, que passou a ser um obstáculo para a sua sobrevivência, sobrevivência esta que jamais se perduraria, vindo a morte física a ser um inimigo insuperável. Surge, então, a insegurança do homem, cuja “única certeza” passou a ser a morte, esta “angústia de quem vive”, como afirmou o poeta brasileiro Vinícius de Moraes, reproduzindo o pensamento de uma corrente filosófica denominada de “existencialismo”.
- Vemos, portanto, que a segurança que havia sido criada por Deus como um necessário invólucro da existência humana, foi perdida com o pecado e, portanto, passou a ser algo que o homem não mais poderia alcançar, vez que o pecado impediu que o homem tivesse qualquer segurança. Este mundo não pode oferecer qualquer segurança e, mesmo quando o ser humano, por causa de sua posição privilegiada na vida terrena, acha estar em situação de bem-estar e livre de qualquer perigo e dificuldade, a Bíblia nos mostra que tal sensação de segurança é uma ilusão, uma fantasia que, cedo ou tarde, assim se demonstrará.
- Asafe, no salmo 73, mostra ter quase acreditado nesta “falsa segurança” (Sl.73:3,12), mas, ao entrar no santuário de Deus, pôde entender a verdade, a realidade, o “fim deles” (Sl.73:17), fim este que, às vezes, é verificado nesta própria vida, mas que, para muitos, só será observado claramente “naquele dia” (Ml.3:17,18). Da mesma forma, Jesus, na parábola do rico insensato, mostra-nos quão ilusória é esta “falsa segurança” decorrente da posição privilegiada na vida terrena (Lc.12:13-21) ou o que é profetizado a respeito daqueles que se sentirão extremamente seguros durante a Grande Tribulação por ocuparem posições de prestígio e prosperidade material durante a ditadura do Anticristo (I Ts.5:3).
- Vemos, portanto, que a segurança de que estamos a tratar nada tem que ver com esta ilusão, com esta sensação advinda de uma posição privilegiada do homem na sua vida terrena, que nada mais é que uma sensação mentirosa, um engano decorrente da natureza pecaminosa do ser humano, um ardil do inimigo de nossas almas. Não é desta segurança que vamos tratar, mas da verdadeira e genuína segurança, cuja origem está única e exclusivamente em Deus.
- Segurança, em segundo lugar, é “ação ou efeito de assegurar e garantir alguma coisa; garantia, fiança, caução”. A segurança é um ato que garante alguma coisa a alguém. Quem garante algo, demonstra sua firmeza, sua condição de dar proteção a um compromisso. Eis mais um motivo pelo qual o homem não pode conferir segurança a si mesmo, tendo, mesmo, as Escrituras demonstrado que “maldito é o homem que confia no homem (Jr.17:5)”, numa clara afirmação de que o homem não tem condição alguma de oferecer segurança a quem quer que seja, muito menos a si próprio.
- Com efeito, dominado que está pelo pecado (Gn.4:7; Jo.8:34), o homem jamais faz o que quer, mas, sim, o que determina a sua natureza pecaminosa (Rm.7:14-24). Diante disto, não pode o homem garantir coisa alguma, nem a si mesmo. Não é à toa que o apóstolo Paulo denunciou que os homens, no pecado, têm como característica a infidelidade aos contratos (Rm.1:31), pois são incapazes de honrar os compromissos que assumem. Como, pois, pode oferecer segurança? Como pode ter segurança?
- Em terceiro lugar, segurança é “estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo mal”. Ora, o homem, após ter pecado, só adquiriu, como vimos supra, uma certeza, a de que morrerá fisicamente. A vida debaixo do sol é repleta de lutas e infortúnios, de uma luta contínua pela sobrevivência, com a oposição da natureza, uma vida de aflições, como disse o Senhor Jesus. As adversidades, as tempestades são uma constante e, como os homens não são fiéis, há uma constante tensão e desconfiança reinantes nas relações entre os homens, relações, aliás, absolutamente necessárias, pois o homem não é um ser solitário, mas um ser que necessita viver em grupo para poder sobreviver.
- Não bastasse isso, que já cerca a vida humana de perigos, riscos e incertezas, vemos que o mal habita o próprio homem, como já mencionamos na descrição que Paulo faz do homem no pecado, de forma que como pode o homem ter segurança se não tem como se afastar dos perigos, das incertezas e do mal?
- Em quarto lugar, “segurança” é “estado, condição ou caráter daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente”. Ora, pelo que temos visto, na sua condição pecaminosa, não há como o homem poder confiar em si mesmo ou em qualquer outro. “Maldito é o homem que confia no homem” (Jr.17:5), de forma que não há como o homem se fiar em outro homem, muito menos nas riquezas ou em qualquer outro bem que exista em todo este Universo. Nada lhe pode dar a firmeza. O homem no pecado, como bem afirmou o salmista, está em um “charco de lodo”, num “lago horrível” (Sl.40:2), expressões que designam a falta de firmeza em que se baseia a vida humana.
- Em quinto lugar, “segurança” é “situação em que não há nada a temer; a tranqüilidade que dela resulta”. Ora, o homem, como demonstrou o primeiro casal na viração do dia da queda, tem medo de Deus, não tem condições de sequer contemplá-lO, porquanto sabe que está nu espiritualmente, que se encontra em falta diante do Senhor. O homem busca sempre esconder-se de Deus, inclusive ao negar a Sua própria existência (Sl.14:1), numa vã tentativa de poder justificar a sua maldade. Neste medo do Senhor, neste pavor no qual sente a total falta de sentido da vida sem a presença divina, o homem mostra toda a sua insegurança, insegurança esta que, quanto mais se tenta fugir da presença divina, mais se intensifica, gerando a situação de violência e criminalidade hoje reinantes neste mundo, onde a vida humana não tem mais valor algum, onde há um completo aviltamento até da existência.
- Oportuno aqui observar que o medo de Deus, característica que, pasmem, existe em alguns que cristãos se dizem ser, é um sentimento que revela a falta de segurança, o que, como ainda haveremos de ver neste estudo, é incompatível com quem serve verdadeiramente ao Senhor e pertence ao Seu povo. A palavra “temer”, em língua portuguesa, possui dois significados bem distintos: um é o de reverência, respeito, consideração, submissão, que é o sentido da expressão bíblica “temer ao Senhor”. Os “tementes a Deus” são pessoas que têm a Deus como seu Senhor, fazem a Sua vontade, consideram-nO e Lhe obedecem.
- Um segundo significado de “temer”, porém, é “ter medo”, algo que, ao contrário do primeiro significado, não é apreciado pela Palavra de Deus que, aliás, por 365 vezes, recomenda ao servo de Deus que “não tema”, ou seja, “não tenha medo”. O medo é sinal de insegurança, de falta de confiança, de falta de tranqüilidade e, como temos visto, este sentimento é notório naqueles que não têm comunhão com Deus, que não desfrutam da salvação.
- Em sexto lugar, “segurança” é “conjunto de processos, de dispositivos, de medidas de precaução que asseguram o sucesso de um empreendimento, do funcionamento preciso de um objeto, do cumprimento de algum plano etc.” Ora, como temos visto, o homem, embora possa planejar o que pretende fazer, não é digno de crédito, não é fiel, até porque não faz o que quer, mas o que o pecado, que nele habita, deseja. Por isso, não há como se ter “segurança” nos projetos humanos, no cumprimento do plano estabelecido pelo homem, até porque o ser humano controle algum tem sobre os fatores que se fazem presentes no cumprimento de um determinado plano. Tiago mostra que o homem pode tudo planejar, mas nada pode garantir (Tg.4:13-17).
- “Segurança”, em sétimo lugar, é “certeza, infalibilidade; convicção; evidência”. Já vimos que o ser humano vive em constante incerteza, é falível, não pode garantir sequer o cumprimento de seus desejos, não tem qualquer firmeza. Como, então, dizer que tem ele segurança?
- “Segurança”, em oitavo significado que lhe dão os dicionaristas, é “força ou firmeza nos movimentos; firmeza de ânimo, resolução, afoiteza, autoconfiança”. Também já observamos que a autoconfiança é ilusória, mesmo quando se entende firmada numa posição privilegiada, como Jesus deixou claro na parábola do rico insensato. Qualquer movimento que se mostre firme, resoluto, forte, mas baseado no próprio homem, que é falível e sem qualquer condição de garantir seja lá o que for, é tão duradouro quanto este homem em que se baseia, não passa de algo passageiro, cuja consistência e durabilidade é a mesma da flor da erva (I Pe.1:24). Quem faz a sua própria vontade, ainda que modo aparentemente firme e resoluto, faz algo que é passageiro, sem qualquer durabilidade, porque “o mundo passa e a sua concupiscência” (I Jo.2:17a).
- A nona acepção de “segurança” é “protesto, afirmação”. Neste sentido, aproximamo-nos do estudo deste trimestre, pois já temos visto que a promessa é uma “afirmação”. A segurança, portanto, é uma afirmação, uma demonstração de posição, uma declaração que define um lugar, uma postura. Mas, como pode o homem, tão falível, tão sem autoridade, em virtude do pecado, declarar algo ou afirmar alguma coisa que seja digna de crédito? Lembramos, aliás, o significado jurídico de “segurança”, que é a ordem emanada da autoridade judiciária a uma outra autoridade para que se faça valer um direito líquido e certo de alguém que foi prejudicado por essa autoridade. Trata-se, assim, da reafirmação da autoridade da lei contra alguém que detém uma autoridade. Como o homem pode querer fazer algo semelhante, se não domina sequer a si próprio?
- O décimo significado de “segurança” é “prenhez das fêmeas dos quadrúpedes”, um significado que, a princípio, nada teria que ver com aspectos espirituais como os que estamos a estudar. Entretanto, ao se denominar de “segurança” a prenhez das fêmeas dos quadrúpedes, a nossa língua mostra que, na segurança, há uma situação de prisão, de vinculação. Além do mais, esta prisão, esta vinculação é associada a uma atitude de espera, espera esta inconsciente, vez que os quadrúpedes são irracionais. Aprendemos com este significado que a segurança é uma atitude que nos vincula a uma espera, espera esta que independe do exercício da razão, que deve ser feita ainda que a lógica nos tenda a tomar um outro caminho.
- O décimo primeiro significado de “segurança” é “atitude de confiança nos próprios recursos, presença de espírito, autodomínio, geralmente aliada à certeza de pertencer a um grupo social valorizado ou de ser respeitado em seu grupo social”. Este significado é o da “falsa segurança”, que, como salientamos, mais de uma vez, foi condenado pelo próprio Jesus na parábola do rico insensato. A verdadeira segurança, embora se dê pelo fato de se pertencer a um grupo todo especial, que é a Igreja, não é confiança nos próprios recursos, mas, pelo contrário, a confiança única e exclusiva em Deus (Sl.20:7).
- O décimo segundo significado de “segurança’ é “estado em que a satisfação de necessidades e desejos se encontra garantida”. Ora, com o pecado, esta garantia se perdeu e as necessidades do homem nunca foram satisfeitas, até porque, dentro dos propósitos divinos, sem o acesso à árvore da vida e a comunhão com Deus, jamais o homem estaria completo.
II – A PROMESSA DA SEGURANÇA
- Diante do que verificamos, em doze significados da palavra “segurança”, o homem, em razão de seu estado pecaminoso, jamais se encontra em segurança. Desde que o pecado entrou no mundo, a segurança tornou-se algo impossível para o ser humano. Assim, a segurança somente poderia retornar a existir no homem se o problema do pecado fosse resolvido.
- Eis a razão pela qual a segurança é um efeito da salvação, que somente se pode falar em segurança para quem alcançou a salvação. A segurança, portanto, é algo destinado ao povo de Deus, motivo por que está, nas Escrituras, vinculada ou a Israel, ou à Igreja. Não se trata, portanto, de uma promessa geral, mas, sim, de uma promessa “nacional’, válida tanto para Israel quanto para a Igreja.
- O profeta Isaías bem o demonstra, ao afirmar que “…a operação da justiça será repouso e segurança para sempre” (Is.32:17). A segurança é resultado da operação da justiça e já vimos que a justiça, no homem, resulta da justificação, que é um dos instantes do processo da salvação (Rm.5:1). Assim como a paz interior, que já estudamos em lição anterior, a segurança é uma conseqüência da salvação, uma promessa que Deus dá àqueles que resolvem Lhe obedecer (os israelitas na antiga aliança e, na atual dispensação, a Igreja).
- Como vimos, o homem não pode alcançar segurança em si mesmo. A segurança é impedida pelo pecado. Desta maneira, somente poderá haver segurança se houver salvação e a salvação tem origem em Deus. Daí porque a segurança ser algo que somente pode provir da parte do Senhor. O salmista, no Salmo 27, o esclarece quando afirma que “o Senhor é a minha luz e a minha salvação: a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida: de quem me recearei?” (Sl.27:1) Não nos esqueçamos de que o salmista em questão é Davi, um guerreiro, alguém cuja coragem era digna de nota, mas que fazia questão de afirmar que a origem de sua segurança não estava em seus méritos supostos, mas única e exclusivamente na salvação proveniente de Deus.
- A segurança é um sentimento, um estado, uma qualidade que só desfruta aquele que tem Deus como o seu Salvador, que tem comunhão com Deus, que estabeleceu paz com o Senhor ao ter perdoados os seus pecados e sido justificado pela fé (Rm.5:1). Não é possível segurança sem que o pecado seja extirpado e, por isso, somente haverá paz e segurança na sociedade humana quando o próprio Jesus reinar sobre a Terra no milênio, época em que o diabo estará preso e, portanto, a atuação do pecado radicalmente diminuída, quase que completamente extirpada. Num ambiente assim, não há porque não haver segurança.
- A segurança está reservada ao “amado do Senhor” (Dt.33:12). Em suas bênçãos às tribos, Moisés, que ali estava sendo um porta-voz do Espírito de Deus, ao se dirigir a Benjamim, fala que “o amado do Senhor habitará seguro com Ele, todo o dia o Senhor o protegerá e Ele morará entre os Seus ombros”.
- Esta afirmação é uma promessa de Deus, pois é a afirmação de algo feita num instante e que se concretizará em outro, sempre sob o ponto-de-vista humano. Esta promessa destina-se ao “amado do Senhor”. Aqui, a expressão não é geral, no sentido de toda a humanidade, mas, sim, daquele que agrada a Deus, de “amigos de Deus”, daqueles que conhecem a Deus (Jo.15:15). É, precisamente, aquele que “habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente”, de que fala o Sl.91:1. Somente tem segurança aquele que se submete ao Senhor, que é Seu servo obediente e fiel.
- Josafá também isto entendeu, ao declarar ao povo de Judá que deveriam crer no Senhor para estarem seguros (II Cr.20:20), ainda que a palavra aqui não seja “betach”, mas
“’aman” (ךמא), cujo significado é “firme”, “estabelecido” e que, portanto, é um sinônimo da palavra “betach”. Sem que se tenha fé em Deus, não se pode ter segurança, pois a segurança é decorrência da fé em Deus, da fé salvadora que, como vimos, é um dos elementos indispensáveis para a salvação.
- A segurança é uma sensação que decorre da convivência com Deus. Quando somos justificados, temos paz com Deus (Rm.5:1). Ora, ao termos paz com Deus, voltamos a desfrutar da comunhão com Ele, ou seja, passamos a nos comunicar com o Senhor, a ter a Sua mesma vontade, a dialogarmos com Ele, a sermos guiados por Ele. Ora, a partir do momento em que mantemos esta comunhão com Deus, temos a Sua orientação e a Sua direção, passamos a estar no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente.
- A expressão do salmo 91 é reveladora. Quando aceitamos a Cristo como Senhor e Salvador das nossas vidas, passamos a ser escondidos em Deus. Estar escondido em Deus é ter intimidade com o Senhor, é passar a saber o que Deus quer, passar a conhecê-lO. Somente quem tem o Espírito de Deus alcança esta posição, passando a ser um homem espiritual, que tem a mente de Cristo (I Co.2:9-16). São-nos revelados os mistérios de Deus, os Seus segredos, motivo pelos quais passamos a ser porta-vozes do Senhor (Am.3:7). Passamos a ser amigos de Deus (Jo.15:15), assim como Abraão, isto porque passamos a viver por fé.
- Para termos intimidade com Deus, para desfrutarmos do gozo de conhecer os Seus segredos e mistérios, além de crermos em Jesus, faz-se necessário que aprendamos da Sua Palavra, que nela meditemos de dia e de noite (Sl.1:2), porquanto é principalmente na Palavra que ouvimos Deus falar e a vida do verdadeiro e genuíno servo do Senhor é uma vida de comunicação contínua com Deus.
- A orientação e direção de Deus na vida do Seu servo dá-se, primordialmente, pela Palavra, que é “lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho” (Sl.119:105). Quando passamos a conhecer ao Senhor, Ele Se torna a nossa luz e, iluminados, passamos a conhecê-lO cada vez mais, a nos deixar envolver por Ele com cada vez maior intensidade (Os.6:3), de tal modo que passamos a ter o Senhor como a nossa luz (Sl.27:1). Envolvidos por Deus na Sua Palavra, passando a ter a mente de Cristo, estando na luz (I Jo.1:7), temos a experiência de nossa contínua purificação no sangue de Cristo, praticando a verdade (I Jo.1:5,6). Não é à toa que, no Salmo 91, quando o salmista fala da segurança daquele que está debaixo das asas do Senhor, imediatamente faz menção da verdade, isto é, da Palavra de Deus (Sl.91:4; Jo.17:17).
- É interessante verificar que, enquanto nos envolvemos mais e mais com o Senhor, entramos na “sombra do Onipotente”, somos “escondidos em Deus”, de modo que o mundo já não nos consegue discernir, não consegue entender onde estamos e em que pensamos, porque não são capazes de um discernimento espiritual, mas, enquanto para o mundo nos tornamos “escuros”, isto é, incompreensíveis, impenetráveis, para Deus somos luz, estamos na luz e nossas obras são manifestas e conhecidas (Jo.3:20,21), a tal ponto que, mesmo com o entendimento cego pelo deus deste século (II Co.4:4), os ímpios acabaram por glorificar a Deus por causa destas obras feitas em Deus (Mt.5:16).
- Esta vida sob orientação de Deus, de acordo com a Palavra de Deus é a responsável pelo surgimento da “segurança”. O salmista, no salmo 40, disse que nossos pés são postos em uma rocha, rocha esta que simboliza a Cristo, que simboliza a Sua Palavra, como o Senhor deixa claro no término do sermão do monte (Mt.7:24-27). No Salmo 27, o salmista também diz claramente que o lugar de segurança que o impede de ter medo de seus inimigos, mesmo no dia da adversidade, é sobre a rocha, o lugar mais íntimo da casa do Senhor, do tabernáculo, do pavilhão do Senhor (Sl.27:5).
- A segurança é prometida a Deus, mas somente pode alcançá-la o “amado do Senhor”, aquele que aceita ser orientado e dirigido pela Palavra do Senhor, aquele que busca a luz para a sua senda, luz esta que é a Palavra de Deus, as Santas Escrituras. Quando se aceita a direção e orientação divinas para a vida, passa-se a ter uma vida segura, pois, assim como ocorreu com o povo de Israel no deserto, o Senhor guia a Igreja, durante esta peregrinação terrena, em segurança (Sl.78:53).
- A segurança é um estado de tranqüilidade, de certeza que vem do aprendizado dos segredos de Deus, da experiência da comunhão com o Senhor. Por isso, em Seu diálogo com Nicodemos, o Senhor Jesus disse que o novo nascimento produz a visão do reino de Deus (Jo.3:3), mas é o nascimento pela água e pelo Espírito que gera a entrada no reino de Deus (Jo.3:5). A segurança que confirma a fé salvadora proveniente da parte de Deus, a convicção de que se está caminhando para o céu, de que se está agindo de acordo com a vontade de Deus e que gera a certeza de que se está agradando a Deus e de que não há o que temer, isto vem de uma vida de aprendizado na Palavra de Deus e de direção por parte do Espírito Santo.
- Como temos visto, a “segurança”, em primeiro lugar, é um ato de estabilidade, de firmeza, mas, para que tenhamos tal firmeza, é preciso que tenhamos os nossos pés bem firmados, ou seja, que possamos ter uma garantia, algo sólido, algo em que possamos confiar. Quem aceita a Cristo, crê nEle e na Sua Palavra e, ao experimentar a libertação do pecado, pode bem confiar ainda mais em Deus, pois começam a se cumprir as promessas feitas a nós. O servo de Deus, ao experimentar o derramamento do amor de Deus em seu coração, a vinda do Espírito Santo para nele fazer morada, o perdão dos pecados e a vivificação do seu espírito, não tem como deixar de ter a esperança e ver aumentada a sua confiança nas demais promessas vindas da parte de Deus. Esta esperança, como diz Jó 11:18, gera a confiança, gera a segurança do salvo.
- A esperança que vem da parte do Senhor, resultado da nossa salvação, não traz confusão (Rm.5:5), de forma que, como passamos a ser dirigidos pelo Senhor e a ter a mente de Cristo, nossos olhos espirituais não se guiam mais pela vista, mas pela fé (II Co.5:7).Esta esperança, aliás, é a âncora da alma segura e firme (Hb.6:19). Temos a garantia do Espírito (II Co.5:5) e, por termos garantia, temos segurança, pois, como vimos, segurança é ter garantia. Por isso, “temos confiança” e nem a morte física nos impressiona mais, pois “desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (II Co.5:8).
- A segurança dá-nos uma certeza, certeza esta decorrente do aprofundamento do estudo da Palavra de Deus, do entendimento da Sua vontade, da revelação de Seus segredos. Enquanto o mundo permanece na escuridão, procurando, com sua razão, quando muito tatear a Deus para poder entendê-lO, embora não esteja longe deles (At.17:27), o salvo tudo vê claramente, tem ampla revelação do que Deus deseja, podendo, pois, ter firmeza e convicção do que está a acontecer, não sendo surpreendido com relação às circunstâncias que os cercam (II Co.3:12,17,18).
- O salvo tem segurança porque tudo vê claramente, é filho do dia (I Ts.5:4-8), sendo esta uma das razões principais pelas quais o servo de Deus deve ser vigilante e estar preparado, como as virgens prudentes, para o dia do arrebatamento da Igreja. A segurança advinda da salvação permite-nos entender tudo o que está acontecendo, a discernir tudo espiritualmente e, assim, a não ter incertezas, dúvidas nem temores. Muito pelo contrário, o salvo, como tudo vê, está sempre seguro, firme, confiante em seu Senhor.
- Esta convicção, esta certeza de que se está agradando a Deus e que nada nos poderá impedir de prosseguir rumo a Canaã celestial é prometida a Deus aos Seus servos. No Salmo 91, o Senhor promete àquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, que não terá medo do “espanto noturno”, nem da “seta que voe de dia” (Sl.91:5), mas, antes, debaixo das asas do Senhor estará seguro (Sl.91:4). Também o Senhor promete aos Seus que não temeriam os “maus rumores” (Sl.112:7), nem tampouco sofrerá o salvo de insônia em virtude das preocupações (Pv.3:24).
- Estas promessas de Deus mostram-nos uma realidade: a de que o inimigo sempre tenta roubar a nossa segurança, apresentando problemas, dificuldades, circunstâncias que têm o único propósito de nos abalar diante do Senhor, de retirar a nossa confiança em Deus. Na estratégia militar, é conhecida a tática do chamado “tiro de inquietação”, ou seja, ações militares cujo único objetivo é tirar a coragem do adversário, trazer um clima de desconfiança e de medo, que, por si só, levarão o inimigo à confusão e, não raras vezes, à própria autodestruição. O próprio Deus, em diversas oportunidades, fomentou esta reação nos inimigos de Israel, que, sozinhos, sem que os israelitas lutasse, destruíram-se por causa deste pavor repentino.
- O inimigo de nossas almas também fomenta estes “tiros de inquietação”, buscando, com isto, retirar a nossa confiança em Deus. Entretanto, somente cai nestas ciladas aquele que não está firmando seus passos na rocha, aquele que negligencia o estudo das Escrituras, aquele que deixa de ter comunhão com Deus. Quando o salvo está em perfeita sintonia com o seu Senhor, ele logo discerne a ação do inimigo e não se deixa intimidar, prosseguindo a sua caminhada segundo a direção de Deus, assim como fez Neemias (Ne.4:8-15). Não podemos desanimar, mas, como diz o apóstolo Paulo, estar inteiramente seguros em nosso próprio ânimo (Rm.14:5).
- Estes “tiros de inquietação” devem ser identificados e não devemos dar-lhes crédito. Precisamos ter comunhão com Deus, crer única e exclusivamente na Sua Palavra, para que, então, não nos deixemos abalar. As dificuldades existem, mas se não desanimarmos, se mantivermos a nossa confiança em Deus, seremos vitoriosos, prosseguiremos. É por isso que os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala mas permanece para sempre (Sl.125:1).
- As preocupações do dia-a-dia são um obstáculo para que desfrutemos a promessa de segurança. “Preocupar-se” é “dar ou ter cuidados; tornar-se apreensivo; impressionar-se, inquietar-se; prender ou ter presa a atenção; interessar-se; fazer questão de, dar importância a”. Pelo que verificamos, pois, quem se preocupa demonstra falta de confiança em Deus, porque dá lugar, em seu coração, ao problema, à dificuldade, à circunstância trazida, coisas que ocupam a posição que deveria ser do Senhor. Quem se preocupa, ao contrário do que ocorreu com Neemias, deixa que o foco de sua atenção, que o seu intento seja desviado de Deus para outra coisa, o que mina a segurança. Devemos tudo entregar a Deus, nEle confiar e impedir que a ansiedade venha a ocupar a primazia que o Senhor deve ter em nossas vidas. Por isso, o apóstolo Pedro recomenda que lancemos toda a ansiedade sobre o Senhor, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7), como também o salmista diz que, por ter posto o Senhor sempre diante dEle, sua carne repousa segura (Sl.16:9).
- Isto não significa que o salvo não sinta ansiedade, angústia, não venha a sofrer com as circunstâncias adversas. Logicamente que, por sermos humanos, somos levados, naturalmente, a nos preocupar diante das dificuldades que nos surgem, e que são cada vez maiores à medida que se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja. As aflições que temos no mundo (Jo.16:33) nada mais são que angústias, ânsias, agonias, sentimentos de persistentes dores físicas ou morais, opressões, pois é isto que significa “aflição”. Entretanto, como salvos, quando surgirem as aflições, devemos entregá-las ao Senhor e nEle descansar, o que somente é possível se desfrutamos da promessa da segurança. Não podemos reter o problema em nossos corações, perdermos nossa paz e alegria por causa deles, mas entregá-los ao Senhor e prosseguirmos a nossa caminhada sabendo que Ele cuida de nós.
- A segurança permite-nos enxergar que estamos debaixo da mão protetora do Senhor e, andando debaixo da Sua proteção, nada de mau pode acontecer ao Seu servo. “Ora, quem vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (I Pe.3:13 ECA)
- Devemos confiar em Deus, o que significa entregar a Ele toda a nossa vida, sem qualquer reserva, renunciando-nos a nós mesmos. Não se pode confiar em Deus se, antes, não se renuncia a si mesmo. O salmista é claro ao dizer que devemos entregar o nosso caminho ao Senhor e, então, confiar nEle, que Ele tudo fará (Sl.37:5).
- Este tem sido, aliás, um dos grandes equívocos dos nossos dias. Muitos andam falando nas promessas de Deus, andam afirmando, declarando e decretando vitórias e bênçãos, gerando uma “falsa segurança” no meio do povo de Deus, do que se diz povo de Deus porque também, a exemplo destes falsos pregadores, são tão ignorantes quanto eles a respeito da verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17). Deus fará tudo o que Lhe apraz, o que está de acordo com a Sua vontade, não o que é conforme nossos desejos e sentimentos. Deus fará tudo, mas, antes, devemos entregar nosso caminho ao Senhor, ou seja, renunciar ao “eu”, renunciar à nossa vontade. Como, então, se renunciamos a nossa vontade, poderemos achar que Deus fará tudo o que quisermos? Como repousar nossa segurança em nossos caprichos em vez de em Deus?
- Deus disse que Ele concederá o desejo de nosso coração, mas, antes, quer que nos deleitemos no Senhor 9Sl.27:4), ou seja, devemos, antes, aprender a desejar o que Deus deseja, a ter uma sintonia entre a nossa vontade e a vontade divina. Só depois que passarmos a querer o que Deus quer é que seremos atendidos. Tem-se, pois, uma renúncia da nossa vontade em favor da vontade de Deus, algo bem diferente do que ensinam estes falsos pregoeiros.
- A segurança do cristão é resultado de sua entrega a Deus, de sua confiança em Deus e da experiência da imutabilidade e fidelidade divinas. O salvo passa a não ter incertezas, a não ter medo, a não se intimidar com as inquietações do inimigo porque passa a conhecer quem Deus é, a servir a Deus pelo que Ele é e não pelo que Ele pode fazer e, assim, a confiar que tudo quanto ocorre contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28), os que andam segundo o espírito (Rm.8:1), os que são guiados pelo Espírito de Deus, ou seja, os filhos de Deus (Rm.8:14).
- A segurança elimina o medo, a incerteza, o pavor. A segurança faz-nos conhecer a vontade de Deus e a nos guiarmos de acordo com ela. A segurança traz-nos firmeza, porquanto passamos a estar baseados no Senhor, em Seu caráter e não no homem e em sua falibilidade e pecaminosidade. A segurança faz-nos ter esperança, uma esperança que é resultado da fé e não de exercício de lógica e qual uma fêmea de quadrúpede, sem razão, passamos a esperar algo que está certo, firme e seguro em nosso interior, porque proveniente da Palavra de Deus, que, ao contrário das coisas humanas, permanece para sempre (I Pe.1:25).
- A segurança advinda da salvação permite que o homem não se inquiete, pois tudo passa a ser previsível, porquanto o salvo está a tratar com alguém que não muda (Ml.3:6). Verdade é que não se pode compreender a Deus, pois Deus está acima de nós, Seus pensamentos são muito mais elevados que os nossos (Is.55:8,9) e nem tudo o que Ele faz é compreendido de imediato (Jo.13:7), mas, quando o ser humano está no esconderijo do Altíssimo, pode discernir senão os motivos imediatos, que tudo contribui para o seu bem.
- Assim, até a morte física, certeza que se torna angústia, passa a ser algo desejável para o salvo, um meio de se encontrar com o seu Senhor (II Co.5:8), e, por paradoxal que possa parecer, deixa de ser uma certeza inevitável, pois o salvo não mais espera a morte física, mas, sim, o arrebatamento da Igreja (I Co.15:51,52). Assim, a única “coisa certa na vida terrena” passa a não ser mais tão certa assim e esta “incerteza” confere mais firmeza espiritual. Mais uma vez, Deus confunde as coisas que são com as que não são (I Co.1:28).
- A segurança faz o crente confiar em Deus e, por isso, passa a ter garantias, a ter firmeza, pois em Deus nós podemos confiar, pois Ele é fiel e não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13). Tornamo-nos inabaláveis, assim como o monte de Sião, porque sabemos que estamos a tratar com alguém que não muda, que não pode voltar atrás.
- A segurança faz, também, que saibamos precisamente o que temos a fazer, pois passamos a conhecer o plano de Deus para o homem, plano este que tem se cumprido integralmente, sem que ninguém possa impedir a operação de Deus (Is.43:13). Assim, vemos, a cada dia, o cumprimento das promessas de Deus, de Sua Palavra e prosseguimos nossa caminhada pela fé, dando glória a Deus, agindo como Abraão, que não se deixou confundir pelas circunstâncias adversas, mas permaneceu confiando e, por causa disto, viu a promessa realizada (Rm.4:18-21). Esta caminhada de fé tornou Abraão “certíssimo”, ou seja, extremamente seguro. É esta segurança que Deus requer de cada um de nós e, para tanto, precisamos tão somente dar glória a Deus.
- Mas o que é dar glória a Deus? É praticar a verdade, é fazer o que Jesus manda, é obedecer à Palavra de Deus, é ser luz do mundo e sal da terra (Mt.5:13-16). Nosso testemunho é fundamental para termos segurança em meio a este mundo sem Deus e sem salvação e, por isso, um mundo inseguro. Nosso comportamento gerará, em nós, segurança, firmeza, porque a fé sem obras é morta (Tg.2:14-26).
- Muitos dos que cristãos se dizem ser não têm qualquer segurança, vivem temerosos, receosos, têm medo de morrer, não têm certeza da salvação, única e exclusivamente porque, além de não estudarem as Escrituras, de não terem uma vida de oração e de comunhão com Deus, além de tudo, fazem o que querem e não o que Deus quer, vivem uma vida pecaminosa, igualzinha aos que não são crentes. São “falsos crentes”, que podem até ter visto o reino de Deus, ter sido colocados sobre a rocha, mas que não sabem andar, que não caminham porque não têm como firmar seus passos e que, por isso, caíram da graça, já não têm comunhão com o Senhor, deixaram que a semente que até chegou a germinar em seus corações, morresse sem frutificar (Mt.13:20-22). A sua insegurança denuncia esta falência da fé, a necessidade de uma nova experiência salvadora, antes que seja tarde demais.
- A segurança, por outro lado, não gera atrevimento nem precipitação. Muitos querem demonstrar firmeza e segurança espirituais através de gestos tresloucados, que dizem ser alicerçados na fé, mas que é pura carnalidade. O seguro conhece os segredos de Deus, desfruta de intimidade com o Senhor e, por isso, age sempre guiado pelo Espírito Santo. Assim, embora possa fazer coisas que confundam os homens em sua razão e lógica, o que é comum ocorrer pois Deus não está preso à lógica humana, antes usa as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias (I Co.1:27), não deixa de ser alguém que, como o seu Deus, é um Deus que não é de confusão (I Co.14:33). Destarte, a segurança não se confunde com desordem, anarquia ou quaisquer manifestações que levem ao ridículo e à falta de reverência. Episódios como a “unção de Toronto” e suas manifestações ridículas e sem qualquer propósito (“risada santa”, “vômito santo”, “unção do leão” etc.) são demonstração cristalinas de que atrevimento e invencionice não é prova de segurança, mas, sim, subterfúgio para quem não tem comunhão com Deus, que não tem firmeza na Sua Palavra.
- A visão de quem tem segurança é totalmente diversa destas carnalidades (que, muitas vezes, são puras operações satânicas). É a visão da poetisa norte-americana Fanny Jane Crosby (1820-1915), que, mesmo sendo cega desde a infância, por causa de um acidente, deixou para a história da Igreja o belíssimo hino ‘Que segurança! Sou de Jesus!”, onde mostra que a segurança é conseqüência de se pertencer ao povo de Deus, de pertencer a Jesus Cristo (“que segurança, sou de Jesus”); é resultado da experiência com Deus, da comunhão diária com Ele (‘Eu já desfruto as bênçãos da luz”), é resultado do conhecimento da vontade e do propósito do Senhor para conosco (“Sou por Jesus, herdeiro de Deus, Ele me leva à glória dos céus”) e, por isso, nada do que aconteça pode abalar o verdadeiro e genuíno cristão.
- Ter segurança é resultado de uma vida de adoração a Deus (‘Canta, minha alma, canta ao Senhor, rende-Lhe sempre ardente louvor”); é resultado da submissão à vontade de Deus (‘Ao Seu amor eu me submeti”) e da alegria da salvação (“Extasiado, então me senti”); é o resultado de uma vida de intimidade com o Senhor (“Anjos cantando nos altos céus, louvam a excelsa glória de Deus”); é resultado de um comportamento agradável a Deus, de um testemunho de sal da terra e luz do mundo (“Sempre vivendo em Seu grande amor, me regozijo em meu Salvador), um comportamento animado pela esperança da redenção, que é reconhecidamente imerecida (Esperançoso vivo na luz, pela bondade de meu Jesus”).
- Trata-se, como se observa, de uma promessa condicional, pois somente teremos segurança enquanto estivermos no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, debaixo da potente mão do Senhor (I Pe.5:6). A segurança, sendo efeito da salvação, assim como esta depende da perseverança até o fim. Se não permanecermos na fé, não teremos como ser firmes (Is.7:9 “in fine”). A firmeza está vinculada à constância (I Co.15:58). Temos desfrutado desta promessa de Deus? Temos tido segurança em Jesus?
Que Segurança! Sou de Jesus!
Letra: Fanny Jane Crosby, 1873
Port. George Benjamin Nind, 1890
Música: Phoebe Palmer Knapp, 1873
Que segurança! Sou de Jesus!
Eu já desfruto as bênçãos da luz.
Sou por Jesus herdeiro de Deus;
Ele me leva à glória dos céus.
Canta minha alma! Canta ao Senhor!
Rende-lhe sempre ardente louvor!
Canta minha alma! Canta ao Senhor!
Rende-lhe sempre ardente louvor!
Ao seu amor eu me submeti
Extasiado então me senti
Anjos cantando nos altos céus
Louvam a excelsa graça de Deus.
Sempre vivendo em seu grande amor,
Me regozijo em meu Salvador.
Esperançoso vivo na luz
pela bondade do meu Jesus.