segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Apromessa da verdadeira prosperidade

A PROMESSA DA VERDADEIRA PROSPERIDADE



A verdadeira prosperidade é ter tesouros no céu.

INTRODUÇÃO

- Estudaremos, nesta lição, uma das promessas divinas que tem sido mais distorcidas na atualidade: a promessa de prosperidade, que é, antes de mais nada, uma promessa espiritual e não material, como muitos estão a pregar.

- Se pensarmos em Cristo somente para as coisas desta vida, seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19). Devemos ajuntar tesouros no céu e não na terra (Mt.6:19,20), se é que queremos ser arrebatados na volta do Senhor, pois é em vivermos eternamente com Ele, num novo céu e nova terra, que reside a verdadeira prosperidade do cristão (Ap.22:12).

I - O QUE É PROSPERIDADE

Colaboração/Gráfico: Enomir Santos

- Nesta lição, estaremos estudando a promessa da verdadeira prosperidade. O fato de o ilustre comentarista ter se utilizado da expressão “verdadeira prosperidade”, já demonstra o quanto este assunto tem sido alvo de falsos ensinamentos nos dias tão difíceis em que vivemos. Se se está a falar de uma “verdadeira prosperidade”, é porque existe uma “falsa prosperidade”, falsa prosperidade esta que tem arrastado multidões que, por ignorarem a Palavra de Deus, têm sido enganadas por pessoas inescrupulosas e que são verdadeiros instrumentos de escândalo na atualidade.

- A palavra “prosperidade” vem do latim “prosperitas”, cujo significado é “ventura, boa saúde”, que tem como raiz “prosper”, que significa “feliz, venturoso, ditoso”. Vemos, pois, que “prosperidade” está relacionado com “felicidade”, “satisfação”, “bem-estar”.

- A primeira vez que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, aparece a palavra “prosperidade” é em Et.10:3, onde se diz que Mardoqueu trabalhava pela “prosperidade” da sua nação, expressão que indica, precisamente, “bem-estar” (como consta na NVI) e “felicidade” (como consta na Bíblia de Jerusalém), tradução da palavra “shalom”, que, inclusive, estudamos na lição anterior, que tem o significado de paz, de completude, de satisfação. É esta mesma palavra que vemos no Sl. 73:3, o conhecido salmo de Asafe, onde o salmista questiona a “prosperidade dos ímpios”.

- Em Jó 21:13, encontramos, uma vez mais, a palavra “prosperidade”, quando o patriarca Jó, dissertando sobre a tormentosa questão da prosperidade dos ímpios (o mesmo assunto do salmo de Asafe que se constitui, aliás, na leitura bíblica em classe desta lição), considera como sendo “prosperidade” os dias de bem-estar vividos por estas pessoas, descrita esta prosperidade como sendo o de uma família frutífera, de paz no lar, de riquezas materiais e de alegrias e festas constantes. Tem-se aí a palavra “towb” (טןב), cujo significado é o de “bem-estar”, “felicidade”, “saúde”, “alegria”, exatamente a palavra empregada em Ec.7:14, onde se fala do “dia da prosperidade”, num contraponto com o “dia da adversidade”, mostrando, assim, que “prosperidade” é o momento do bem-estar, da satisfação, que se opõe ao dia da dificuldade. Também encontramos esta palavra em Zc.1:17, onde há uma promessa de dias melhores para as cidades de Israel.

- No Sl.30:6, Davi também fala da prosperidade, dizendo que, nela, não haveria vacilação. A prosperidade neste texto é a manhã que veio depois do choro de uma noite. É o resultado do favor de Deus, do contrário da Sua ira. A “prosperidade”, que é tradução da palavra “shelev” (שלוה), significa “bem-estar”, “conforto”, “alívio”, “sossego”, “tranqüilidade”. Uma variante desta palavra, “shalvah” (שלןה), que tem o mesmo significado, é encontrada no Sl. 122:7, onde há o desejo de prosperidade dentro dos muros de Jerusalém, a “cidade de justiça e de paz”, como também em Pv.1:32, onde se fala na “prosperidade dos loucos”, ou seja, um estado de tranqüilidade de quem se recusa a ter a sabedoria divina e cujo fim é a destruição.

- Também é tradução da palavra “shalvah” a palavra “prosperidade” que lemos em Jr. 22:21, na dura palavra que o profeta transmite, da parte de Deus, para o rei Jeoiaquim, um rei perverso, que não quis dar ouvidos ao Senhor, nem mesmo quando Deus lhe faz mostrar a sua “prosperidade”, ou seja, a situação tranqüila em que o reino se encontrava ao término do reinado de Josias, seu pai, mormente quando havia ocorrido um avivamento e a restauração espiritual de Judá. É a situação de tranqüilidade e bem-estar dos inimigos do povo de Deus, tão tristemente lembrada pelo profeta em Lm.1:3.

- A palavra “prosperidade” surgirá, então, apenas em o Novo Testamento, em At.19:25, quando é utilizada por Demétrio, ourives da prata que fazia adornos ligados ao culto da deusa Diana, que afirma que daquele ofício ele tirava a sua “prosperidade”, tradução da palavra grega “euporia” (ευπορια), cujo significado é “bem-estar financeiro”, indicando, aqui sim, uma prosperidade exclusivamente material. Em I Co.16:2, embora tenhamos uma outra palavra, “euodóo” (ευοδόω), o sentido aqui também é o de “ganho”, de “recurso financeiro”.

- Vemos, pois, que a idéia de “prosperidade”, ao longo do texto sagrado, envolve a idéia de “bem-estar”, de “sossego”, de “tranqüilidade”, de “felicidade”, que nem sempre tem uma conotação material ou econômico-financeira, como tem sido, de modo distorcido, propagandeado nestes nossos dias tão difíceis, às vésperas da volta de Cristo.

- Quando verificamos palavras derivadas de “prosperidade”, que encontramos também no texto sagrado, vemos, com ainda mais razão, o sentido que adquire “prosperidade” nas Escrituras. Em Gn.24:21,56, utiliza-se a expressão “prosperado”, que é tradução da palavra hebraica “tsalach” (צלח), cujo significado é o de “bem sucedido”, “exitoso”, que é precisamente o termo empregado para qualificar a José em Gn.39:2, mesmo sentido que vemos em I Cr.22:11, onde Davi deseja sucesso a Salomão na empreitada da construção do templo, êxito, aliás, que foi alcançado, como se lê em II Cr.7:11, onde se repete a mesma palavra, que também encontramos em Ed.6:14, onde se revela o mesmo sucesso e êxito, desta feita, na construção do Segundo Templo, sucesso que também era objeto da confiança de Neemias na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne.2:20). É, ainda, o sucesso o sentido da prosperidade alcançada pelos amigos de Daniel (Dn.3:30) ou a que será obtida pelo derradeiro rei constante da visão de Daniel (Dn.8:24,25).

- Esta mesma idéia de sucesso e de êxito repete-se no Sl.37:7, onde o salmista diz para que não atentemos para o sucesso, o êxito daquele que tem astutos intentos, ou, então, no Sl. 45:4, onde se deseja que o “Valente” tenha sucesso na sua luta pela causa da verdade, da mansidão e da justiça, ou, ainda, no Sl.118:25, em que o salmista clama ao Senhor para que se tenha êxito. É o que buscou Neemias em sua oração (Ne.1:11) e, mesmo, o que se vê na pergunta que Jeremias faz ao Senhor sobre a prosperidade dos ímpios (Jr.12:1).

- O êxito é, também, o sentido de “prosperar” em Js.1:8, onde, aliás, desde já salientemos, se tem como fonte da prosperidade a observância da lei do Senhor, que, aliás, foi, também, tanto o motivo pelo qual o rei Asa conseguiu construir fortalezas para se proteger do reino do Norte (II Cr.14:7), quanto o do rei Uzias ter também prosperado, qual seja, o de ter buscado ao Senhor nos dias de Zacarias, entendido nas visões de Deus (II Cr.26:5). Também é esta a lição que apreendemos da leitura de II Cr.20:20.

- Mas “prosperar” também tem o significado de “conduzir-se com prudência, com sabedoria”, visto que “prosperar” é resultado da busca ao Senhor, fonte de toda prudência e sabedoria, não há como haver “prosperidade” sem que se busque a Deus. Por se recusarem a buscar ao Senhor, os líderes do povo de Deus, nos dias de Jeremias (e que bom se tivesse sido apenas nos dias de Jeremias…), não “prosperaram”, mas, antes, embruteceram-se e o gado acabou se espalhando, acabou se perdendo (Jr.10:21). Aqui a palavra “prosperar” traduz a palavra hebraica “sakal” (שכל), cujo sentido é, precisamente, o de “conduzir-se com prudência, com sabedoria”. Como é triste um líder que não busca a Deus… Era, aliás, esta a séria recomendação dada por Moisés ao povo em Dt.29:9, para que guardassem o concerto feito com Deus para que prudentemente pudessem se conduzir, como também o conselho dado por Davi a Salomão (I Rs.2:3).

- A falta de prosperidade, ou seja, o insucesso, é resultado direto de se estar fora da vontade do Senhor, de se recusar a obedecer-Lhe, como se verifica de textos como Nm.14:41, II Cr.13:12 ;24:20; Pv.28:13, entre outras passagens.

II - AS CARACTERÍSTICAS DA PROMESSA BÍBLICA DA PROSPERIDADE

Colaboração/Gráfico: Jair César

- Pelo que pudemos verificar, vendo os textos em que aparece a palavra “prosperidade” ou seus derivados na Bíblia Sagrada, a idéia de “prosperidade” está relacionada com a de sucesso, êxito, bem-estar e felicidade. Todo este estado de “prosperidade”, porém, como vemos claramente no texto sagrado (e, com a exceção de dois versículos em o Novo Testamento, todos os textos são do Antigo Testamento), temos que a prosperidade tem como única fonte o Senhor. Fala-se sempre em prosperidade como algo dado da parte do Senhor, como o resultado de uma vida de comunhão com Deus.

- Somente se tem “prosperidade”, portanto, se se está em comunhão com o Senhor, se há uma vida com Deus, se há obediência da parte do homem em relação ao seu Deus. A prosperidade é uma conseqüência, um efeito de uma vida espiritual , de uma vida de obediência e de busca ao Senhor.

- Como já dissemos supra, mais de uma vez a Bíblia condiciona a prosperidade do homem a uma vida de obediência ao Senhor. Não é possível ter-se felicidade, bem-estar, alegria, condução com prudência, sucesso e êxito se o indivíduo não cumprir a lei do Senhor, não O buscar de todo o seu coração. A “prosperidade”, portanto, é o resultado da obediência, é fruto de um estado espiritual de comunhão com Deus.

- Tem-se, portanto, que a promessa da prosperidade é, sobretudo, uma promessa condicional, depende de o indivíduo aceitar ser submisso ao Senhor, fazer-Lhe a vontade, buscá-lO de todo o seu coração. A prosperidade dos grandes homens de Deus, no passado, estava vinculada ao implemento desta condição e, por causa disso, vemos que Josué, Salomão e os amigos de Daniel alcançaram sucesso e êxito em suas vidas, enquanto que pessoas como Acabe, Jeoiaquim, a geração do êxodo ou os líderes dos dias de Jeremias foram mal-sucedidos.

- Mas, além de uma promessa condicional, quando bem observamos a Bíblia Sagrada, vemos que a promessa da prosperidade não assume características puramente materiais. Pelo contrário, vemos que a idéia de “prosperidade” abrange, em primeiro lugar, aspectos espirituais. “Prosperidade” significa, em primeiro lugar, um estado de felicidade, de satisfação, algo que nos faz lembrar da paz interior, de que tratamos na lição anterior, até porque, como vimos, algumas vezes a palavra “prosperidade” é utilizada para a tradução de “shalom”. A satisfação não se dá quando se tens bens materiais. Muito pelo contrário, a maior satisfação de alguém está na comunhão, na paz, na alegria decorrente do perdão de seus pecados e de ter habitando em si o Espírito de Deus.

- Vemos bem isto quando verificamos que tanto a palavra “towb” como a palavra “shelev” ( ou sua variante “shalvah”) priorizam mais um estado da alma, qual seja, o sossego, a tranqüilidade e o alívio, do que a posse de bens materiais. O sucesso e o êxito preconizados pela palavra “tsalach” não advêm necessariamente da posse de bens, mas, pelo contrário, de uma situação de conforto espiritual, de alívio. Se não fosse assim, como entender que José é chamado de próspero quando ainda se encontrava escravo na casa de Potifar, ou, então, que, seguidamente, o texto sagrado considere inútil e vã a posse de bens materiais por parte dos ímpios (Jó 21:7-16; Sl.73:3,17-20, Pv.1:20-32)?

- A prosperidade, portanto, não se reduz à posse de bens materiais. Na verdade, no texto sagrado, não se confunde com esta posse, pois casos há em que a Bíblia diz que há prosperidade mesmo que não se tenham estes bens (caso de José), como também em que há a posse destes bens, embora não se considere haver prosperidade (Salmo 73, v.g.). Portanto, a promessa da prosperidade não é a promessa de riquezas materiais, como muitos têm pregado, enganando a grande parte dos que cristãos se dizem ser.

- O que se vê, também, quanto à promessa de prosperidade, em seu aspecto material, que tal prosperidade é prometida, em primeiro lugar, ao povo de Israel, como conseqüência do pacto firmado com ele seja no Sinai, seja nos montes Gerizim e Ebal (o chamado “pacto palestiniano” - Dt..27:12-13; Js.8:33-35). Tanto que é sintomático que tenhamos visto que a palavra “prosperidade” e seus derivados sejam encontrados quase que exclusivamente no Antigo Testamento e, nas duas vezes em que aparece em o Novo Testamento, esteja num contexto completamente alheio a promessas.

- Temos, portanto, que as famosas bênçãos materiais de Dt.28:1-14, tão utilizadas pelos pregadores de prosperidade em os nossos dias, são promessas dirigidas ao povo de Israel, são promessas “nacionais”, que têm como destinatários os israelitas, como, aliás, fica bem claro logo no intróito da relação, em Dt.28:1, quando se vê que a promessa era para que Israel se exaltasse sobre todas as nações da Terra e que era o resultado da fidelidade à lei de Moisés, lei que, como bem sabemos, já não mais vigora na atual dispensação.

- Tem-se, portanto, que a aplicação das referidas promessas de prosperidade material ali previstas para a Igreja, em os nossos dias, é algo equivocado e que não encontra qualquer respaldo bíblico, sendo mais um engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente a todos quantos não conhecem a doutrina (Ef.4:14).

- Em outras passagens, vemos que a prosperidade material é prometida a pessoas específicas, sendo, pois, verdadeiras promessas “individuais”, exclusivas para seus destinatários. Foi o caso de Salomão (I Rs.3:11-13), que recebeu a prosperidade material não porque a tivesse pedido, mas, sim, porque quis, antes, sabedoria, a verdadeira prosperidade (que, como vimos supra, encontra-se representada no texto sagrado pela palavra “sakal”), motivo por que, por ter agradado a Deus ao dar prioridade à sabedoria, recebeu, também, riquezas materiais (I Rs.3:5-10).

- Como se trata de promessas “individuais”, temos que tais promessas, igualmente, não podem ser consideradas como feitas a qualquer outra pessoa, sendo, também, engano querer fazer as pessoas crerem que, assim como Salomão, Abraão ou Ezequias, de igual modo, Deus tem algum compromisso de enriquecer este ou aquele servo Seu, pelo simples de esta indivíduo ser fiel ao Senhor.

- Mas, e este ponto é muito importante, além de tais promessas de prosperidade material serem destinadas a pessoas que não a Igreja, temos que o propósito de sua realização outro não era senão o engrandecimento do nome do Senhor. As pessoas e o povo de Israel não eram favorecidos materialmente por Deus para que vivessem regaladamente, para que tivessem abundância e condições de satisfazer seus caprichos e vontades, mas, muito ao contrário, para que o nome do Senhor fosse glorificado.

- Em Dt.28:10, fica bem claro que o objetivo da prosperidade material prometida a Israel era fazer com que as nações, sobre as quais Israel se sobressairia, viessem a reconhecer que aquele era o povo de Deus. “E todos os povos da terra verão que é chamado pelo nome do Senhor e terão temor de ti”. O objetivo declarado do Senhor era o de ver o Seu nome exaltado e glorificado pelas demais nações. Tanto assim é que, em havendo a desobediência por parte de Israel, sobreviriam maldições, inclusive a penúria econômico-financeira, maldições que tinham o mesmo propósito, o de mostrar a grandeza do Senhor, como se lê em Dt.28:37: “e serás por pasmo, por ditado, e por fábula entre todos os povos a que o Senhor te levará”.

- Portanto, ainda que tais promessas fossem dirigidas à Igreja, o que não é o caso, também estariam equivocados os que as andam buscando para satisfação dos seus desejos, de seus caprichos, de sua ganância, pois, em momento algum, quis o Senhor que a prosperidade material servisse para agrado dos homens, mas única e exclusivamente para o engrandecimento do nome dEle. Não é por outro motivo que, no ocaso de sua vida, Salomão, a despeito de todo o seu riquíssimo patrimônio, tenha, publicamente, resumido a vida humana deste modo: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os Seus mandamentos, porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec.12:13,14).

- Temos, portanto, verificado que, à primeira vista, a promessa da prosperidade não se reduz ao aspecto material, que é uma promessa condicional e que, notadamente em seu aspecto material, é uma promessa dirigida ou ao povo de Israel, ou, então, a pessoas específicas, tendo como propósito o engrandecimento do nome do Senhor.

- Mas não haveria uma promessa de prosperidade, ainda que não apenas material, a outrem que não Israel ou as personagens bíblicas expressamente indicadas no texto sagrado?

- A resposta a esta questão é afirmativa. É evidente que Deus quer a prosperidade dos homens, desde que entendamos o verdadeiro significado de “prosperidade”. “Prosperidade” é o “bem-estar”, a “felicidade”, a “satisfação”, o “alívio”, o “conforto”, a “tranqüilidade”, o “resultado da condução com prudência”, como temos visto na análise dos textos bíblicos supra.

- Ora, o que Deus deseja é o bem-estar do homem. Ainda no Éden, observamos que Deus pôs o homem no jardim para o lavrar e o guardar (Gn.2:15), mas, antes de ali pôr o homem, fez questão que o jardim tivesse tanto árvores agradáveis à vista como boas para comida (Gn.2:9). Neste gesto, o Senhor demonstrou, claramente, que seu objetivo era que o homem tivesse bem-estar físico e mental, que estivesse num ambiente em que pudesse ter satisfação, alegria, conforto e tranqüilidade. Ora, isto o Senhor fez ao primeiro casal, ou seja, é um propósito que se estende a toda a humanidade.

- No entanto, o homem pecou e, por causa disso, aquele ambiente de satisfação, conforto e tranqüilidade, passou a ser um ambiente penoso, de dificuldades, onde a sobrevivência não se daria mais por meio da satisfação, mas do suor do rosto, da dor (Gn.3:17-19). Por isso, a sobrevivência passou a ser algo advindo de sofrimento e esforço, não mais algo prazeroso, como era antes do pecado.

- A prosperidade, portanto, ou seja, uma situação de alívio, conforto, tranqüilidade, inclusive no que toca à sobrevivência, depende, pois, do perdão dos pecados e não é por outro motivo que o servo de Deus é sempre chamado de “bem-aventurado”, pois, como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “bem-aventurado” é “aquele que goza de boa ventura, bem-afortunado, feliz”.

- A primeira vez que a palavra “bem-aventurado” surge nas Escrituras é em relação ao povo de Israel, no cântico de Moisés, que, como sabemos, é uma expressão profética, de modo que se trata de uma mensagem do próprio Deus: “Bem-aventurado és tu, ó Israel! Quem é como tu, um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro e a espada da tua alteza?…” (Dt.33:29). “Bem-aventurado” aqui traduz a palavra hebraica ” ‘esher” (אשד), que significa “abençoado”, “feliz”, “satisfeito”.

- Esta pergunta que Deus faz ao povo, através de Moisés, podemos hoje responder, ou seja, assim como Israel, há também agora um outro povo que também foi salvo pelo Senhor, que é a Igreja, que é formada de “bem-aventurados”, como Jesus nos indica claramente no intróito do sermão do monte (Mt.5:1-12), as ovelhas que não eram do aprisco do Senhor (Jo.10:16), o povo que não era povo, mas que agora é povo de Deus (I Pe.2:10).

- Para ser “bem-aventurado”, porém, é necessário que se tenha sido salvo pelo Senhor (Dt.33:29), salvação esta que se dá mediante o perdão dos pecados (Sl.32:1,2), a fé no Senhor (Sl.34:8; 40:4; 84:12) e a eleição de Deus para se chegar a Ele (Sl.65:4). Todos estes requisitos são satisfeitos pela Igreja e, portanto, se os salvos são chamados bem-aventurados, isto é a prova evidente de que a prosperidade também é uma promessa que se estende à Igreja.

- No entanto, esta prosperidade, como temos visto, não abrange aspectos materiais, mas, sim, um estado espiritual de felicidade, de bem-aventurança. A prosperidade do salvo é o fato de ser bem sucedido naquilo que é fundamental para alguém: ter a vida eterna, ter a certeza de que o seu fim é o de habitar com o Senhor para todo o sempre.

- Quando vemos a descrição dos “bem-aventurados” por parte do Senhor Jesus, no intróito do sermão do monte, que é conhecido como o “sermão das bem-aventuranças”, em momento algum, vemos o Senhor se referindo a bênçãos materiais, a posse de riquezas. O bem-aventurado é reconhecido pelo seu caráter, pelo seu comportamento, não pelos bens que possa ter. Ao encerrar as bem-aventuranças, aliás, o Senhor faz questão de dizer que a prosperidade abrange um grande galardão nos céus, que deveria ser o motivo de exultação e alegria para a Igreja (Mt.5:11).

- Ainda no sermão do monte, dirigido à Igreja, Jesus faz questão de mostrar que o que levará os homens a glorificar a Deus por causa dos Seus discípulos, não é, como ocorria com Israel, a prosperidade material, mas, sim, a presença de boas obras (Mt.5:16). Enquanto Israel engrandeceria o nome do Senhor por intermédio de bênçãos materiais (Dt.28:10), a Igreja levaria as nações a glorificarem a Deus pela sua conduta, pelo seu comportamento, por ser luz do mundo e sal da terra.

- Vemos, pois, que o propósito existente na promessa da prosperidade, que é o engrandecimento do nome do Senhor, persiste em relação à Igreja, mas não mais em termos de bens materiais, mas, sim, em termos estritamente espirituais, em termos muito mais profundos, por meio da transformação do homem interior, por meio da nova criação. Não é por outro motivo que Paulo afirma que o que importa é que sejamos novas criaturas (Gl.6:15).

- Prosseguindo neste mesmo raciocínio, o Senhor Jesus ainda ensinou os Seus discípulos de que não deveriam ajuntar tesouros na terra, mas, sim, no céu (Mt.6:19,20). Aprofundando ainda mais este ensino, fez questão de ressaltar que onde está o tesouro, aí está o coração das pessoas e que é impossível servir a Deus e às riquezas simultaneamente (Mt.6:21,24).

- Ao assim se expressar, o Senhor Jesus disse que uma das condições para servir a Deus é a de não servir às riquezas, ou seja, quem busca as riquezas materiais, quem corre atrás delas está, ao mesmo tempo, abandonando a Deus, rejeitando o Seu senhorio. Neste ponto, portanto, vemos como os que estimulam as pessoas a servir a Deus por causa dos bens materiais são verdadeiros agentes de Satanás, sacerdotes de Mamom, que, com este comportamento, estão levando milhares e milhares de pessoas a perder a sua salvação, “porque o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm.6:10).

- A prosperidade abrange, assim, o desapego aos bens materiais, o total desprendimento das riquezas e daquilo que possam elas trazer à pessoa. Ser próspero, ter a promessa bíblica da prosperidade é, portanto, para os salvos na pessoa de Jesus Cristo, libertar-se da ganância, da avareza, da busca de riquezas, da corrida ao vil metal, da caça aos tesouros desta terra. Quem é próspero está livre de correr atrás do dinheiro. Temos sido prósperos?

- Ser próspero é ser feliz, bem-aventurado e a bem-aventurança é um estado de felicidade, de paz em que as pessoas, por terem comunhão com Deus, sabem pôs as coisas no devido lugar, são capazes de verificar o valor de cada coisa na ordem instituída por Deus. Assim, têm plena convicção de que a vida é mais elevada que o mantimento, que o corpo vale mais que o vestido (Mt.6:25).

- A verdadeira prosperidade põe, pois, a posse dos bens materiais no seu legítimo lugar, ou seja, um lugar secundário, o lugar do “acréscimo”, daquilo que é necessário mas que, por ser passageiro e vinculado a esta existência terrena, nunca poderá ser a prioridade ou o alvo de uma vida de comunhão com Deus, de uma vida feliz. É neste sentido que, em continuidade ao Seu ensino, o Senhor Jesus diz que a pessoa próspera busca primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, sabendo que tudo o mais será acrescentado (Mt.6:33).

- Deus nos promete livrar da prisão do materialismo, Deus nos promete livrar do amor do dinheiro, da servidão às riquezas, da avareza, da idolatria a Mamom. A prosperidade é um estado concedido ao homem pela graça de Deus em que o homem se liberta da intranqüilidade, da falta de sossego, da perturbação decorrente da busca desenfreada por bens materiais, desta distorção produzida pelo pecado, que fez com que necessitássemos, para sobreviver, de obter a posse de bens e de recursos da natureza.

- Uma das características daqueles que não servem a Deus, dos que rebelam contra o Seu senhorio (os gentios) é, precisamente, o de viver inquietos à busca da comida, da bebida ou do vestido (Mt.6:32), busca esta que se torna uma obsessão, uma escravidão(Pv.1:19), escravidão que nunca se acaba, pois a cobiça do homem nunca se satisfaz (Ec.6:7). O resultado disto é uma contínua perturbação, uma falta de tranqüilidade que nenhuma fortuna é capaz de dar (Pv.15:27).

- Esta liberdade do vil metal, da avareza, da ganância é, precisamente, o que caracteriza a prosperidade prometida por Deus à amada Igreja do Senhor. Jesus nada tem com aqueles que estão presos nas coisas desta vida, como, aliás, deixou bem demonstrado ao não interferir na luta de alguém por uma herança, trazendo o ensinamento de que “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc.12:13-15).

- Tanto assim é que o apóstolo Paulo faz questão, ao ministrar aos filipenses, de mostrar que sua vida estava totalmente liberta da busca de riquezas. Em Fp.4:12,13, o apóstolo mostra que, graças à prosperidade de que desfrutava, sabia servir a Deus tanto na abundância, quanto na necessidade e, por isso, podia todas as coisas nAquele que o fortalecia. Vemos, pois, que o texto tão usado pelos “pregadores da prosperidade” para defender o enriquecimento desmedido por parte de Deus é, na verdade, um texto onde se mostra que o verdadeiro cristão é aquele que está acima da posse de bens materiais para servir a Deus. O crente pode todas as coisas, seja na abundância, seja na necessidade, porque o mais importante para ele é ter Jesus e não ouro ou riquezas. Paulo diz “posso todas as coisas” e não “possuo todas as coisas”, como estes idólatras travestidos de evangélicos vêm tentar ensinar aos desavisados que ainda não se libertaram do vil metal.

- A prosperidade prometida aos servos do Senhor, portanto, não envolve a posse de bens materiais, pois o verdadeiro e genuíno servo de Deus, dotado de sabedoria que vem do alto (Tg.3:13,17), age como o sábio Agur, pedindo ao Senhor tão somente a “porção acostumada”, ou seja, o necessário para a sua existência digna, a fim de que, com muitas riquezas, não venha a rejeitar a Deus e, na miséria, não venha a ter de furtar para sobreviver (Pv.30:8,9).

- É esta “porção acostumada” que o Senhor tem prometido aos Seus servos e que consta em Mt.6:33. “Todas estas coisas vos serão acrescentadas” significa que todas as coisas de que necessitamos para sobreviver nos serão dadas pelo Senhor se buscarmos primeiro o reino de Deus e a sua justiça. Bem ao contrário do que se ensina erroneamente na atualidade, Deus não prometeu à Igreja “todas as coisas”, mas, sim, “todas as coisas necessárias”. É, aliás, o que Jesus nos ensinou a pedir: “o pão nosso de cada dia” (Mt.6:11).

- Nos dias em que vivemos, de intensa concentração de renda, de cada vez maior desigualdade social, a prenunciar o injusto sistema econômico do governo do Anticristo, obter a “porção acostumada” já é um verdadeiro milagre a ser testemunhado pelos homens e mulheres verdadeiramente prósperos, que são aqueles que desfrutam da felicidade, do bem-estar, porque vivem em comunhão com o Senhor e sentem, antes de mais nada, fome e sede de justiça. Deus prova todo o Seu controle sobre todas as coisas, inclusive sobre as estruturas sociais injustas e contaminadas pelo pecado das sociedades humanas, ao fornecer o absolutamente necessário para a manutenção da dignidade de cada servo Seu.

- Esta prosperidade é uma promessa divina, destinada à Igreja, condicionada à obediência e que se encontra estampada na expressão do salmista: “Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl.37:25). O salmista, ao longo deste poema, mostra como o justo é cuidado pelo Senhor e um dos cuidados é, precisamente, aquele relacionado com a sua sobrevivência sobre a face da Terra. Deus não desampara o justo, ou seja, não O abandona, não O deixa à mercê, dando-Lhe o necessário para o seu sustento e sobrevivência, como também o de sua família.

- Quantos testemunhos temos ouvido, ao longo dos anos, de pessoas fiéis ao Senhor que, apesar do desemprego e das necessidades materiais, tiveram a experiência de não lhes faltar o necessário para a sobrevivência e de terem sido supridas sem que, para tanto, tivessem de apelar à mendicância. Esta é a promessa da prosperidade em seu aspecto material em relação à Igreja: a da suficiência do necessário para a sobrevivência, sem humilhação, sem que se tenha de recorrer à mendicância.

- Cabimento algum têm os ensinos que se ouvem na atualidade de que Deus tem nos destinado fortunas, de que fomos escolhidos para serem os bilionários da atualidade, os grandes magnatas, os ricaços beneficiários do sistema injusto e perverso que se instalou sobre o mundo. Não, não e não! A Bíblia nos ensina que estes “grandes mercadores” são, precisamente, os que lamentarão a queda da “grande Babilônia” ao término da Grande Tribulação, numa prova indelével de que são pessoas totalmente alheias a Deus e a seu Cristo (Ap.18:11,15,19), seja porque serão pessoas que amam a injustiça e o governo do Anticristo, seja porque serão pessoas que aqui estarão enquanto a Igreja estará com o seu Senhor nas bodas do Cordeiro. Como, então, querer ser um deles?

- É uma promessa condicional, ou seja, para que tenhamos a prosperidade, que, no aspecto material, representa a liberdade do amor do dinheiro e a suficiência para a sobrevivência, necessário se faz que sejamos justos, isto é, obedientes à Palavra de Deus, que é a “reta justiça” (Jo.7:24). Assim, também não tem cabimento a afirmação de que, para ter a promessa da prosperidade, necessário se faz que a pessoa seja um contribuinte na obra de Deus, seja um dizimista.

- Não resta dúvida de que o dizimista, o contribuinte na obra de Deus é abençoado pelo Senhor, porque o Senhor ama ao que dá com alegria (II Co.9:7). Mas daí a dizer que a condição para ter o suficiente para viver (ou para ser rico e bilionário, como dizem os enganadores), seja necessário primeiro contribuir, dar o dízimo ou, então, “dar o seu tudo” nas fogueiras santas da vida, tem-se uma abominável distorção das Escrituras Sagradas, distorção esta que não ficará imune às severas punições divinas àqueles que falsificam a Sua Palavra.

- A prosperidade prometida pelo Senhor está condicionada única e exclusivamente à justiça, à obediência da pessoa à sã doutrina. Deus promete a prosperidade ao justo, como se vê no Sl.1 e no Sl.37:25. O texto sagrado fala em justo, não em contribuinte ou dizimista. Não existe um “toma-lá-dá-cá”, uma barganha econômico-financeira. Não, não e não!

- Quando se abrem os textos bíblicos relacionados com dízimos, contribuições e ofertas, em momento algum vemos que Deus condiciona a prosperidade a um prévio doar da parte do homem, como se Deus fosse um mendigo, um necessitado. O texto de Malaquias, tão utilizado para estes fins, não serve para este objetivo. Por primeiro, o texto está dirigido a Israel, sendo, mais uma vez, uma promessa “nacional”, inaplicável à Igreja e, o que é mais grave, o profeta denuncia, em primeiro lugar, a desobediência à lei (Ml.3:7), isto é, a injustiça, para, então, dizer que ocorria um roubo quando não se traziam os dízimos à casa do tesouro. Mas não é só! Caso os israelitas voltassem a dizimar, o Senhor lhes daria uma bênção tal que lhes traria “a maior abastança” (a palavra hebraica é “day” - די - cujo significado é “o suficiente”, “o bastante”), ou seja, Deus não prometeu tornar Israel bilionário, mas teria ele o suficiente para ter uma existência digna, que seria louvada entre as nações, que os chamariam de “bem-aventurados” (Ml.3:11). Vemos, pois, todas as características de uma promessa “nacional”, mas que está vinculada à justiça e à abastança. Assim, ainda que se transfira tal promessa à Igreja, não é ela, em hipótese alguma, um compromisso divino para o enriquecimento desmedido nem tampouco uma dispensa de observância da sã doutrina.

- Devemos dizimar porque reconhecemos que Deus é o Senhor, que todas as coisas são dEle e que Ele é o soberano, inclusive sobre o nosso patrimônio (Gn.14:20; Sl.24:1; Mt.23:23), mas não porque queiramos enriquecer ou entendamos que, assim fazendo, Deus terá de nos enriquecer, pois isto, além de não ser agradável a Deus, é demonstração de impiedade, de avareza, de ganância e, assim sendo, além de não alcançarmos qualquer enriquecimento, pois isto não está na Bíblia e Deus tem compromisso apenas com a Sua Palavra (Jr.1:12), estaremos demonstrando toda a nossa impiedade, estaremos provando que somos idólatras (Cl.3:5), testificando contra nós mesmos que estamos destinados a ficar de fora da cidade santa (Ap.21:8; 22:15), ante a evidência de nossos frutos maus (Mt.7:19,20). De igual maneira, se estivermos na administração financeira da igreja local, que nosso comportamento seja como o de Pedro em relação a Simão, rejeitando esta contribuição interesseira e malévola e clamando, tal qual o apóstolo: “o teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro” (At.8:20 “in fine”). Que nos comportemos como homens de Deus e não como mercenários, como muitos têm procedido…

- Por fim, não podemos nos esquecer de que prosperidade também significa êxito, sucesso. O comentarista bíblico Matthew Henry, mesmo, ao dissertar sobre o Sl.1:3, afirmou que a prosperidade ali descrita é a “prosperidade da alma” e tem a ver com as “excelências da lei divina”, com “o poder e a eficácia da graça de Deus”. Por isso, dizia Matthew Henry, quando lêssemos os três primeiros versículos do Sl.1 deveríamos “ensinar e admoestar a nós mesmos, e uns aos outros, para vigiar em relação ao pecado e a tudo o que faz aproximar dele e conviver cada vez mais com a Palavra de Deus e abundar no fruto da justiça, bem como sobretudo orar, buscar a Deus para nos fortificar contra toda palavra e obra malignos e nos aparelhar de toda palavra e trabalho bons” (Disponível em: http://www.ccel.org/ccel/henry/mhc3.Ps.ii.html Acesso em 25 set. 2007) (tradução nossa). Henry mostra-nos, assim, que a prosperidade verdadeira é o sucesso, o êxito em alcançar o fim da nossa fé: a salvação da nossa alma (I Pe.1:9).

- Eis o motivo pelo qual Asafe, quando via apenas os bens materiais acumulados pelos ímpios, quase se desviou da fé (Sl.73:2), mas, ao entrar no santuário de Deus, pôde entender o fim(Sl.73:17), ou seja, o verdadeiro sucesso, o verdadeiro êxito, que é o de obter a salvação da vida na pessoa bendita de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Somente neste fim, diz o profeta Malaquias, veremos a diferença entre o justo e o ímpio (Ml.3:18), entenderemos quem, na verdade, é o exitoso, o bem sucedido, pois de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt.16:26; Mc.8:36).

III - A PALAVRA DE DEUS É A FONTE DA PROSPERIDADE

- Vistas as características da promessa bíblica da prosperidade em relação à Igreja, temos, ainda, de indagar como obter esta promessa, já que, como vimos, trata-se de uma promessa condicional.

- Dissemos que a prosperidade enquanto promessa para a Igreja como que se confunde com a bem-aventurança e vimos que a primeira vez em que surge a expressão “bem-aventurado” nas Escrituras, ainda que dirigida a Israel, ressalta-se que a fonte desta bem-aventurança é a salvação pelo Senhor (Dt.33:29). Assim, tem-se que a fonte da prosperidade está na salvação, salvação que, sabemos, se dá pela fé em Cristo Jesus (Ef.2:8), fé que vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).

- O salvo autêntico e verdadeiro tem de ter raiz, tem de ter base na Palavra de Deus. Como diz o Senhor, só quem ouve e pratica as Suas palavras pode vencer as dificuldades, as provações da vida, os obstáculos que surgem na vida de cada um. Quem constrói a sua casa sobre a rocha, os ventos, as tempestades e os rios não são capazes de destruir a edificação (Mt.7:24,25). Construir a casa sobre a rocha é crescer na Palavra de Deus, pois a rocha aí é símbolo de Cristo, que é a Palavra (Jo.1:1).

- Pela botânica, sabemos que a raiz é a parte do vegetal superior mais importante, porque é a que dá a sustentação para o crescimento do vegetal e através da qual se vem a alimentação necessária para a sobrevivência. Uma planta que não tenha uma raiz suficiente, como Jesus disse na parábola do semeador, não resiste, morre. Uma planta cuja raiz não tenha condições de continuar crescendo, levará à morte do vegetal, porque, mais cedo ou mais tarde, a planta será deslocada e, sem estar presa ao solo, acabará por morrer, por maior ou mais antiga que seja. Aliás, recentemente, vimos uma reportagem a respeito da quantidade de árvores antigas que estão caindo no Rio de Janeiro, precisamente por causa das instalações de cabos, dutos e tubulações subterrâneas naquela cidade que comprometem a persistência do crescimento das raízes destas árvores, que passam a cair com muita freqüência, por qualquer abalo mais forte, como chuvas ou ventanias.

- A própria Bíblia, quando fala do servo fiel, do homem bem-aventurado, ou seja, do homem mais do que feliz, que assim o é por ter comunhão com Deus, sempre o compara a árvores que têm raízes profundas, a indicar, portanto, ser indispensável que se tenha o conhecimento crescente, contínuo e profundo da Palavra de Deus para se ter uma vida espiritual sadia.

- Em Nm.24:6, numa das profecias de Balaão, Israel, o povo santo do Senhor, é comparado como “árvores de sândalo que o Senhor plantou, como cedros junto às águas”(ECA). Tanto o sândalo, quanto o cedro têm raízes profundas e muito eficientes. Os cedros são ditos junto às águas, ou seja, possuem raízes que vão diretamente à fonte de água, a permitir um crescimento duradouro e bem grande. Além do mais, pela sua altura (o cedro do Líbano tem entre 13 a 20 metros de altura), o cedro, necessariamente, tem de ter raízes bem profundas. Assim deve ser o crente: uma pessoa com raízes profundas, ou seja, que se esmera no estudo e no conhecimento da Palavra de Deus, conhecimento que lhe permita levar até as águas vivas oferecidas por Cristo Jesus (cf. Jo.4:10,11).

- No Salmo 1, temos uma das mais conhecidas referências dos salvos a árvores. O salmista diz que o varão bem-aventurado é como a árvore plantada junto ao ribeiro de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria (Sl.1:3). Quem é este varão, que, por ser uma árvore planta junto a ribeiro de águas, tem a mesma estrutura do cedro mencionado na profecia de Balaão? É o varão que tem seu prazer na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite (Sl.1:2). Ser uma árvore plantada junto a ribeiro de águas, com fortes e profundas raízes que asseguram um crescimento contínuo e uma saúde tal que faz com que frutifique e frutifique no tempo certo é tão somente ter conhecimento da Palavra de Deus, é meditar noite e dia, dia e noite na Palavra do Senhor. Quer ser uma árvore desta natureza? Quer ter firmeza e saúde espiritual? Basta dedicar-se à meditação na Palavra de Deus diariamente!

- Esta é a fonte da prosperidade. Tudo que se fizer será bom, trará bem-estar se fizermos de acordo com a Palavra de Deus. Muitos têm tudo, até dinheiro em demasia, mas não têm o bem-estar. Vivem inquietos, atribulados, apesar e por causa das muitas riquezas, não tendo qualquer alegria ou contentamento verdadeiros, porque não fazem as coisas de acordo com a sã doutrina. Ser próspero é ter bem-estar em tudo o que se faz, ago muito diferente e muito melhor do que possuir bens materiais.

- No Sl.52:8, o salvo é comparado a uma “oliveira que floresce na casa de Deus”(ECA). A oliveira é uma árvore que tem cerca de 7 metros de altura, o que mostra ser também uma planta onde as raízes têm de ser profundas. Embora seu desenvolvimento seja lento, suas raízes são tão fortes que, mesmo havendo o seu corte, as raízes são capazes de produzir até cinco troncos sucessivamente, não sendo difícil que oliveiras sejam mantidas por séculos se não forem perturbadas. Temos, pois, mais uma árvore que se caracteriza pela profundidade e pela força de suas raízes. O fruto da oliveira, a azeitona, dá-nos o azeite, que é um dos símbolos do Espírito Santo. O vigor das raízes da oliveira mostra-nos, assim, que uma vida de dedicação à Palavra de Deus produz uma ação vigorosa do Espírito Santo para todos os que nos cercam. Não é à toa que a oliveira era, desde a mais remota Antigüidade, um símbolo da amizade e da paz. Para que floresçamos na casa do Senhor, é indispensável que tenhamos raízes profundas, que conheçamos a Palavra de Deus.

- Neste florescer, além de embelezarmos o ambiente onde estivermos, também exalaremos o “bom cheiro de Cristo” (II Co.2:14-16), contribuindo para o bem-estar de tantos quantos estão à nossa volta e que têm a mesma esperança. Verdade é que, por sermos prósperos, provocaremos a ira e a indignação dos que estão destinados à condenação, pois o “bom cheiro de Cristo” para eles é cheiro de condenação, é denúncia de sua lamentável situação, mas, como temos o Espírito de Deus, teremos o devido consolo e alegria, pois sabemos que o nosso bem-estar é a garantia de que nos está reservado um galardão nos céus. Aleluia!

- No Sl.92:12-15, é dito que “o justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano, plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes, proclamando: o Senhor é reto, Ele é a minha rocha e nEle não há impiedade”(ECA). Ao comparar o justo à palmeira, vemos que se tem uma árvore alta, esguia, sem ramos, com um tufo de folhas de 2 a 3 metros de comprimento a coroá-la. Embora não seja tão alta como o cedro, a palmeira também possui raízes profundas e firmes, vez que, normalmente, seu tronco é flexível, resistente a ventanias, principalmente as espécies que surgem à beira-mar. A profundidade e firmeza das raízes uma vez mais se apresentam como característica do servo de Deus, que é uma demonstração de sua prosperidade, de seu bem-estar. Nesta passagem, o salmista ressalta a circunstância da perenidade. Quem está firmado na Palavra, nem mesmo o desgaste da idade física compromete a qualidade do seu fruto espiritual. Pelo contrário, este justo sabe que está firmado na Palavra, que tem sua base na rocha que é o seu Deus e que, quando se vive a Palavra de Deus, é-se consciente de que não se pode pecar, pois Deus não tem qualquer impiedade.

- O profeta Isaías diz que as pessoas alcançadas pela mensagem do Messias seriam chamadas de “árvores de justiça”, “plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado” (Is.61:3″in fine”). Quem aceita a Cristo tem de ser “árvore de justiça” e para que assim o sejamos, faz-se preciso que sejamos “plantados pelo Senhor” e com o propósito de glorificá-lO. Ora, onde o Senhor nos planta? Já vimos no estudo destas referências bíblicas que o Senhor nos planta “junto às águas”, ou seja, em Cristo, na fonte de água viva, na rocha, na Palavra de Deus, pois, como sabemos, a água representa a Palavra do Senhor ( I Co.10:4; Ef.5:26). É este o lugar em que somos plantados, é esta a fonte da verdadeira prosperidade e não poderia ser diferente, pois, para sermos “árvores de justiça”, temos de estar junto ao “justo” (I Pe.3:18) e é conhecendo a Palavra que a praticaremos e quem é a pratica é justo, assim como Ele é justo (I Jo.3:7).

- O profeta Jeremias torna a dizer que o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor é “como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro. Não receia quando vem o calor, suas folhas são sempre verdes. No ano da sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr.17:8). Mais uma vez vemos que o salvo em Cristo Jesus cresce espiritualmente em direção ao ribeiro, ou seja, em direção à água, em direção à Palavra de Deus. A verdadeira prosperidade gera um genuíno crescimento espiritual, que é feito na Palavra do Senhor, sendo, pois, totalmente sem respaldo bíblico a tentativa de se construir uma espiritualidade à margem da Palavra de Deus, com base em “revelações”, “novas unções”, “dons espirituais” ou misticismos da mais ampla variedade, como vemos nos nossos dias. O verdadeiro salvo cresce “para o ribeiro” e, ao crescer na Palavra, no conhecimento das Escrituras, esta Palavra vai sendo confirmada com a manifestação do poder do Senhor, com sinais, maravilhas e dons espirituais (Hb.2:3).

- O profeta Ezequiel, na sua visão do rio purificador, o rio que correrá em torno do templo do Milênio, observou que, ao lado deste rio, havia árvores tanto de um lado quanto de outro, árvores que estavam à margem do rio. Esta visão, além do seu sentido literal, também nos traz uma figura do que é a comunidade que se encontra sob o domínio do Senhor, como será Israel na época milenial. A igreja da nossa dispensação, o Israel de Deus (Gl.6:16) é formado unicamente por árvores que se encontram junto às águas, por pessoas que dão prioridade à Palavra do Senhor, que nela meditam e que a cumprem dia e noite, noite e dia. Ser próspero significa pertencer a este povo, não ao grupo dos “grandes mercadores” que anseiam e anelam servir ao Anticristo.

- O profeta Oséias, ao profetizar sobre a restauração espiritual de Israel, afirmou que Israel “florescerá como o lírio e espalhará as suas raízes como o cedro do Líbano. Estender-se-ão os seus ramos, e a sua glória será como a da oliveira, o seu odor como um cedro do Líbano. Voltarão a habitar na sua sombra. Serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide, a sua memória será como o vinho do Líbano” (Os.14:6,7 ECA). Aqui também se vê como o povo salvo é sempre um povo que tem raízes que se espalham, raízes que crescem e se desenvolvem.

- Ante tantas manifestações bíblicas, podemos ainda ter alguma dúvida a respeito de que a verdadeira prosperidade tem como fonte a Palavra de Deus? Podemos nos manter acomodados com a negligência que temos tido e assistido com relação ao ensino da Palavra de Deus em nossas igrejas locais na atualidade? A única forma de termos a verdadeira prosperidade, de nos apossarmos desta promessa de Deus é voltando à Palavra de Deus, é deitando raízes na meditação das Sagradas Escrituras.